Diário do Alentejo

Este é "um romance de época que relata as idas para a guerra, as carências e as denúncias de uma polícia que nunca dormia"

23 de setembro 2022 - 11:00
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António Chaínho tem 72 anos e é natural de Azinheira de Barros, Grândola.

 

É professor, presidente da Escola Secundária António Inácio da Cruz, diretor da Escola Profissional Desenvolvimento Rural de Grândola, vice-Presidente da Associação Portuguesa das Escolas Profissionais Agrícolas, vereador da Câmara Municipal de Grândola, presidente da Assembleia Municipal de Grândola, bem como membro da Mesa do Congresso da Associação dos Municípios Portugueses.

 

Foi agraciado com a Medalha de Ouro de Mérito Municipal.

 

Apresentou, no passado dia 10 de setembro, na Biblioteca Municipal de Grândola o seu mais recente livro, intitulado Bairro Danado – Crónica de um amor em tempos de mudança. No total, sõ 15 os livros já publicados.

 

Texto José Serrano

 

 

Como nos apresenta este seu livro?

Apresento-vos um livro repleto de memórias, passadas nos anos 60 no Bairro Danado, bairro operário corticeiro na vila de Grândola –, nas quais se entronca um romance de época que relata as idas para a guerra, as carências e as denúncias de uma polícia que nunca dormia. Um bairro, conservando uma identidade inabalável, cimentada na amizade, na solidariedade sem limites e na luta contra a adversidade da época. O jornalista Vítor Matos, autor do prefácio, afirma: “num pequeno bairro cabe o mundo inteiro” – o livro procura denunciar os problemas desse pequeno mundo. Tal como nos outros bairros da vila, no Bairro Danado o tempo e o espaço ganhavam outra dimensão: a natureza dos caprichos humanos.

 

Sendo este um romance histórico, de que forma se documentou para o escrever?

Eu sou contemporâneo desse quotidiano. Os corticeiros de então foram os grandes suportes dos acontecimentos que deram, através dos seus testemunhos, alma e substância ao livro. Foram os mais velhos operários que me transmitiram o que se passava nas mais de vinte fábricas de cortiça, o seu quotidiano feito de lutas, prisões, solidariedade, amizades indestrutíveis e esperança numa sociedade mais justa.

 

Dedica este livro aos corticeiros de Grândola. São estes alguns dos legítimos construtores da “terra da fraternidade”, evocada na emblemática canção de Zeca Afonso?

Não só eles, mas foram também os corticeiros que semearam essa ideia de fraternidade e de igualdade – se bem que se constate ser uma utopia. Nas várias fábricas de transformação de cortiça cresceu uma corrente de luta e reivindicação que veio a traduzir-se nas ideias do 25 de Abril e essa “terra da fraternidade” consubstancia essa sementeira.

 

As memórias relatadas nesta obra, nomeadamente da guerra e da ditadura, são um alerta para que não se possibilite a repetição deste episódio da história do País?

Exatamente. As condições de habitabilidade, de trabalho, a falta de liberdade de expressão, a guerra colonial são dessa época e muitas das reivindicações e lutas realizadas eram feitas contra essas condições. E o jovem corticeiro Adriano, personagem principal, transporta todos esses alertas no seu quotidiano.

 

O que mais deseja que o leitor encontre ao ler esta sua obra?

Que veja num bairro como este, e nas suas gentes, um universo onde os sentimentos saltitam e se sentem na sua mais intensa amplitude e retire das suas personagens a pureza de valores – como a lealdade, a solidariedade, o compromisso, a amizade desinteressada e a desejada transformação da sociedade –, dos quais os seus moradores eram agentes únicos. 

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