Diário do Alentejo

Agora é assobiar-lhes às botas…

19 de abril 2024 - 12:00
50 anos de Abril

Texto Aníbal Fernandes

 

Nesta semana António Spínola voltou a ser notícia na comunicação social. Isto por causa do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o ter condecorado postumamente – e a outros membros da Junta de Salvação Nacional – sem o ter publicitado, dando a parecer que o ato era para ficar em segredo.

Há 50 anos, o mesmo protagonista, por estes dias, também era notícia, e mais o havia de ser passada uma semana. A 19 de abril de 1974, a “Nota do Dia” era-lhe dedicada e ao seu livro Portugal e o Futuro.

O tema – tal como hoje – versava a emigração. Escrevia o então general: “Sem ir mais longe na análise de toda uma mentalidade em processo de evolução, o fenómeno migratório é bem o reflexo da crise actual, pois prova à evidência que a independência política deixou de ser a meta do cidadão comum.

O português, quando movido pelo aguilhão da sobrevivência, já não hesita em trocar as leis do seu País pela sujeição à lei estrangeira, prescindindo portanto dos seus direitos de cidadania em favor do bem-estar, pois temos de reconhecer que a atitude anímica mais generalizada é a tendência para procurar fora o que dentro não se acha.

A deserção psicológica da nova geração é alarmante (…). As centenas de milhares de emigrados criam seus laços nas novas comunidades, integram-se nelas, adaptam-nas, e acabam assimilados. Os esforços para conservar o traço de união à Pátria-Mãe resultam duvidosos, e muitos voltam ao fim de largos anos, mais turistas em férias do que filhos pródigos regressados, revelando nos hábitos e na forma de viver que, no fundo e de facto, já não são portugueses”, fim de citação.

E comenta o autor da crónica: “O português já não hesita: em trocar as leis do seu País... A deserção psicológica é alarmante... Os emigrantes voltam mais como turistas [do que] como filhos pródigos... Sabe-se porquê.

O povo (na sua tão perspicaz e irónica filosofia) tem para certas situações ditos argutos como este: agora é assobiar-lhes às botas... Ditos que expressam mais do que quaisquer (limitados) comentários. Por mais insinuantes, ou por mais sub-reptícios”.

 

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Na última página da edição de 13 de abril, o sempre útil “Boletim Meteorológico para a Agricultura” antevia o estado do tempo até ao dia 25: “De 15 a 22, céu geralmente pouco nublado, neblina ou nevoeiro matinal, vento fraco e temperatura média acima dos valores normais da época.

De 23 a 25 haverá céu muito nublado, períodos de chuva e aguaceiros e possibilidade de trovoadas, com neblina ou nevoeiro e vento fraco ou moderado do quadrante noroeste. A temperatura do ar será próxima dos valores normais da época”.

 

Faltam seis dias para o 25 de Abril

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