Diário do Alentejo

Produção de cereais caiu 50 por cento na última década

07 de abril 2024 - 12:00
Olival continua a ser rei em Alqueva. Amendoal cresce, mas pouco
Foto | Ricardo ZambujoFoto | Ricardo Zambujo

Apesar da Estratégia Nacional para a Promoção da Produção de Cereais a tendência de queda desta cultura é geral, mas na região do Alentejo ficou reduzida a metade. Em sentido contrário, mesmo que a um ritmo menor, o olival não para de crescer, ocupando agora, no Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva (EFMA), quase do dobro da área que existia em 2017.

 

Texto Aníbal Fernandes

 

As culturas permanentes continuam a ganhar terreno face às anuais na área de influência do EFMA. O “Anuário Agrícola de Alqueva 2023”, publicado no final do mês de março, refere um aumento de cerca de 4596 hectares (ha), no primeiro caso, e de 1240 ha, no segundo, que, apesar de menor, também considera “importante”.

A área ocupada pelas culturas permanentes é agora de 94 603 ha, o que compara com os 42 837 de 1017. Já em relação às culturas permanentes a subida, no mesmo período, foi de 19 504 para, apenas 20 614.

Dentro das culturas permanentes o olival é aquela que ocupa mais espaço. Em 2022, em todo o país, estavam registados 379 565 ha, sendo que 201 298 estavam instalados no Alentejo. Em 2023, só no Alqueva, foram regados 71 035 ha, mais dois mil do que em 2022 (39 403 em 2017).

“A cultura do olival ocupa a maior área do EFMA e a sua evolução anual tem sido extraordinária, não havendo nenhuma outra cultura com resultados semelhantes. Este crescimento é atribuído ao valor do produto no mercado, o qual motiva as empresas do setor a serem extremamente ativas na busca por novas áreas e a desenvolverem rapidamente todo o processo para a instalação de novas plantações”, lê-se no anuário.

O investimento é maioritariamente nacional (60 por cento), seguido pelos espanhóis com 34 por cento.

Quanto à última campanha, a Olivum diz que foi registada “uma produção que rondou as 140 mil toneladas de azeite, o que traduz uma quebra média de 30 por cento face ao ano anterior, justificada por este ter sido um ano de contrassafra e de seca. Normalmente, a seguir a um ano recorde como foi o anterior, as árvores ficam mais pesadas pela grande produção o que acaba por diminuir a produção seguinte, sendo que no olival moderno se registou um rendimento industrial médio de 15 por cento. Os fatores climáticos como altas temperaturas na altura da floração, a escassa pluviosidade e de quantidade irregular também influenciaram uma quebra mais acentuada, em quantidade, nos olivais tradicionais, a rondar os 50 por cento”.

 

Cereais em queda

 

Segundo dados de 2022 do INE, em Portugal “os cereais ocupam cerca de 197 mil hectares, sendo que, na última década esta área decresceu cerca de 117 mil hectares. Na região do Alentejo estão semeados cerca de 77 mil hectares, tendo diminuído 76 mil hectares em relação a 2012.

Os cereais de outono-inverno, são de baixa e irregular produtividade, sendo quase na totalidade utilizados pela indústria de produção de rações e para autoconsumo, nas explorações agropecuárias.

Mesmo assim, “a taxa de cobertura da produção nacional, para as necessidades da indústria de rações e alimentar, em Portugal, é cerca de 20,1 por cento, o que obriga a importar grande parte da matéria-prima e torna as indústrias vulneráveis à volatilidade de preços do mercado internacional, repercutindo-se essa volatilidade na constante alteração do preço das rações”.

No perímetro do EFMA, as terras que eram de sequeiro e onde eram cultivados os cereais foram ocupadas por culturas permanentes, o que contribuiu para a redução das áreas de cereais. Apenas o milho, com o regadio, “continua a manter alguma importância na região”, sendo a cultura anual mais importante.

Segundo o anuário publicado pela Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva (EDIA), em 2023 a área de milho aumentou cerca de 5 por cento, em relação ao ano anterior, com mais cerca de 300 ha. No que diz respeito às variedades de milho, os agricultores em Alqueva, têm procurado diversificar o que produzem, nomeadamente, com variedades para “pipoca e para baby food”, uma estratégia que permite aos agricultores “obter melhores rentabilidades, uma vez que, estes produtos têm preços normalmente mais elevadas do que o milho para rações”.

José Pereira Palha, dirigente da Associação Nacional de Produtores de Cereais, diz que “este ano, o novo Pepac foi aplicado, e onde se incluía uma ajuda ligada a produção de cereais”, mas, “ao contrário da expectativa, não teve qualquer efeito no aumento de área, elevando ainda mais a nossa dependência das importações. Dependência, para a qual a produção tem vindo a alertar a tutela á vários anos, tomou este ano uma proporção ainda superior”, acusa.

Recorde-se que em 2018, “com o intuito de dinamizar as culturas cerealíferas em todo o território nacional, foi aprovada pelo Governo, a Estratégia Nacional para a Promoção da Produção de Cereais”, cujo objetivo era atingir, num horizonte de cinco anos, “um grau de autoaprovisionamento em cereais de 38 por cento”.

 

Amendoal cresce, mas pouco

 

A cultura do amendoal no perímetro de rega de Alqueva é responsável por cerca de um terço da área nacional dedicada a esta cultura, 23 859 ha de cerca de 64 000 no total nacional. No Alqueva a área aumentou de 23 588 para 23 859 hectares, representando um crescimento de apenas cerca de 1,15 por cento em relação ao ano anterior. Em 2027 a área ocupada era apenas de 5703 ha.

No entanto, a EDIA constata que “é visível uma diminuição do interesse dos agricultores e investidores na cultura da amêndoa”, devido a vários fatores: flutuações nos preços da matéria-prima nos mercados internacionais; alterações nas condições climáticas; adaptabilidade da cultura à região; condução da cultura.

O investimento no amendoal está repartido por três grande players: Portugal (40 por cento), Espanha (33) e Estados Unidos da América (12).

Segundo a Portugal Nuts, o ano caracterizou-se por “reduzida precipitação” o que levou “a que as amêndoas tenham sido mais pequenas e com menor peso específico”. Mesmo assim, “registou-se uma boa qualidade da amêndoa, por comparação com o resto da Península Ibérica, com o miolo de amêndoa bem formado e são”. No entanto, “as produtividades, em alguns casos, ficaram abaixo do esperado”.Os produtores viram as suas margens “mais comprimidas, devido a preços historicamente baixos e a um ano em que as limitações acima enunciadas limitaram o potencial produtivo”, conclui a Portugal Nuts.

 

Vinha

 

A área de vinha, também aumentou exponencialmente nos primeiros anos de funcionamento do EFMA, à semelhança da cultura do olival, mas em menor escala.

Esta era uma cultura já existente na região, mas “com a entrada em funcionamento dos perímetros de rega de Alqueva, os agricultores simplesmente conectaram os seus sistemas à rede da EDIA. Além disso, registou-se um aumento de novas plantações de vinha, impulsionado pela existência do programa VITIS”.

Segundo o anuário, este programa “proporcionou incentivos e apoio financeiro aos agricultores”, tendo a vinha aumentado a sua área na região do EFMA. Em 2023 a área ocupada era de 5997 ha, o que compara com os 5874 de 2022 e os 3949 de 2017.

 

Indústria acompanha agricultura

 

O desenvolvimento agrícola na área de influência de Alqueva leva a que as indústrias relacionadas com o setor comecem “a mostrar interesse na nossa região”. Para além dos lagares e adegas “já existem alguns investimentos pontuais, que, embora não sejam de grande dimensão, indicam um crescente interesse”. Prova disso são a fábrica de adubos, com investimento espanhol, em Beja; unidades de frio, em Serpa e em Beja; fábricas de descasque de frutos secos, em Ferreira do Alentejo, Beja, Viana do Alentejo, Torre de Coelheiros e Azaruja; secador de milho no parque industrial, em Beja; a abertura de diversas delegações de empresas de comercialização de maquinaria agrícola, sistemas de rega e produtos químicos; e fabriquetas de produtos regionais.

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