Três Perguntas a Teresa Pinto Correia, professora catedrática na Universidade de Évora e diretora do MED – Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento
A propósito do recente projeto, liderado pela Universidade de Évora, que criará um laboratório vivo, em parcelas de montado, em várias zonas do Alentejo, que permitirá testar soluções para preservar este ecossistema o “Diário do Alentejo” conversou com a diretora do MED – Instituto Mediterrânio para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento, Teresa Pinto Correia, sobre os objetivos desta iniciativa, o tipo de valorização do montado na região, bem como quais as medidas imprescindíveis de serem tomadas, no Alentejo, para um maior revigoramento das florestas de sobro e azinho.
Texto | José Serrano
Parcelas de montado, em várias zonas do Alentejo, vão funcionar como laboratório vivo para testar soluções que permitam preservar este ecossistema, numa iniciativa liderada pela Universidade de Évora. O que se pretende, fundamentalmente, com esta iniciativa?
Com estas parcelas pretendemos assegurar três objetivos específicos: que a investigação possa ser feita em parcelas experimentais de longa duração, o que é fundamental para conseguir resultados mais relevantes, pois muitos dos processos relacionados com solo ou a regeneração florestal, ou mesmo a biodiversidade, não são passíveis de ser avaliados em períodos curtos de dois ou três anos, como é comum em muitos projetos de investigação com financiamentos limitados no tempo; que estas parcelas, distribuídas por todo o Alentejo, cobrem, assim, uma parte da grande variedade de condições edafoclimáticas e de gestão da região; que a investigação a ser desenhada e implementada nestas parcelas experimentais considera as condições das explorações como unidades produtivas, com estratégias de gestão baseadas num modelo de negócio, como elas são no mundo real (por oposição a parcelas experimentais, em perímetros dedicados só a investigação). Pretende-se, ainda, como objetivo geral deste laboratório vivo, desenvolver investigação, respondendo a questões que são formuladas pelo conjunto de entidades que fazem parte da parceria, em vez de serem formuladas só pelos investigadores.
Considera que o montado tem sido convenientemente preservado e valorizado na região?
Os nossos dados de análise espacial mostram que a área de montado perde cerca de 5000 hectares por ano, por perda de densidade de árvores no coberto arbóreo, abertura de clareiras e, assim, progressiva redução da área. Deste modo, não podemos dizer que o montado tem sido valorizado e preservado. Há muitos produtores que praticam uma gestão nesse sentido, mas nem todos o conseguem fazer. E, por um conjunto de fatores, sobretudo, relacionado com práticas de gestão desadequadas, ao longo do tempo, e degradação dos solos, o montado encontra-se em declínio.
Quais as iniciativas imprescindíveis de serem tomadas, no Alentejo, para um maior revigoramento das florestas de sobro e azinho?
É necessário existir uma muito maior incorporação de conhecimento na gestão das explorações. Isto pode ser feito dando mais formação aos produtores, mas, sobretudo, através da constituição de mais estruturas de apoio e aconselhamento, próximas de e acessíveis a todos os produtores. E são necessárias políticas públicas integradas e focadas na preservação deste sistema no seu todo e não sectorialmente, considerando só uma das componentes do montado, em cada instrumento de política.