Diário do Alentejo

Celebrar os 50 anos da democracia

21 de abril 2023 - 10:30
Até 2026 o Ministério da Cultura está a incentivar os artistas a celebrarem os 50 anos do 25 de Abril
Fotos | Ricardo ZambujoFotos | Ricardo Zambujo

Apoiadas pelo surgimento cada vez mais frequente de partidos de extrema-direita e pela indecisão com que a sociedade se depara à boca das urnas, quatro companhias de teatro juntaram-se numa cocriação para apresentar “Revolution (Título Provisório)”, um teatro musical que pretende fazer pensar sobre a atual situação política do País.

 

Texto Ana Filipa Sousa de Sousa

 

No palco repleto de tons vermelhos, que relembram as ruas de Lisboa na manhã do dia 24 de Abril de 1974, os 16 atores entram e saem em frenesim. Em cena, celebram os 50 anos da “Democracia” sem se aperceberem que, atrás das cortinas, espreita o “Estado Novo” que, a passos largos, ganha cada vez mais voz.

 

Decerto, nenhum dos dois parece ter grande relevância para a festa, mas é entre uma distração e outra que o poder democrático vai perdendo força.

 

Segundo Gonçalo Guerreiro, encenador e cenógrafo de “Revolution (Título Provisório)”, este é o mote que faz desenrolar a peça teatral. Resultado de uma cocriação entre as companhias de teatro ASTA, da Covilhã, Baal17, de Serpa, Orfeu AC, de Águeda, e Teatrão, de Coimbra, o objetivo principal passa por “agitar um bocadinho a consciência” e colocar em cima da mesa a necessidade de se olhar com atenção para o surgimento de partidos de extrema-direita e a força que estes têm ganho, nos últimos anos, em Portugal.

 

“Nós vivemos tempos de uma tensão democrática muito grande. Há umas ideias bastante duras de extrema-direita que estão a vingar e cada vez mais pessoas a votar em ideais racistas, sexistas, machistas e pouco solidários. Então dá a sensação que a nossa revolução foi um bocadinho provisória e que está em riscos de acabar”, começa por explicar, ao “Diário do Alentejo”, o encenador.

 

A peça de teatro musical, que estreia hoje, dia 21, às 21:30 horas, no Cineteatro Municipal de Serpa, não quer “dar respostas” nem oferecer soluções partidárias, mas sim “por as pessoas a pensar” e “meter estas questões em cima da mesa de como nós, eleitores e cidadãos, não estamos a fazer tudo aquilo que deveríamos fazer” para “honrar e dar dignidade a toda a luta que os nossos pais e avós tiveram para que nós pudéssemos crescer num país livre, ao contrário daquilo que lhes aconteceu a eles”.

 

Multimédia0Foto | Gonçalo Guerreiro, encenador e cenógrafo de "Revolution (Título Provisório)"

 

Durante todo o espetáculo, que une o teatro, a dança e a música, questiona-se o público se a revolução hoje em dia é necessária ou não, se esta fez tudo o que tinha a fazer, se o 25 de Abril fez tudo o que podia, se esta democracia com meio século é definitiva ou se será provisória e sobre o que será realmente importante fazer hoje para a sociedade funcionar.

 

As respostas, de acordo com Gonçalo Guerreio, ficam ao critério de cada um que assiste, com mais ou menos certezas.

 

“Não creio que nenhum de nós esteja realmente ainda convicto e satisfeito com aquele partido ou com aquela zona politica em que costumamos votar, por isso é que há pessoas que estão a tentar um voto completamente oposto. Portanto, a peça surge para agitar um bocadinho a consciência das pessoas, sem dar respostas e sem assumir um dogma político, porque o próprio espetáculo diz isso: ‘O que é que eu faço agora? Em quem é que eu voto?’”, realça.

 

Integrada no “Programa das Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril”, do Ministério da Cultura, esta é uma das cocriações apoiadas para, até 2026, “celebrar a data e os seus múltiplos significados no século XXI”.

 

“Os 50 anos do 25 de Abril é um acontecimento tão importante para o País que não podia ser celebrado só num ano, então o Ministério da Cultura incentivou os artistas a criarem sobre este marco ao longo dos próximos anos”, revela.

 

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A RESPONSABILIDADE SOCIAL DO TEATRO

A juntar à digressão de estreia de “Revolution (Título Provisório)”, a cocriação promove também um ciclo de conversas junto dos alunos do secundário, assim como de conferências sob o tema “Democracia: um conceito em (r)evolução”. Hoje, antes da sessão, decorre no cineteatro a palestra “Desenvolvimento e democracia”, em parceria com a Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Beja, às 18:00 horas.

 

As próximas apresentações estão agendadas para Castro Verde (dia 23), Coimbra (dias 28, 29 e 30 de abril e 1 de maio) e Covilhã (dias 5 e 6 de maio).

 

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