Diário do Alentejo

Alunos serpenses vencem concurso de talentos sobre psoríase

19 de novembro 2022 - 13:00
Projeto PSOFriends – Faz uma Cena pretende “promover a compreensão da doença e a inclusão de jovens com psoríase entre os seus pares”
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Eram 23 horas e 59 minutos, do dia 28 de outubro, quando terminou a votação para os nove trabalhos finalistas do concurso de talentos PSOFriends – Faz uma Cena. No dia seguinte, dia 29 de outubro, Dia Mundial da Psoríase, foram conhecidos os vencedores, e no topo das equipas mais votadas nas plataformas digitais Instagram e Facebook estava «Los Chapa», da Escola Secundária de Serpa.

 

Nesta edição, o “Diário do Alentejo” foi conhecer os talentos serpenses que chegaram mais além no concurso, e saber mais dos propósitos que estão por detrás do projeto que teve participação com sotaque alentejano.

 

Texto Luís Miguel Ricardo

 

Em redor de uma mesa da Escola Secundária de Serpa, os sorrisos vão-se abrindo e as palavras soltando, à medida que se promove a conversa sobre o acontecimento do momento para estes alunos do 11.º ano, da turma D, dos cursos profissionais de Técnico de Ação Educativa e Técnico de Juventude.

 

“No seguimento do webinar a que assistimos, e no qual obtivemos mais conhecimentos sobre a doença, decidimos aceitar o desafio proposto pela organização do projeto e entrar no concurso PSOFriends – Faz uma Cena. Eu e a Verónica persuadimos os restantes membros a juntarem-se a nós, convencendo-os a terem coragem para dar a cara ao país em prol da causa”, lembra Mariana Palhinhas, líder da equipa «Los Chapa», o ponto zero da participação.

 

“Formada a equipa, transformámos as falas do vídeo de inspiração, em falas com sotaque alentejano e com um contexto também da região. Trabalhamos o texto, escolhemos o cenário e os adereços, e começámos a ensaiar e a fazer alguns registos de vídeo com o objetivo de corrigirmos o que ainda não estava como desejávamos”, acrescenta Verónica Torrejais.

 

E é no seio da boa disposição que desfila em redor do assunto, que José Freitas revela um segredo de bastidores: “esses registos foram a salvação, pois no dia agendado para a gravação final, dois dos elementos da equipa adoeceram e tivemos de ir a concurso com um desses vídeos de ensaio.”

 

E mais outra confidência emerge da animada conversa – o nome da equipa. Inicialmente ter-se-á chamado «Los Chaparrenhos», numa alusão à árvore icónica da região, a azinheira, vulgo chaparro. Mas feito o registo, surgiu a proposta «Los Chapa», que caiu no “goto” de todos, mas que vinha demasiado tarde.

 

Contudo, quis o destino que a inscrição não tenha sido validada, como nos conta, a gracejar, Miguel Quaresma, explicando o que se sucedeu: “os nossos pais não recebiam o documento para autorizar a nossa participação e, um dia antes do prazo terminar, o diretor de turma fez um novo registo e usou o nome que nós mais gostávamos – «Los Chapa». E à segunda foi de vez!”

 

Mas para além das peripécias do nome, da diversão dos ensaios e das gravações, que contaram com o apoio dos alunos Inês Campaniço e Lukas Malveiro, a equipa não se desfoca dos objetivos que fundamentam a iniciativa.

 

“Ficámos a saber mais sobre a doença, aprendemos que não se deve ter medo de uma doença sem se saber mais sobre a mesma ou sobre a forma de transmissão”, adianta Marisa Costa, cujo testemunho é complementado pelo de Alexandra Lázaro: “a nossa participação no concurso fez com que muitas pessoas que não conheciam a doença, sobretudo da comunidade escolar, ao verem o vídeo quisessem saber mais sobre a psoríase.”

 

O QUE É A PSORÍASE?

O “Diário do Alentejo” quis saber mais sobre a psoríase e sobre o projeto que sustenta o concurso, e, na vertigem das tecnologias, fomos ao encontro de Jaime Melancia, presidente da Associação Portuguesa da Psoríase (PSOPortugal), promotora do projeto. Sobre esta iniciativa, explica que se “trata de um projeto que visa promover a compreensão da doença e a inclusão de jovens com psoríase entre os seus pares.

 

O projeto parte da iniciativa da nossa Associação e contou com a participação do humorista Luís Filipe Borges, bem como o apoio da Direção Geral de Educação (DGE). Em termos práticos, os alunos de todo o país foram desafiados a “fazer uma cena”, isto é, a representar pequenos excertos (pequenas cenas) da série humorística ‘PSOFriends’ - uma série que retrata, de forma descomplicada e com humor, os desafios de viver com psoríase.

 

A série passa-se no café mágico do Sr. Silva (papel interpretado por Luís Filipe Borges, que para além do argumentista foi também ator nesta série). Luís Filipe Borges e os 6 amigos que participam na série têm todos psoríase na vida real (os atores foram escolhidos num casting e embora não profissionais revelaram-se verdadeiros talentos).

 

Os episódios são cheios de humor e também de coisas sérias, retratam os desafios de quem vive com a doença e explicam de forma descomplicada o que é a psoríase. Para os jovens nas escolas, o desafio foi o de assistirem à série e depois fazerem uma das suas cenas. E ao fazê-lo, os jovens foram desafiados a vestir a pele de quem é psoriático.

 

Sabemos que a interpretação exige pensar as situações e senti-las, e por isso consideramos que é uma arma adequada para promover a literacia, a compreensão e a empatia.

 

A implementação deste tipo de iniciativas junto da comunidade em geral e da escolar em particular, reveste-se de importância maior, porque, como explica Jaime Melancia, “a psoríase é uma doença que, em muitos casos, tem um forte impacto na imagem, através de manchas avermelhadas e placas brancas descamativas.

 

O que acontece é que os outros, ao verem estas marcas, muitas vezes reagem mal e, por desconhecimento, afastam-se, criticam, fazem comentários desagradáveis ou, em casos mais extremos, chegam a fazer bullying.  

 

É por isso importante que as pessoas saibam reconhecer essas marcas e saibam que não é algo contagioso, nem relacionado com falta de cuidado com a higiene. Por outro lado, um estudo qualitativo que realizamos em 2021, ‘Psoríase: o impacto e a gestão da doença nos jovens em Portugal’, fez-nos perceber que os jovens psoriáticos sofrem de sentimentos de solidão muito vincados.

 

Têm uma doença que é associada a pessoas de maior idade, e isso leva a que se sintam sós, a que se escondam e a que desde cedo tenham problemas de autoconfiança e autoestima.

 

José Carlos Sousa, diretor de Serviços da Direção Geral de Educação (DGE), entidade parceira da PSOPortugal na implementação do projeto, partilha, do mesmo ponto de vista da DGE, considerando que o projeto foi “desenvolvido para ser trabalhado e promovido em ambiente escolar, desafiando os jovens a trabalharem em prol da inclusão, desmistificando a doença e promovendo a colaboração entre pares, tendo ou não psoríase. Pretendeu também dar ferramentas aos docentes, para que estes possam integrar “PSOFriends – Faz uma Cena” no percurso pedagógico dos seus alunos, motivando-os a “Representar para Incluir”.

 

O projeto “é integrado na Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania, no domínio da saúde, e visa, essencialmente, a integração de crianças e jovens que têm a doença, desmitificando-se conceitos e pré-conceitos sobre a mesma, e procurando promover-se a autoestima dos alunos e o bem-estar consigo e com a comunidade que os envolve”, conclui José Carlos Sousa. 

 

De volta à Secundária de Serpa ficamos também a conhecer a perspetiva do diretor do Agrupamento de Escolas n.º2, Francisco Lá Féria de Oliveira: “À semelhança da participação que temos em outras iniciativas, concursos e projetos, o principal objetivo do envolvimento e participação dos alunos tem por base o seu desenvolvimento pessoal e crescimento enquanto cidadãos conscientes, participativos e responsáveis. Esta é uma forma de os estimular e de valorizar o seu trabalho e competências, que, no contexto da atividade curricular (pura e dura), perde muitas vezes o lugar. No caso específico da participação neste concurso de talentos, é importante que o desempenho destes alunos seja visto como o seu contributo para a desmistificação e redução dos estigmas associados a este tipo de doenças, cujos sinais externos são por vezes tão castradores do desenvolvimento de relações humanas. É um pequeno contributo, sim, mas é feito com a vontade de o abordar e de colaborar para a mudança de atitude social face à psoríase”.

 

E em redor da mesa, onde se alinha a meia dúzia de protagonistas do vídeo mais votado no concurso PsoFriends – Faz uma Cena, a conversa flui agora em torno do prémio que distingue as equipas vencedoras: um workshop de representação com o ator Luís Filipe Borges. E assim, decreta-se a paragem da reportagem, porque os talentos serpenses vão continuar a fazer cenas!

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