Diário do Alentejo

O Golpe das Caldas

22 de março 2024 -
50 anos de Abril

Texto Aníbal Fernandes

 

Na edição de 18 de março de 1974, escondida na última página, uma notícia com o título “Tentativa malograda de rebelião militar” dava conta do movimento que ficou conhecido como o Golpe das Caldas.Na capa, discretamente, a uma coluna, por baixo da manchete que versava a regulamentação dos contratos de trabalho na imprensa, aparecia uma foto de António de Spínola com uma pequena legenda que fazia referência ao recente lançamento do seu livro Portugal e o Futuro.

É legítimo pensar que a Censura não permitiu destacar a notícia na primeira página e – tendo em conta que o evento tinha ocorrido no dia 16 –, também não terá permitido que a notícia saísse na véspera, dia 17, sem que fosse enquadrada por um comunicado oficial da Secretaria de Estado da Informação e Turismo (SEIT), organismo herdeiro, desde 1968, do Secretariado Nacional de Informação.

Assim, dois dias depois do levantamento militar o “Diário do Alentejo” imprimia a seguinte notícia: “Na madrugada de anteontem um grupo de oficiais do R.I. 5, aquartelado das Caldas da Rainha, capitaneado por oficiais de outras unidades ‘que nele se introduziram’, segundo a nota oficiosa divulgada, revoltaram-se ‘prendendo o comandante, o segundo-comandante e três majores e fazendo em seguida sair uma companhia autotransportada que tomou a direcção de Lisboa.

Para interceptar a marcha da coluna vinda das Caldas foram imediatamente colocadas à entrada de Lisboa forças de Artilharia 1, de Cavalaria 7 e da G.N.R. e ainda um destacamento móvel da P.S.P.Ainda segundo a informação da S.E.I.T., ao chegar perto do local onde estas forças estavam dispostas e verificando que na cidade não tinha qualquer apoio, a coluna rebelde inverteu a marcha e regressou ao quartel das Caldas da Rainha, que foi imediatamente cercado por unidade da Região Militar de Tomar.Os oficias só ao cabo de algumas horas e após avisados de que o quartel seria bombardeado, acederam a render-se, efectuando depois cerca de 200 prisões”.

Nos dias seguintes, nenhum desenvolvimento foi relatado, nem qualquer comentário foi publicado nas páginas do “Diário do Alentejo”, até que, a 21 de março, numa notícia breve na última página, se dava conta de que “o general António de Spínola, entrevistado pela Rádiotelevisão francesa, declarou não considerar uma obra política o seu livro Portugal e o Futuro” e acrescentava “não ter divergências fundamentais de opinião relativamente à política do seu País”.

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Nessa semana, na secção diária “Zunzuns das Portas de Mértola” – a que havemos de voltar –, registava-se “que algumas pessoas [afirmavam] ter visto numa das últimas noites a sobrevoar o céu de Beja o que se supõe ser um disco voador”. Ele há coisas…

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