Diário do Alentejo

Baixo Alentejo tem um novo guia de aves

04 de março 2023 - 11:00
Dinis Cortes é o autor da obra que regista o património ornitológico da região
Foto | Ricardo ZambujoFoto | Ricardo Zambujo

Guia de Aves do Baixo Alentejo é o título do livro de Dinis Cortes, apresentado em Lisboa. Um compêndio para “os apaixonados pelas aves” acerca da fauna avícola do território, que se constitui, sublinha, como um “valiosíssimo património natural”.

 

O autor acentua as potencialidades turísticas da região, no que diz respeito à atividade de observação de aves, cujo percurso se confronta “com atividades de lucro imediato”, provenientes de “indústrias sujas”, geradoras de gases poluentes e de “fumo negro”.

 

Texto José Serrano

 

Foi apresentado no passado dia 2, quinta-feira, na Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), o Guia de Aves do Baixo Alentejo, livro da autoria de Dinis Cortes, promovido e coeditado pela Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo (Cimbal) e edição da Wildscape.pt. A obra, descrita pelo autor como um “importante documento” que reflete o “aqui e agora” ornitológico da região, destina-se “aos apaixonados pelas aves” que pretendem ampliar os conhecimentos sobre a sua diversidade, mas também apreender os “truques” necessários à sua identificação.

 

Assim, este livro, cuja ilustração de capa é da autoria de Susa Monteiro, ainda que facilmente transportável no bolso de um casaco, implicou “um enorme trabalho”, de “viagens dedicadas e centenas de horas de campo”, e no qual “o rigor, a qualidade técnica e científica” se revelam fundamentais.

 

“Todas as fotos que representam espécies foram escolhidas, ainda que com preocupação artística, por representarem a ave de forma a não deixar dúvidas quanto a detalhes importantes para a sua identificação visual”, acentua o autor.

 

Nas fichas individuais de cada pássaro são ainda mencionadas características, “como a atitude ou o canto”, igualmente diferenciadoras. Para além do registo fotográfico, na maioria da autoria de Dinis Cortes, mas contando também com as imagens de outros fotógrafos (José Luís Barros, Joaquim Antunes, Luís Rodrigues e Tiago Guerreiro), o guia apresenta várias ilustrações científicas, assinadas por Paulo Alves, sendo que a sua supervisão técnica, mapas de distribuição e tradução são de Gonçalo Elias, “uma referência na ornitologia portuguesa”, transmite o autor.

 

Autor que classifica o Baixo Alentejo como “um nicho de qualidade ornitológica indiscutível, relevante”, apesar das “inúmeras ameaças”, e a sua fauna avícola um “valiosíssimo património natural”.

 

A esse respeito, dá como exemplos de espécies que podem ser encontradas na região, o cortiçol- de-barriga-preta (Pterocles orientalis), o sisão (Tetrax tetrax), a abetarda (Otis tarda), o grou (Grus grus), o pisco-de-peito-azul (Luscinia svecica), a águia-imperial (Aquila adalberti) ou o abutre- preto (Aegypius monachus), que entusiasmam “observadores de todo o mundo”.

 

De entre as várias espécies que a região apresenta, a mais difícil de ser fotografada é, para Dinis Cortes, a galinhola (Scolopax rusticola): “Que eu saiba, não há fotografias, com qualidade, de galinholas em estado selvagem, em Portugal”. Uma dificuldade que se relaciona com os “hábitos crepusculares” da espécie, “muito esquiva” e fotograficamente inabordável – “já vi muitas, levantadas à minha frente, mas nenhuma, em quase 50 anos de ‘campo’, com possibilidade de registo fotográfico”.

 

Relativamente à capacidade da ornitologia se poder vir a assumir, no território, como uma importante atividade económica junto das populações das áreas rurais, Dinis Cortes esclarece: “Em alguns locais do País já é uma importante atividade. No mês de outubro, na ilha do Corvo [Açores] toda a hotelaria está reservadapara ornitólogos, que vêm de todas as partes do mundo para ver aves marinhas. Já existem em Portugal, um pouco por todo o lado, zonas de observação, percursos ornitológicos, abrigos fotográficos e outras estruturas. Mas para atingirmos o nível dos países do norte da Europa, da Inglaterra, da Alemanha, dos Estados Unidos da América ou do Canadá, onde existemmilhares de observadores de aves que dinamizam o comércio local, a hotelaria e outros recursos turísticos, ainda teremos que palmilharum difícil caminho”.

 

Um percurso, “gerador de atividades turísticas ‘limpas’” que, sublinha Dinis Cortes, “se confronta com atividades de lucro imediato”, tais como “algumas das novas formas de agricultura, a proliferação de ‘parques fotovoltaicos extensivos’ e outras ameaças,que se sobrepõem às inevitáveis alterações climáticas que estamos a sofrer e, imprudentemente, a acelerar, com as emissões de gases poluentes provenientes das indústrias sujas. Que emitem fumo negro, um pouco por todo este território do Baixo Alentejo”.

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