Diário do Alentejo

A Fêra de Barrancos voltou

27 de agosto 2022 - 10:00
Depois de dois anos sem acontecer, a Fêra de Barrancos está de volta. A legalização dos touros de morte foi há 20 anos
Foto | Marco Monteiro CândidoFoto | Marco Monteiro Cândido

Entre 28 e 31 de agosto, Barrancos recebeu os festejos que, em tempos, estiveram sob os holofotes nacionais, retomando a tradição que foi interrompida pela pandemia. Vinte anos depois da legalização dos touros de morte, o “Diário do Alentejo” foi perceber como está a ser encarado o regresso.

 

Texto Marco Monteiro Cândido

 

O  martelar compassado nas traves de madeira ecoa pela praça. O som mistura-se com as vozes e a azáfama própria do movimento, quase, perpétuo a que se assiste. Os madeiros espalham-se no chão, à espera de serem carregados, alinhados, pregados, num quebra-cabeças de madeira que há de ter o aspeto final de tabuados em forma de praça montada por barranquenhos, para barranquenhos. É o quarto dia de montagem da Fêra de Barrancos, dia 19 de agosto.

 

O sino da torre do relógio anuncia as 11:00 horas. Entre este e a igreja, os tabuados estão a ser montados. Os bancos também já estão nos devidos lugares. Por tradição, as mesmas pessoas, as mesmas famílias, mantêm estes bancos nos mesmos sítios. Este ano, o primeiro banco foi colocado a 31 de julho junto à igreja.

 

Na Sociedade Recreativa Artística Barranquenha, a “sociedade dos pobres” como é conhecido o espaço na vila, com gente da terra que se abriga do calor, muitas das conversas giram em torno da Fêra que há de começar daí a dias. Nota-se a agitação na vila. É hora dos preparativos, do momento porque anseiam durante o ano e que, pela pandemia, há dois que não acontecia.

 

“Por estes dias já se sente o trânsito a apertar, já se vê muita gente para trás e para a frente. Já está a entrar aquela nostalgia, aquele frio na barriga”. As palavras são de Luís Lérias, um dos membros da comissão de festas encarregada de organizar o certame. Alexandra Reganha, sua namorada e colega na comissão, corrobora. “Já vemos aquelas caras que só vemos de ano a ano”.

 

Findo o trabalho do dia, que começou às 6:00 horas, os homens, funcionários da câmara e responsáveis pela montagem intrincada dos tabuados, abrigam-se à sombra da igreja, cuja data marca 1925. Mais antiga é a tradição da Fêra de Barrancos, centenária.

 

Por aqui, o barranquenho, dialeto protegido e reconhecido por lei desde novembro do ano passado, surge frequentemente, num português adocicado pela pronúncia da vizinha Espanha, a meia dúzia de quilómetros, e impregnado de toda uma complexidade lexical praticamente impercetível a quem não o domina. A partir das 12:00 horas, o silêncio abate-se gradualmente sobre a vila. Tirando os homens da praça.

 

 

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REIVENTAR E RESPEITAR A TRADIÇÃO

A Fêra é organizada anualmente pela Comissão de Festas em Honra de Nossa Senhora da Conceição. Este ano, a comissão tem a particularidade de ser constituída, pela primeira vez na sua história, por mulheres. São seis os festeiros, divididos de forma paritária: três mulheres e três homens. E foi de Alexandra que surgiu a ideia de avançar para a comissão e consequente organização da Fêra este ano.

 

“Foi o bichinho em organizar e foi uma decisão que, mais tarde ou mais cedo, teria que ser tomada. Os namorados, os maridos e os irmãos sempre iam. E havia sempre mulheres por trás. O que acontecia era que os nomes das mulheres nunca constavam na ata da constituição da comissão de festas. Então, a última comissão colocou o lugar à disposição e eu comentei com o meu grupo de amigas se não seria uma boa aposta, uma boa iniciativa. Não só por nós, mas para demonstrar que as mulheres também conseguem fazer, dar à terra e não só os homens. As minhas amigas disseram que eu estava louca, mas eu sempre disse: o que nós precisamos dos homens, os homens precisam de nós”. 

 

Pertencer à comissão é algo que enche as medidas aos barranquenhos. É motivo de orgulho, assim como o é a sua terra e a preservação desta tradição, como sublinha Luís.“Pertencer à comissão é um dos motivos de orgulho para os barranquenhos. Mas há vários: desde o nosso dialeto, as nossas raízes, as nossas tradições. O barranquenho é conhecido por ser lutador”.

 

O orgulho em estar presente na comissão de festas anda sempre de mãos dadas com a amizade ou não fosse esse um dos principais critérios para a formação do grupo que fica responsável pela organização dos festejos. Alexandra tomou a iniciativa, acabando por constituir uma comissão com cinco pessoas do seu círculo mais próximo, entre elas, Luís, o primeiro elemento masculino a ser convidado e seu namorado.

 

“Não sabemos por que é que não acontecia antes. Não é uma coisa que seja justificável. Sempre ouvíamos dizer: qualquer dia temos que meter umas mulheres nisto. Entretanto, quem teve a ideia de juntar o grupo foi a Alexandra. Ela pediu opinião a pessoas com peso na terra e elas concordaram”.

 

Afinal de contas, segundo Luís e Alexandra, quando a comissão era só constituída por homens, as mulheres acabavam sempre por trabalhar. “Elas tinham o mesmo trabalho, só não ia o nome no papel. E disseram-nos: faz uma comissão mista que será aceite. E, este ano, tudo partiu do sexo feminino”, refere Luís, visivelmente orgulhoso, enquanto olha para Alexandra.

A mulher responsável pela primeira comissão mista na tradição da Fêra de Barrancos assume que, ao princípio, houve algum receio. “No início pensámos: vamos abrir o caminho, vamos para a mudança. Pode correr bem ou pode correr mal. Nós tínhamos um bocadinho de receio sobre o que iriam dizer e pensar as pessoas mais velhas, ao não estarem habituadas a verem raparigas na comissão”. Mas se o nervosismo e as dúvidas estavam presentes inicialmente, rapidamente se dissiparam, acabando a tradição por ser renovada.

 

“O primeiro balanço foi de muita crítica e alguma negação, por parte alguns. Mas outros apoiaram, disseram para arriscar e lutar”, sublinha Luís, acrescentando que, no fim de contas, o balanço ao longo deste ano tem sido “muito, muito positivo”. E Alexandra reforça: “Assim que viram que a primeira atividade foi um sucesso, causámos logo burburinho, criámos o bichinho”. E tudo passou e começou a entrar nos eixos, depois de dois anos em que não houve festas.

 

 

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RECOMEÇAR DEPOIS DA PANDEMIA

Os anos da pandemia foram difíceis para todos. E para a comissão de festas da Fêra de Barrancos também. Os membros que tomaram posse em 2019/2020, acabaram por ficar para o ano de 2020/2021. O seu trabalho foi condicionado, e muito, pelas circunstâncias pandémicas, naqueles que foram anos marcados pelo desconhecimento de um vírus que haveria de marcar toda a gente, com restrições e confinamentos que não permitiram a realização da Fêra nesses tempos. Algo nunca visto e que acabou por suspender uma tradição que resistiu sempre, mesmo no tempo em que os touros de morte eram ilegais em Barrancos.

 

Normalmente, uma comissão é apresentada a 28 de agosto de cada ano, no primeiro dia dos festejos, na missa, tomando posse, efetiva, a 1 de setembro, já depois de terminada a Fêra desse ano. A ideia é começar a preparar as coisas, através de eventos e atividades, começando a angariar fundos para o que há de ser o ponto alto e objetivo do seu trabalho: a Fêra do ano seguinte. Com a comissão deste ano foi um pouco diferente, fruto das circunstâncias que vinham de trás, anos verdadeiramente atípicos.

 

“A antiga comissão não quis ter grandes atividades, nós pedimos, sendo que a 23 de agosto tivemos a nossa primeira conversa e, no dia 27, começámos logo com atividades. Montámos a nossa rulote na praça e só podíamos vender água, foi só água que se vendeu”.

 

A forma enérgica, como Alexandra descreve o início de funções da comissão de que faz parte, representa bem a diferença que quiseram marcar, o quão diferentes queriam ser. Sempre respeitando as regras e a tradição, mas fazendo algumas coisas de forma distinta, até porque, os dois anos anteriores, foram bem singulares.

 

Leonel Rodrigues é presidente da Câmara Municipal de Barrancos (CMB) desde outubro de 2021. Está no seu primeiro mandato e esta também é a sua primeira Fêra enquanto autarca. Num momento que significa o retomar de uma tradição interrompida pela pandemia e que tem uma importância crucial para a vida dos barranquenhos e de Barrancos.

 

“A Fêra representa um património e identidade indissociável desta terra. É especialmente importante para todos os barranquenhos de alma e de gema, para aqueles que retornam e para aqueles que nos visitam e, digo-lhe, são muitos. O período ‘pré Fêra’e Fêra é um exponencial para o turismo em Barrancos, ponto de encontro de amigos, de famílias, de gentes dos mais variados lugares. Constitui um ‘ponto-chave’ para o turismo, para a economia e transforma a vila de Barrancos num centro de convivência, de visitação e tudo o que isso implica. Mas Barrancos é a Fêra e muito mais, somos zona do interior, terra de fronteira, da língua Barranquenha, de cultura e identidade, da hospitalidade genuína, de património e natureza, de produtos locais de excelência, gastronomia e que oferecerá sempre, a todos, o melhor de si, quer seja neste período quer seja fora dele”.

 

2002 - 2022: VINTE ANOS DE LEGALIZAÇÃO

 

O ano de 2002 foi quando tudo mudou. A 17 de julho do mesmo ano, CDS-PP, PSD e PCP apresentaram um projeto comum na Assembleia da República, onde era proposta a criação de um regime de exceção para espetáculos com touros de morte em Barrancos. O mesmo foi aprovado com 116 votos a favor, 92 contra e nove abstenções.

 

Com as festas a decorrerem no final de agosto, como sempre foi tradição, apesar da legalidade das mesmas, o ambiente ainda era de algum receio e desconfiança. Luís, então com nove anos, lembra-se do que foi, até porque o seu irmão mais velho, João, pertencia à comissão.

 

“Nesse ano ainda estava tudo muito quente. A nível de fotografias, não deixavam. Apesar de ser legal, a comissão não queria polémicas. Depois começou a acalmar e nos anos seguintes ainda houve enchentes, mas, como perdeu um pouco da polémica, parece que se perdeu um bocadinho o interesse. A coisa normalizou”.

 

Luís é o exemplo do que representa pertencer à comissão para os barranquenhos: com 29 anos, é o mais novo de três irmãos e seguiu as pisadas dos mais velhos, que estiveram nas comissões de 2002 e 2012. E se Luís está agora na de 2022, João Lérias, o irmão mais velho, com 43 anos, pertenceu à comissão no ano da legalização.

 

Viveu esses dias quentes por dentro, como recorda. “Os dias que antecedem a votação na Assembleia da República foram de uma grande tensão e pressão. Nós tínhamos visto o cerco a apertar no último ano. Tínhamos a noção de que o ano da votação era essencial: se corresse bem, ok, estávamos safos; mas, se corresse mal, poderíamos perder muitos pontos onde seria difícil de chegar novamente”.

 

A residir fora de Barrancos, em Samora Correia, onde está ligado às festas locais com forte tradição taurina, mas prestes a regressar a casa por estes dias de Fêra, João relembra bem, como se fosse hoje, as dificuldades de há 20 anos.

 

“A forma de fazer sair os toureiros da praça, a forma de conseguir fazer com que a carne do touro fosse para o matadouro e pudesse, depois, ser vendida, uma vez que também é uma tradição. Estávamos com bastante ansiedade e muita apreensão. Não víamos qualquer porta que nos pudesse deixar felizes ou mais confiantes”.

 

Em declarações à agência Lusa, em março de 2016, o presidente da CMB à época, Nelson Berjano, recordou o papel essencial de Jorge Sampaio, Presidente da República cujas palavras, numa visita a Barrancos a 12 de junho de 2002, “foram um passo crucial para que tudo se resolvesse”.

 

A primeira figura do Estado disse na altura: “O Presidente é a favor da legalidade, mas, acreditando na autoridade democrática, recomenda que tentemos preservar as tradições e perceber os povos mais distantes. Há tradições que seria conveniente enquadrar legalmente de outra maneira”. Nelson Berjano, em 2016, sublinhava o papel preponderante das palavras proferidas: “Duvido que a questão se tivesse resolvido tão rapidamente se Jorge Sampaio não tivesse dito o que disse”.

 

Voltando a João Lérias, também ele assume que foi esse o empurrão que a tradição necessitava para se tornar, finalmente, legal. “Tínhamos tido uma palavra da pessoa mais essencial para essa legalização, Jorge Sampaio, com uma frase tão simples que disse numa visita a Barrancos. A partir daí, tudo se desenrolou. Tenho a certeza que, se fosse hoje, não seria legalizado. Mas correu bem”.

 

O atual presidente da CMB, na casa dos 20 anos na altura, também recorda esses dias, de incerteza. “Fui, como tantos outros nessa altura, um defensor da minha terra e tudo o que isso compreende. Há 20 anos, estávamos obrigados a viver, uma parte importante da Fêra, em constante sobressalto. Lembro-me desses tempos, estava nos vinte e poucos anos, com essa idade tudo é vivido intensamente. Desde que tenho memória, estive presente em todas as ‘Fêras’, à exceção de uma, e todas elas se realizaram sem maiores problemas, de princípio a fim. Apesar dos sobressaltos nos ‘anos quentes’ todos contribuímos para que se realizassem as festas num ambiente amigável, de festa, de respeito e sobretudo conscientes de que preservar a riqueza patrimonial e cultural dos povos significa mantê-los vivos”.

 

Quando recordam esses tempos, os barranquenhos sublinham o que isso significou em termos de união de um povo e na persistência que demonstraram na defesa de uma tradição que lhes corre nas veias. Leonel Rodrigues acentua isso mesmo:

 

“Nos anos de 1997 e 2002 vivemos tempos conturbados relativamente à celebração das tradicionais corridas de touros de Barrancos. Mas foi, também, nessa altura que o povo de Barrancos mostrou toda a sua resiliência por defender o seu património e o legado de tantos barranquenhos que nos antecederam e, nessa defesa, juntaram-se muitos outros amigos de Barrancos, personalidades relevantes da cultura, do jornalismo, do mundo taurino de Portugal e de Espanha e, entre outros, muitos políticos”. E se há coisa que a legalização dos touros de morte veio trazer foi a tranquilidade necessária para a realização do evento. “Vivemos hoje a Fêra tal e como o fizemos no passado, mas, hoje, admito que a lei veio trazer tranquilidade a todos aqueles que têm a responsabilidade na preparação e organização das Festas em Honra a Nossa Senhora da Conceição – as comissões de festas e, igualmente, a câmara municipal e todos os barranquenhos em geral”.

 

Se, por um lado, a ilegalidade eram negras sombras no horizonte da tradição, ao mesmo tempo dava uma “mística diferente” a tudo o que se fazia. João Lérias assume isso.

 

“Acabava por ser bom ser legalizado e para a continuidade, mas aquele gostinho das coisas serem um bocadinho a roçar o ilegal, dava uma certa ‘pica’. Sabíamos que a GNR andava à nossa procura para nos identificar, mas era também quem nos abria a cancelas para passarmos com as carrinhas. Era engraçado”. Duas décadas passadas, a leveza com que se fala do assunto é outra, com João a sublinhar a compreensão das autoridades, apesar de tudo, para com a tradição.

 

“A GNR facilitou e não podemos esconder isso. Só se conseguiu fazer, de forma ilegal, naqueles anos porque havia aquela compreensão de que aquilo tinha que acontecer e que não valia a pena haver brigas, transformando-se num campo de batalha para todos. Houve sempre essa compreensão”.

 

Com os touros de morte legalizados, a curiosidade dos visitantes esfriou, refletindo-se, isso mesmo, na afluência às festas.

 

“Notámos que houve um decréscimo de pessoas que não eram aficionadas como diziam, mas que iam pela polémica, na expectativa que houvesse briga. No primeiro ano em que foi legal, houve muito menos gente, mas o dobro do ambiente, de felicidade na cara das pessoas. Chegámos à conclusão de que quem lá vai, e é o que acontece agora, é mesmo quem gosta, quem é taurino e se sente bem naquele ambiente”. No entanto, em 2002, com a legalização aprovada há pouco mais de um mês, os protestos ainda se fizeram sentir na vila, com a presença de manifestantes.

 

“O que pedimos à câmara municipal, que teria a responsabilidade da autorização, era que ficassem longe, que não ficassem no meio da vila para evitar que houvesse confusões. Ficaram à entrada da vila, manifestaram-se, foi uma coisa muito apagada, apesar de aparecer nalguns meios de comunicação social. A certa altura, tivemos que passar pela manifestação, estivemos à conversa com a GNR que lá estava, com tudo calmo, e constatámos que as pessoas estavam a penar com o calor. Decidimos mudar um bocadinho a perspetiva que tinham de nós, mandando bebidas e comidas, para verem que os barranquenhos não eram aquilo que se dizia. Conclusão: à hora da corrida havia desconfianças de que eles pudessem estar infiltrados junto à praça e estávamos a controlar quem aparecia com cartazes. Aparecerem cinco indivíduos com cartazes antitaurinos. Fomos falar com eles, e passadas duas horas, os cartazes foram parar ao lixo pelas suas mãos, envergaram camisolas alusivas à festa e ficaram do nosso lado. Percebemos que eram pessoas que estavam lá contratadas. Não voltaram no autocarro e, até hoje, não sei como voltaram, mas foi um episódio que recordo com imensa piada”.

 

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AS PERSPETIVAS PARA ESTE ANO 

 

Para Leonel Rodrigues, “este ano é especial” por nunca se ter “vivido a situação de dois anos de interregno das festas de Barrancos”. A ansiedade e o desejo pelos dias que se avizinham são grandes. “Existem por isso boas perspetivas para que seja uma Fêra excecional e onde muita gente habitual das festas regresse a Barrancos para reencontrar esse ambiente especial que aqui se vive nesses quatro dias. Está tudo preparado para mais uma ‘Fêra’ e Barrancos saberá receber, com toda a sua hospitalidade, todos aqueles que nos quiserem visitar”.

 

Luís Lérias sublinha que, devido à instabilidade causada pela pandemia, a comissão de festas a que pertence não sabia se iria “sentir o mesmo peso e a mesma angústia que a anterior comissão que não conseguia fazer nada”.

 

No entanto, arriscaram, começando a fazer pedidos à Direção-Geral de Saúde, “a cumprir todas as normas, as pessoas começaram a aparecer e começou a correr tudo bem. Quando abriu tudo, começámos a marcar os espetáculos. Chegámos a uma altura, em novembro e dezembro, em que voltou a fechar tudo. Levámos com um balde de água fria. Tivemos que cancelar vários espetáculos. Mas temos feito o nosso percurso, com a ajuda de muita gente”.

 

O percurso da comissão, que há de culminar entre os dias 28 e 31 de agosto, começou há um ano, onde “o objetivo é fazer as festas, juntar o máximo de dinheiro durante o ano”, como sublinha Alexandra. No entanto, a meta foi logo posta em cima da mesa, realça Luís: “Estivesse isto como estivesse, podíamos não ter ninguém na praça, mas o touro teria que ser lidado e morto. Três anos não podem ser. Quem diria que, com tanta ‘jiga joga’ que tivemos que fazer, a esconder touros, passá-los aqui e ali, chegarmos a esta altura e termos que parar”.

 

Não são apenas os tabuados que estão bem encaminhados para receber a Fêra nos próximos dias. Também os eventos, realizados ao longo do último ano, foram sendo bem recebidos e participados pela população, com destaque para o peditório, pelas ruas da vila, no Dia de Santa Maria, 15 de agosto, como refere Alexandra:

 

“Foi um dia de emoção enorme. Correu belissimamente bem. Desde 2008, o peditório melhor foi em 2011 e voltou a ser este ano. Não esperávamos que nos ajudassem tanto porque temos tido muitas festas ao longo do ano e o povo tem ajudado. Por isso estávamos com um bocadinho de receio de que sentisse que tinha ajudado e contribuído com a parte dele. Tínhamos uma expectativa um bocadinho mais baixa, mas, afinal, superou”. Ou, ainda,o leilão do bufete (licitação de quem explora o local das comidas e bebidas), no passado dia 18, que, para Luís, revela a vontade de todos trabalharem para o sucesso das festas. “Outra surpresa foi o leilão. Estávamos muito a medo. Iniciámos nos 2500 euros, começou a subir, a subir, a subir, e acabou nos 6100, o que demonstra que as pessoas estão com vontade de trabalhar e que a festa seja boa”.

 

Na Praça da Liberdade, no AntiguLárgu da Praça, onde os tabuados estão a ser montados para receber a Fêra, os trabalhos continuam, misturando os sons da madeira a ser pregada com o barranquenho falado, em tom de alegria pelas festas que se aproximam. Dentro de dias será o burburinho dos milhares que aqui estarão para quatro dias de festejos. Até lá, ainda há muito a fazer. No entanto, para Alexandra, um dos grandes objetivos já foi cumprido. “É um orgulho enorme chegar até aqui. Mas abrir o caminho para que, talvez, venham mais raparigas, sentir que fomos as primeiras, é um orgulho enorme e muito gratificante. Eu sempre disse: o meu sonho será ser festeira. E o sonho tornou-se realidade”.

 

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