Diário do Alentejo

"É preciso desmistificar algumas ideias erradas e altamente perigosas quanto ao impactos da pecuária extensiva sobre o ambiente e o clima"

09 de dezembro 2022 - 13:00
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Três Perguntas a Rui Garrido, Presidente da ACOS - Associação de Agricultores do Sul

 

Texto José Serrano

 

Decorreu, em Cáceres (Espanha), nos dias 1 e 2 de dezembro, o III Congresso Luso-Espanhol de Pecuária Extensiva, iniciativa em que a ACOS - Associação de Agricultores do Sul é parceira, na organização. Quais as principais reflexões que este encontro ibérico proporcionou?

Uma das reflexões saídas do congresso é que é preciso desmistificar algumas ideias erradas e altamente perigosas que se estão a propagar na sociedade, em geral, nomeadamente, quanto ao consumo de carne e aos impactos da pecuária extensiva sobre o ambiente e o clima. Por outro lado, foi consensual a necessidade de trabalhar em conjunto, em união de esforços, com partilha de soluções, na procura de respostas ao nível de políticas agrícolas que garantam a sustentabilidade da pecuária extensiva, na Península Ibérica.

 

Como classifica a importância da articulação ibérica, para o futuro da pecuária extensiva, na península?

É fundamental sabermos conciliar e reforçar o que nos une. Embora com algumas diferenças entre os dois países, nas abordagens nacionais à Política Agrícola Comum, são muito grandes as semelhanças, no que diz respeito aos processos produtivos, ao clima e aos desafios face às alterações climáticas, nomeadamente as secas que afetam, particularmente, as regiões do sul. O sistema agrossilvopastoril do montado/dehesa, e a sua intrínseca articulação e simbiose com a pecuária extensiva, é um património único em toda a Europa, com as mesmas potencialidades, os mesmos problemas e desafios idênticos, à escala ibérica. É fundamental conjugar esforços, como forma de atenuar a falta de apoios políticos. Este III Congresso Luso-Espanhol de Pecuária Extensiva é um exemplo do que pode ser feito em conjunto, refletindo e procurando soluções que vão ao encontro da nossa realidade.

 

Quais os principais desafios que os produtores pecuários, do Alentejo, terão pela frente, a curto prazo?

Um dos grandes desafios tem a ver com a organização da produção. Precisamos de dar passos muito grandes, designadamente em termos de associativismo, se nos quisermos aproximar dos nossos vizinhos espanhóis. Só unidos conseguiremos ter escala suficiente para melhor valorizar os produtos da nossa pecuária. A seca, o aumento dos custos dos fatores de produção, a falta de uma clara diferenciação e valorização dos produtos do extensivo, sejam de origem animal ou vegetal, o alheamento político em relação a esta realidade agro-rural, são alguns desafios que importa olhar de frente. É primordial procurar as melhores soluções. Mas para que isso aconteça é fundamental estarmos sintonizados em relação à importância da pecuária extensiva, da parte da produção, da ciência e dos poderes políticos. 

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