O final de janeiro foi o início de um novo grupo coral infantil na região. Com 64 crianças inscritas, resultante do trabalho feito nas escolas do concelho nas atividades de enriquecimento curricular e oficinas de cante, o projeto assume agora, formalmente, a forma de Grupo Coral Infantil do Concelho de Ourique, com estreia marcada para a Feira do Porco Alentejano.
Texto Marco Monteiro Cândido
30 de janeiro de 2023. É esta a data que marca o arranque do mais recente grupo coral infantil do distrito, neste caso em Ourique, com a realização do seu primeiro ensaio. Nem o facto de ser início de semana, no final de um dia de aulas, desmotivou as cerca de 60 crianças que compareceram ao primeiro ensaio do grupo que agora dá os primeiros passos.
Nem dos pais e encarregados de educação, ficando, muitos deles, a assistir as primeiras modas entoadas pelo grupo no Centro de Convívio de Ourique: “Laranja da China” e “Castelo de Beja”. Uma sala cheia de crianças que mais parecia ser noutra região que não Baixo Alentejo, onde o número de crianças vai sendo cada vez menor.
A ideia de arrancar com o projeto surgiu na sequência da promoção do cante alentejano nas escolas do concelho durante alguns anos, num primeiro momento como atividade de enriquecimento curricular, depois como oficina de cante alentejano.
“Depois de algumas participações em eventos públicos, como, por exemplo, o encontro intergeracional entre as crianças e o grupo Coral Alma Alentejana ou a participação num dos programas de Natal da RTP1, decidimos lançar o desafio ao professor José Diogo Bento e efetivar esta formação, o Grupo Coral Infantil do Concelho de Ourique”.
Para o vice-presidente da Câmara Municipal de Ourique, Pedro Camacho, “a formação de um grupo coral de cante alentejano representará, em qualquer concelho, um ato de valorização das nossas raízes, das nossas tradições e do nosso património, hoje classificado como Património Imaterial e Cultural da Humanidade”. Juntando essa vertente a uma “iniciativa assumida” pelas crianças concelho, essa valorização assume “maior relevância”.
José Diogo Bento, natural de Panóias, freguesia do concelho de Ourique, professor de cante alentejano, mas também membro integrante de vários grupos e executante da viola campaniça, assume, agora, a responsabilidade de ensaiar os mais novos.
“Este é um sinal de esperança, é um sinal de que existe cante no nosso concelho, que existe algum trabalho nos últimos anos nas escolas e é um fruto desse trabalho. Era uma questão de tempo até se criar este grupo, porque havia muita matéria para se trabalhar no concelho”.
Para o agora ensaiador, o surgimento deste grupo é algo especial, uma vez que, ele próprio, começou o seu caminho no grupo que existiu, em tempos, no concelho de Ourique. “Com três anos comecei num grupo coral infantil que, na altura, o meu pai criou em Panóias, nos finais do anos 90. Também já houve um grupo no concelho até há bem pouco tempo, Os Ceifeirinhos, da Aldeia de Palheiros, e haver mais um grupo não me causa espanto nenhum porque existe matéria, existe cante, existe paixão pelas nossas tradições e existe vontade de aprender. E assim começam as coisas”.
“Hoje foram lançadas as sementes que perpetuarão, em futuras gerações, a tradição do cante alentejano”. É assim que Pedro Camacho encara aquele que foi o primeiro ensaio do novo grupo, com expectativas em torno do futuro do mesmo, fruto da adesão de 64 crianças logo no primeiro ensaio.
“O facto de ter havido voluntariamente uma adesão expressiva em eventos públicos ocasionais, no âmbito da oficina do cante nas escolas, levou-nos a acreditar que teríamos uma adesão bastante significativa. No entanto, tendo registado 64 inscritos, superou todas as expectativas. Ficámos muito contentes que as crianças tenham gosto em participar nesta iniciativa e que os pais e encarregados de educação a valorizem também”.
Com cerca de dois meses de ensaios ainda pela frente, a estreia oficial do Grupo Coral Infantil de Ourique ficou marcada logo à partida: na edição deste ano da Feira do Porco Alentejano, que decorrerá entre 24 e 26 de março. Para o vice-presidente da autarquia, nem faria sentido que fosse de outra forma.
“Acreditamos que oferecer-lhes o palco e a montra turística e de valorização cultural e gastronómica que é hoje a Feira do Porco Alentejano, um dos grandes eventos do nosso concelho, é também um ato de lhes incutir responsabilidade e que, certamente, lhes dará competências e outras mais-valias de personalidade no futuro”.
Quanto ao futuro, muito para além da estreia do grupo, é motivo de esperança para José Diogo Bento. “Acho que poderemos ser uma referência para outros concelhos onde também haja cante nas escolas, e um incentivo para que haja continuidade no trabalho e vontade, quem sabe, para formar grupos corais infantis na região”.