Alexandre Lourenço, presidente da Ordem dos Médicos da Região Sul, visitou o Hospital do Litoral Alentejano, em Santiago de Cacém, e o Hospital José Joaquim Fernandes, em Beja, unidades de saúde que este responsável considera carecerem de médicos.
Sublinha, ainda, a necessidade de acautelar a substituição de equipas envelhecidas, em alguns serviços, o que não sendo feito poderá “ter repercussões muito graves para essas unidades”.
Texto José Serrano
O presidente da Ordem dos Médicos da Região Sul (OMSul), Alexandre Lourenço, visitou, no passado dia 27 de setembro, o Hospital do Litoral Alentejano, em Santiago de Cacém, e o Hospital José Joaquim Fernandes, em Beja, tendo-se reunido com médicos pertencentes a estas duas unidades de saúde.
Em declarações ao “Diário do Alentejo”, o responsável da OMSul faz um diagnóstico semelhante a estas duas instituições, no que diz respeito às carências de profissionais existentes: “o que é comum nestes hospitais é termos equipas muito reduzidas em número de médicos e, muitas delas, envelhecidas – há especialidades em que os dois ou três médicos que estão nestes serviços têm 60 ou mais anos e não se encontra acautelada a sua substituição, pelo que alguns serviços podem desaparecer e isso terá repercussões muito graves para essas unidades”.
Alexandre Lourenço refere-se, nomeadamente, a especialidades “muito específicas”, como a cardiologia – “é muito complexo” – e a anestesiologia: “se deixar de haver anestesistas não há nenhum tipo de cirurgia, não há cuidados intensivos. Há especialidades com importância fulcral no funcionamento destes hospitais e, por isso, têm de ser protegidas – não lhes dando o apoio que necessitam, um hospital pode morrer”, sublinha.
Relativamente aos recursos físicos, Alexandre Lourenço considera que o Hospital do Litoral Alentejano está “mais apetrechado” que o de Beja, hospital “muito envelhecido, muito subdimensionado, a precisar de grandes restruturações e investimentos”, e acentua: “mesmo os serviços que são de base não têm instalações adequadas, não são capazes de responder às atuais necessidades da medicina – o Hospital de Beja podia estar dimensionado para há 40 anos atrás mas não para aquilo que se faz hoje, pelo que é necessário acarinhar este hospital e não esquecer o investimento no mesmo”.
Para que estas situações de carências possam vir a ser ultrapassadas, o presidente da OMSul considera ser necessário obter “um sinal do novo ministro da Saúde, a dizer que quer, efetivamente, mudar este estado de coisas”, dando mais autonomia às instituições de saúde.
“Ouço muitos colegas a dizer: ‘já estive num projeto que foi chumbado’, ‘já estive num serviço que foi criado e depois não havia verba’, ‘estive num outro que tínhamos muito boas ideias e acabou por não se concretizar’ – do que, neste momento, as pessoas se queixam, é da falta de resposta, que é central”.
Assim, Alexandre Lourenço realça a necessidade em devolver a capacidade de decisão para o nível local: “têm de ser os hospitais, as equipas, os médicos, os serviços, os centros de saúde a dizerem o que é que precisam para melhorar a saúde da população, porque as decisões, ao nível superior, para além de não permitirem melhorar e inovar, desmobilizam as pessoas, quando os projetos que têm para melhorar os serviços de saúde deixam de poder ser realizados, quando lhes é negada essas autonomia e possibilidade. Temos de ter meios para continuar a melhorar a saúde da nossa população, de forma adequada aos tempos modernos, e as pessoas que cá estão sabem o que é preciso fazer para que isso aconteça – deixem-nas desenvolver as suas potencialidades”.
Questionado sobre o receio, manifestado por parte da sociedade civil da região, da possibilidade de o novo Hospital Central do Alentejo, em Évora, com data de inauguração prevista para o início de 2024, poder vir a retirar valências ao Hospital de Beja, Alexandre Lourenço entende: “poderá haver valências que têm de ser reformuladas, para servir melhor as populações. Mas tal como pode tirar algumas coisas também pode dar outras, porque o novo hospital de Évora não terá capacidade para fazer tratamento de proximidade a todo o Alentejo e, por isso, teremos a oportunidade de reformular a forma como trabalhamos, para que, em proximidade, se façam coisas importantes. Alta tecnologia, coisas que atualmente nem sequer são tratadas no Alentejo, e vão para Lisboa, têm de ser tratadas num único centro hospitalar, mas os outros não podem ser desprotegidos e têm de continuar a ser acarinhados, dando-lhes a possibilidade de poderem continuar a crescer”.
“UM DIA TEREMOS RESSONÂNCIA MAGNÉTICA E NÃO HAVERÁ MÉDICOS PARA TRABALHAR COM ELA"
A agência “Lusa” anunciou, dia 26 de setembro, a instalação de um inovador equipamento de ressonância magnética, em Évora, o primeiro do género a ser instalado em Portugal, notícia que contrasta com a realidade de Beja, único distrito do País sem ressonância magnética.
Pedido um comentário a Alexandre Lourenço, sobre este facto, o presidente da Ordem dos Médicos da Região Sul considera: “precisamos de aparelhos de ressonância magnética em todos os distritos. Temos de perceber que, durante mais de 20 anos, não se investiu em tecnologia pesada em muitos centros hospitalares e é essencial voltarmos a fazê-lo. Beja, que teve no passado um serviço de radiologia de excelência, tem perdido essa valência, porque não tem equipamentos e não tem capacidade para atrair novos médicos, que conhecem muito bem a aplicação destas novas tecnologias de diagnóstico, mas que não têm os meios de as aplicar, aqui. Qualquer dia teremos ressonância magnética e não haverá médicos para trabalhar com ela, porque eles já desistiram de trabalhar nesta região”.