Diário do Alentejo

"Atualmente os valores são muito baixos, face aos riscos e custos diretos"

27 de janeiro 2023 - 09:00
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Três Perguntas a Rui Nobre e José Das Dores, Tecnicos Superiores na Escola Superior Agrária de Beja (ESAB)

 

Texto José Serrano

 

“Apicultura: uma atividade económica com forte impacto na biodiversidade” foi o tema do debate, que decorreu, recentemente, na ESAB. Quais as principais apreciações transmitidas?

Foi apresentada uma caracterização técnica e económica do setor, a nível nacional e europeu, e foi colocada em evidência a importância dos polinizadores do ponto de vista de segurança alimentar e suporte fundamental da biodiversidade. Foi referido o declínio acentuado de polinizadores selvagens (abelhas, borboletas e outros), bem como outras causas que têm afetado a evolução da apicultura. Foi evidenciado a importância da Apis mellifera (abelha do mel) – cerca de 80 por cento da polinização das culturas que dependem de insetos é realizada por abelhas melíferas. Foram destacados o fraco apoio nacional e da União Europeia (UE), que permitam premiar o serviço ambiental das abelhas, e a inexistência de um mecanismo de defesa do mercado do mel.

 

O incremento das monoculturas intensivas, no Baixo Alentejo, tem tido implicações negativas na apicultura?

A área ocupada com culturas intensivas e superintensivas é diminuta, face à área total da região. A destruição de habitats em terrenos marginais, anteriormente ocupados com matos de espécies nativas, por força de políticas agrícolas europeias, tem muitas mais implicações negativas. A área ocupada com amendoeiras na zona do Alqueva está próxima dos 20 000 hectares. A cultura necessita de polinizadores, para que ocorra a fecundação das flores e a produção de frutos. Em muitos centros de produção de amêndoa, como na Califórnia e na Austrália, o valor pago por colmeia, para realizar esse serviço, varia entre 150 e 200 dólares, sendo necessárias cinco colmeias por hectare, durante cinco semanas. Estabelecendo uma correspondência com a área de amendoeiras existente no Alentejo, podemos dizer que irão ser necessárias 100 000 colmeias, para realizar o serviço de polinização. Este facto pode constituir um bom estímulo à criação de abelhas. O impacto no setor apícola nacional, decorrente desta nova realidade, só registará uma evolução positiva se os valores pagos por colmeia, pelos serviços de polinização, forem justos. Atualmente os valores são muito baixos, face aos riscos e custos diretos.

 

Que sugestões dariam a quem exerce a atividade apícola?

Resiliência será a palavra-chave. A ausência de apoios diretos aos apicultores, pelos seus serviços ambientais (ecossistémicos), tem pautado todos os quadros comunitários. A UE necessita de importar 30 por cento do mel consumido, particularmente, da China e da Ucrânia, tonando-se o segundo maior importador mundial. A inexistência de uma política de promoção e certificação, relativamente à origem do mel, reduzem a competitividade e afetam a evolução positiva do setor. A procura pelos serviços de polinização para algumas culturas, como a da amêndoa, poderão ser um estímulo para rentabilizar o setor, com inúmeras vantagens ambientais e de estratégia alimentar.

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