Diário do Alentejo

“A democracia e a liberdade não podem ser vistos como dados adquiridos, requerem construção e manutenção constantes”

20 de abril 2024 - 12:00
Três Perguntas a António Bota, presidente da Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo (Cimbal)

A propósito do cinquentenário do 25 de Abril de 1974 o “Diário do Alentejo” conversou com o presidente da Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo, António Boto, sobre o retrato atual do Baixo Alentejo no ano em que se comemora a efeméride da liberdade, o que ainda está por cumprir com as gentes deste território quanto aos desígnios de Abril, assim como que tipo de alicerces é preciso ter em conta para que a democracia e a liberdade não venham a claudicar, num futuro próximo neste país e, nomeadamente, nesta região.

Texto | José Serrano

 

Que retrato faz do Baixo Alentejo no ano em que se comemora o cinquentenário do 25 de Abril?

O Baixo Alentejo é uma região com memória e tradição. É marca de autenticidade, tipicidade e qualidade. São 13 municípios ricos em história, saberes e sabores, em paisagens, hinos à natureza. Falar deste território é falar de excelência, de gastronomia e tradições que são patrimónios da cultural imaterial da Humanidade. Os municípios da Cimbal são terra de oportunidades e verdadeiros encantos. É a terra de um povo que se soube moldar ao presente, sem desvirtuar os valores do passado, e que prepara o futuro, tendo como base aquilo que nos torna únicos e especiais: os nossos ativos naturais, histórico/culturais e a nossa identidade.

 

Diz a canção que “só há liberdade a sério quando houver a paz, o pão, habitação, saúde, educação…” no âmbito dos desígnios de Abril. O que falta ainda cumprir com as gentes deste território?

Muito tem vindo a ser feito pelos homens e mulheres que estiveram e estão à frente dos desígnios do País e da nossa região. No entanto, muito está por conseguir e a luta é cada vez mais injusta para com quem tenta, dia após dia, cumprir esses desígnios. A situação política internacional constrange cada vez mais a ação dos governantes. “Paz”, “pão”, “habitação”, “saúde” e “educação” têm sido palavras na ordem dos dias – infelizmente, não por bons motivos. A crise mundial que se instalou trocou a paz pela guerra e fez disparar o preço do pão e de todos os bens essenciais. A habitação, num cenário que não se avizinha fácil de contrariar, é um problema que urge resolver. O Serviço Nacional de Saúde está com falta de médicos e com doentes de sobra e nas escolas multiplicam-se as greves e as reivindicações de uma classe que luta por melhores condições. 

 

O que considera necessário para que os alicerces que sustentam a democracia e a liberdade não venham a claudicar, num futuro próximo, neste país e, nomeadamente, nesta região?

A democracia e a liberdade não podem ser vistos como dados adquiridos, requerem construção e manutenção constantes. Zelar pelos valores de Abril exige observação, reflexão e ação contínuas, de todos nós. Por um lado, é preciso que os governantes tenham noção que a economia não é o único fator de desenvolvimento de um país ou de uma região e que não basta aumentar a segurança para se conseguir estabilidade social. Por outro, é preciso aumentar o interesse, a participação e a informação da sociedade civil, como forma de recuperar a confiança no sistema democrático e de contrariar o crescimento das ideias extremistas e dos discursos populistas que têm vindo a ganhar adeptos, à escala global. Temos de promover consensos e impedir o crescimento da desinformação e da intolerância, que têm vindo a servir de rastilho para discursos de ódio e xenofobia que alimentam movimentos antidemocráticos, nomeadamente, do espectro da extrema-direita, que representam ameaças reais aos valores de Abril. 

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