Diário do Alentejo

Perspetivas inquietantes

16 de fevereiro 2024 - 16:00
50 anos de Abril

A crise do petróleo – que persistia – “fez agravar as previsões de especialistas acerca de um ano de extremas dificuldades económicas, segundo as quais haverá uma autêntica recessão, susceptível de arrastar todo o mundo desenvolvido para um beco de difícil saída”.Estamos na segunda semana de fevereiro de 1974 e o aumento do preço da gasolina é generalizado em muitos países, “alguns dos quais decidiram impor limites de velocidade tanto nas estradas como nas auto-estradas”. Nos países integrantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) a subida dos preços ultrapassou os 10 por cento.Por cá, por Portugal, pelo Alentejo, o “Diário do Alentejo” dava conta de um relatório do Banco Totta & Açores onde se lê que “estabelecer previsões para o ano de 1974 constitui um jogo arriscado. Não é difícil compreender que o futuro se apresenta cheio de incógnitas, porque o elemento político entra fortemente na tomada de decisões”.“É provável que haja alguma dificuldade no crescimento quantitativo das exportações: é quase certo que não se manterá em 1974 o ritmo de expansão dos primeiros nove meses de 1973”, vaticinam os banqueiros, acrescentando que se espera “uma ligeira quebra no crescimento do PIB”.Isto porque “a nossa economia não é independente da dos países nossos fornecedores e clientes. Se o crescimento destas economias abrandar, é de crer que o nosso crescimento económico se ressinta”. Podia ter sido escrito ontem… Também os impostos, há 50 anos, eram tema. Num artigo de opinião, Rogério Ferreira questionava-se: “Será a tributação demasiado modesta em Portugal? Será conveniente? Será superior ou inferior à dos demais países? Respostas a interrogações como estas são úteis às necessárias tomadas de posição sobre o assunto que hoje assume interesse especial, atentando em que o Governo já anunciou a realização de estudos de revisão da matéria fiscal que visam, além do mais, o estabelecimento de um imposto único sobre os rendimentos”, coisa que alguns agora voltam a propor… “É de concluir que os nossos capitalistas – os nossos ricos – pagam impostos exagerados? Não! Uma coisa são as percentagens calculadas respeitantes à totalidade dos impostos e outra coisa o que se efectivamente se paga. Ora, os esquemas legais normais, são, entre nós, a excepção, sendo frequentes os esquemas especiais – quando não a evasão”, denunciava o articulista, revelando ainda que, “em Portugal, declaram rendimentos anuais superiores a três mil contos [15 mil euros] por ano apenas quarenta pessoas. É óbvio que não são tão poucas as pessoas que anualmente ganham isso. Se assim fosse, como explicar os acréscimos das fortunas existentes, algumas recentes, (o Totobola com 13 resultados certos bafeja anualmente poucas pessoas) (…)”.Na mesma semana, em Lisboa, a Direção-Geral de Segurança [DGS – a PIDE com um novo nome] “instruiu um novo processo contra o dr. Mário Soares, tendo por base uma entrevista concedida ao semanário francês ‘L’Express’. As declarações de Mário Soares são consideradas ‘susceptíveis de pôr em causa o bom nome e o prestígio de Portugal’. Sujeito a mandato de captura, foi, no entanto, admitida a prestação de uma caução de 50 000$00”.Aníbal Fernandes

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