Diário do Alentejo

“É nossa intenção pôr a descoberto o reportório mais ‘escondido’, divulgando-o nos nossos concertos”

23 de dezembro 2023 - 12:00
Foto | D.R.Foto | D.R.

Três Perguntas a José Emídio, músico e membro fundador do grupo Adiafa

 

A propósito do recente disco “Adiafa no Natal dos Reis”, do grupo de música popular de raiz tradicional Adiafa, o “Diário do Alentejo” conversou com um dos integrantes, José Emídio, sobre este novo lançamento, bem como a importância do cancioneiro popular da região no âmbito das canções natalícias e da necessidade de se incluir estas modas de cariz religioso no reportório do programa de ensino do cante nas escolas como forma de preservar esta memória.

 

Texto | José Serrano

 

“Adiafa no Natal dos Reis” é o título do mais recente disco do grupo. Como nos apresenta este trabalho? “Adiafa no Natal dos Reis” é o segundo álbum que o grupo, a comemorar 25 anos de existência, apresenta neste ano e baseia-se em modas do cante ao Menino e do cante dos Reis, extraídas do cancioneiro tradicional alentejano. O objetivo principal, na escolha do alinhamento para este CD, passa pela recuperação do espólio patrimonial da região, nomeadamente, no cante da época natalícia e dos Reis, espólio esse pouco divulgado e longe de alcançar o mediatismo de algumas modas que “andam na boca” de toda a gente. É nossa intenção pôr a descoberto o reportório mais “escondido”, divulgando-o nos nossos concertos e nas ações de promoção dedicadas a este nosso trabalho.

Qual a importância do cancioneiro popular da região no âmbito das canções natalícias?Todos os álbuns do grupo Adiafa vão beber ao universo do cancioneiro. Também este não foge à regra, dedicado, na sua totalidade, a modas de cariz religioso e em louvor ao nascimento de Jesus Cristo. Cantar modas desta franja do cancioneiro, que os Adiafa têm vindo a incluir em álbuns anteriores, é uma tradição muito antiga, que é necessário continuar a preservar. O cancioneiro alentejano comporta um grande número de canções natalícias – é, por isso, importante que se proceda à sua recolha, para, depois, se poderem interpretar com o cuidado que as mesmas, obviamente, merecem.

Considera que seria importante a inclusão destas modas de cariz religioso no reportório do programa de ensino do cante nas escolas de forma a melhor preservar esta memória?Penso que é de extrema importância trazer à tona este tipo de modas, pois são apenas cantadas nesta altura do ano, podendo, por isso, cair no esquecimento com mais facilidade. Antigamente, os grupos corais tinham esta tradição mais enraizada. Agora, infelizmente, nota-se que essa tradição se tem vindo a perder. Do cante alentejano constam vários tipos de modas, dos quais as modas religiosas – cante ao Menino e cante dos Reis – fazem parte. Estas cantigas alentejanas cantavam-se, principalmente, nas igrejas e, por conseguinte, quem as frequentava tinha um maior acesso ao conhecimento das mesmas. Portanto, este tipo de cante não deve ser descurado do programa do ensino de cante nas escolas, para que as crianças as aprendam e as incluam no seu reportório. 

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