Diário do Alentejo

Projeto Outeiro do Circo em destaque em Roma

14 de abril 2024 - 12:00
Investigação arqueológica encontra-se na “fase analítica”
Foto | D.R.Foto | D.R.

O projeto arqueológico Outeiro do Circo, que remete para uma investigação do povoado na Idade do Bronze, será uma das comunicações da 30.ª Reunião Anual da Associação Europeia de Arqueólogos, em Roma (Itália). A equipa apresentará o “estudo específico” de “algumas peças produzidas em pedra captada localmente ou nas proximidades” que permite compreender “as áreas de captação destes recursos” e “a mobilidade destas populações”. O encontro acontecerá de 28 a 31 de agosto.

 

Texto Ana Filipa Sousa de Sousa

 

Desde 2008 que a equipa de investigação coordenada pelo arqueólogo Miguel Serra desenvolve em Outeiro do Circo, localizado entre as freguesias de Beringel e Mombeja, no concelho de Beja, um “projeto de investigação” com vista a conhecer “o grande povoado da Idade do Bronze” com “cerca de três milhões de anos”. Após uma primeira fase de escavações arqueológicas, terminadas em 2021, o projeto encontra-se agora numa “fase analítica”, ou seja, “estudos laboratoriais dos diversos conjuntos de artefactos” recolhidos anteriormente, nomeadamente, “alguma peças de cerâmica, instrumentos em pedra e a coleção de faunas” (ossos de animais).

Miguel Serra admite ao “Diário do Alentejo” que esta fase do projeto, “mais longe dos olhos do público”, é fulcral para conhecer de forma mais pormenorizada e “completa” o povoado que têm vindo a encontrar, permitindo “traçar as suas origens e os locais de captação de alguns materiais” utilizados no seu dia a dia.

“Sabemos que estamos perante um grande povoado que seria uma espécie de grande centro regional na época que controlaria uma vasta região e que obtinham os seus recursos nas proximidades, mas também em outras zonas mais distantes, porque aparecem, ainda que muito raramente, alguns tipos de materiais que demonstram que havia contactos de longa distância. Conhecemos um pouco melhor as suas técnicas construtivas, como a construção de uma muralha através da utilização de rampas de barro cozido para dar solidez, [bem como] os fragmentos dos objetos utilizados no dia a dia destas populações e o resto de faunas que nos dá muita informação sobre a economia, os animais que ali criavam, como os processavam e como os consumiam”, revela o arqueólogo.

Ainda assim, o arqueólogo reconhece que nestes primeiros anos de escavações arqueológicas não foi possível aprofundar os conhecimentos sobre “o interior do povoado”, ou seja, a antiga zona habitada, uma vez que “foi toda destruída ao longo do tempo pela agricultura” e atualmente “subsistem poucos vestígios das construções de casas”.

É esta última componente analítica que o grupo de investigadores, liderado pela geóloga Ana Sofia Soares, irá também apresentar, de 28 a 31 de agosto, na 30.ª Reunião Anual da Associação Europeia de Arqueólogos, em Roma. Desta forma, divulgar-se-á um “estudo específico de alguns materiais líticos, ou seja, peças produzidas em pedra captada localmente ou nas proximidades, num raio de 10 quilómetros do sítio”, que permitem “traçar as suas componentes e as suas origens”, de forma a ser possível melhorar as suas áreas de captação e, consequentemente, a mobilidade desta população.

Em relação ao futuro, Miguel Serra adianta ainda que após a conclusão, prevista para este ano, desta segunda fase do projeto Outeiro do Circo, espera-se uma outra “fase de interpretação de todos os dados obtidos” e a produção de informação sobre eles para, posteriormente, serem elaborados novos artigos científicos sobre o povoado. Da mesma forma, está também previsto a apresentação e a publicação de uma monografia com a síntese dos trabalhos arqueológicos realizados entre 2008 e 2021 e entre 2022 e 2024. Paralelamente, realizar-se-ão ainda workshops dirigidos a cursos universitários de Arqueologia, a profissionais da área e a toda a comunidade local, a fim de “transmitir conhecimentos” no âmbito de “uma forte componente de educação patrimonial e de desenvolvimento das comunidades locais”.

O arqueólogo afirma ainda que “um dos grandes objetivos” da equipa de investigação passa por, futuramente, “regressar ao sítio e retomar as escavações arqueológicas no local”, para que “um dia” esta possa estar visitável e acessível ao público”.

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