Diário do Alentejo

Viajar pelo Baixo Alentejo

05 de agosto 2022 - 15:00
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Conheça melhor os 13 concelhos do Baixo Alentejo, através da sua Rede de Museu

 

Numa região tão rica, em vestígios arqueológicos, cultura, costumes e tradições, o “Diário do Alentejo” leva-o, em jeito de proposta para as férias, nesta rota da Rede de Museus do Baixo Alentejo, onde há sempre algo de novo a descobrir em cada um dos 13 concelhos da região, tendo por base o Guia dos Museus do Baixo Alentejo, editado pela Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo (Cimbal) em maio deste ano.

 

Dividido em duas edições, esta semana poderá conhecer um pouco melhor das propostas dos concelhos de Aljustrel, Almodôvar, Alvito, Barrancos, Beja, Castro Verde, Cuba e Ferreira do Alentejo. Na próxima edição, será a vez de Mértola, Moura, Ourique, Serpa e Vidigueira.

 

 

 

 

 

 

ALJUSTREL

Multimédia0Os malacates marcam a paisagem mineira de Aljustrel

 

Partindo do ponto mais alto da Vila de Aljustrel, onde se situa a Ermida de Nossa Senhora do Castelo (séc. XIV), descemos a magnífica escadaria deste templo e ficamos perante a Igreja Matriz ou de São Salvador (séc. XV), situada no centro histórico e que constitui um dos maiores templos portugueses de uma só nave com abóbada lisa.

 

Nas imediações, o núcleo sede do Museu Municipal de Aljustrel convida-nos a compreender a evolução da ocupação do território desde a Pré-História até à atualidade, percebendo a relevância da atividade mineira ao longo dos tempos através dos núcleos temáticos da Pré-História; mineralogia e geologia das minas de Aljustrel e da Faixa Piritosa Ibérica; exploração mineira no período romano e o quotidiano da população mineira nos séculos XIX e XX. Atravessando a vila, chegamos ao núcleo museológico da Central de Compressores, construída em 1952 e equipada com um compressor proveniente de uma central de 1924 e outros mais recentes.

 

Neste espaço, agora silencioso, somos evadidos pela evocação força motora estrondosa, humana e maquinal, que não se apaga no tempo.

 

Saindo deste núcleo museológico e observando a sua zona envolvente deparamos com os Bairros Mineiros vizinhos, com as suas casas em banda, de Santa Bárbara e de Vale D’Oca. Nesta antiga zona mineira de Algares, subsiste um testemunho único de práticas mineiras que recuam ao séc. XIX e que já não existem em nenhuma outra mina da Faixa Piritosa Ibérica, os Malacates Viana e Vipasca.

 

Outros vestígios significativos são a Chaminé da Transtagana (estrutura onde se procedia à queima do minério a céu aberto), o Chapéu de Ferro (afloramento mineral à superfície do solo) e mais alguns bairros mineiros circundantes, designadamente, os Bairros Mineiros de Algares e do Plano.

 

Nesta antiga zona mineira, desativada, nasce o Parque Mineiro de Aljustrel que além de antigas estruturas relacionadas com os antigos processos de mineração e áreas arqueológicas do Período Romano, dá a conhecer uma antiga Galeria Mineira situada a 30 metros de profundidade e com cerca de 500 metros de comprimento, onde é possível “mergulhar” nas inúmeras tonalidades, num misto de cores surpreendente, resultante das várias formações geológicas que acontecem no seu interior.

 

Ao emergir desta fascinante visita, seguimos para um local não muito distante, onde se encontra o núcleo museológico do Moinho do Maralhas, um antigo moinho de vento recuperado.

 

Este é um local onde se desenvolvem atividades, frequentes, com a comunidade escolar em torno do tradicional Ciclo do Pão, que culmina na moagem dos cereais e posterior confeção do tradicional pão alentejano.

 

Voltamos à vila e vamos ao encontro do Centro de Documentação Local de Aljustrel que junta, alguns serviços municipais, depósitos do Arquivo e, desde 2020, o Núcleo Museológico do Tipógrafo. Aljustrel iniciou-se no mundo das artes gráficas em finais do século XIX até aos dias de hoje.

 

A finalizar encaminhando-nos até à freguesia de Ervidel, onde nos podemos deter no Núcleo Rural. Um espaço com duas vertentes agrícolas principais: o núcleo do mel, atividade outrora importante na freguesia e o ciclo do trigo, em que se apresentam os diversos utensílios e técnicas utilizadas nas diversas fases do processo que culmina no fabrico do pão.

 

Além destes dois focos reconstituiu-se uma cozinha e um quarto de dormir representativa de uma casa de assalariados rurais.

 

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ALMODÔVAR

Multimédia2O Museu da Escrita do Sudoeste de Almodôvar é o único no mundo dedicado a esta enigmática grafia

 

Andarilhar por ruas e ruelas deste Concelho é ingressar em todo um património arquitetónico caiado, é visitar o seu mercado, um monumento, o sítio arqueológico e todos os seus museus guardam toda uma memória coletiva viva, material e imaterial .

 

Almodôvar descreve-nos também, obrigatoriamente, um tempo que nos faz viajar até à mais antiga escrita conhecida na Península Ibérica e à segunda da europa, posterior apenas ao grego antigo que surgiu um século antes.

 

Esta escrita que se desenvolveu há mais de 2500 anos, recuando entre o séc. VII e o séc. V a.C., pode ser testemunhada no Museu da Escrita do Sudoeste de Almodôvar (MESA), o único no mundo dedicado a esta enigmática grafia.

Por aqui, podemos conhecer um significativo conjunto de estelas epigrafadas e objetos legados pelos cónios e outros povos, que se estabeleceram por estas paragens, na Idade do Ferro.

 

Este museu, localizado no centro da vila, merece ser visitado quer pela sua originalidade, quer por ser em si uma peça com conteúdos museológicos significantes. Por perto, na Praça da República, situa-se o Museu Severo Portela na antiga Casa dos Paços do Concelho, até ao séc. XIX, e edifício prisional até meados do século seguinte.

 

Aqui temos a oportunidade de conhecer trabalhos deste artista, pintor do séc. XX, que nos deixou um legado assinalável e de reconhecido mérito, e que por matrimónio passou a radicar em Almodôvar. Ainda neste museu dá-se a conhecer Memórias de um Ofício que evidencia a profissão de Sapateiro, uma atividade que, até à década de 60 do século passado, teve uma grande relevância para a região.

 

Com a pressão da industrialização e da emigração foram muitos os que se viram obrigados a procurar por outra vida. Nesta mostra apreendemos a diversidade de modelos de botas e sapatos que nos remetem para histórias de gente que com a sua mestria afirmaram esta arte manual.

 

Já em Santa Clara-a-Nova, no Museu Arqueológico e Etnográfico Manuel Vicente Guerreiro, viajamos por lembranças que aqui se sustentam e que com a exposição arqueológica dos achados das Mesas do Castelinho forma, com o próprio sítio, um conjunto que se complementa de maneira interativa e amplamente dinâmica.

 

Este espaço museológico, na sua vertente etnográfica, retrata cenários da atividade rural que carateriza a ceifa, a apicultura, a produção da cortiça e a pastorícia. São reminiscências do campo, essências da terra da aldeia, da forja do ferreiro, da oficina do abegão, da mercearia paredes meias com a taberna conhecida como “a venda”, a tecelagem, a escola, a barbearia, a casa do povo, a casa alentejana onde se destaca a cozinha com a típica chaminé e o alambique do medronho.

 

O Sítio Arqueológico de Mesas do Castelinho, a um par de quilómetros deste Museu, testemunha a ancestral ocupação do território. Nele foram encontrados artefactos datados da II Idade do Ferro, séc. V - IV a.C. até ao séc. II a.C., altura em que se dá a romanização, perdurando essa realidade até ao séc. II da nossa Era, tendo sido abandonado e, posteriormente, voltou a ser ocupado, durante o período Islâmico, entre os séc. IX e XI.

 

Este local, proporciona-nos de forma única, uma experiência que reside num espaço e num tempo vivencial, habitats, que percorrem o curso da História. Tudo em redor é aconchego no leito da natureza. Somos convidados a percorrer um passadiço circular que, de forma eficiente, nos mobiliza para a observação da muralha de fundação e para a pequena fortificação islâmica.

 

A escavação do período romano deixou a descoberto várias ruas do povoado, resultado da urbanização processada por essa altura. No Sítio Arqueológico de Mesas do Castelinho celebra-se o encontro de culturas e formas de saber, harmonizando-nos com o passado.

 

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ALVITO

Multimédia5A Ermida de São Sebastião, em Alvito e os frescos das abóbadas

São duas as freguesias do concelho de Alvito: uma homónima, onde se encontra a sede do município, e a outra, Vila Nova da Baronia.

 

Os primeiros testemunhos de vida humana neste território, de que há conhecimento, remontam ao Neolítico, às Idades do Cobre, Bronze e do Ferro. A possível civitas Mirietanorum que surge indicada numa inscrição romana encontrada na freguesia de Vila Nova da Baronia poderá ter-se localizado em São Romão, onde existe um povoado com cerca de 12 hectares de materiais e estruturas à superfície, cujas termas foram escavadas recentemente.

 

Este espaço habitado que poderá ter surgido ainda no decorrer da 2.ª Idade do Ferro manteve-se até aos nossos dias ocupado dando origem à actual vila de Alvito. As Villae de São Francisco, da Barras, de São Miguel, Vaqueminha e Malk Abraão, bem como as grandes explorações mineiras (minas de ferro) da Corte do Zambujal, Ferrarias e Água de Peixes, ou ainda o “castellum” do Castelo Picão são exemplos significativos reveladores da presença romana desde os inícios do séc. I a.C.

 

Posteriormente foram Visigodos e Muçulmanos a povoar este território. Em 1165, período em que Alvito era parte integrante do território de Évora, foi conquistado por Geraldo Geraldes, o Sem Pavor. Os descendentes deste caudilho português, a pedido de Dom Afonso III doaram Alvito e Mugya d’Arem (Vila Nova da Baronia) a Dom Estêvão Anes, chanceler-mor do reino.

 

Alvito tem espaços amplos, uma vida pacata, gente de paz, com o seu Castelo a coroar a sua singela beleza. Ao percorrermos esta encantatória vila por ruas, ruelas e praças descobrimos o seu povoado vestido de branco que com um olhar nosso, mais atento, apercebemo-nos que nestas se abrem ao nosso olhar portais com aduelas trabalhadas com figurações de Estilo Manuelino.

 

Os relevos armilares, florais, rostos, atingem níveis de representação imagética surpreendentes. O esplendor desta terra é visível, distinto em muitos monumentos como na Igreja Matriz, na da Misericórdia, na de Nossa Senhora das Candeias e em todas, no seu interior, encontramos um rico espólio de arte sacra.

 

A pintura mural, património visível nesta região, evidencia-se para nos chamar para uma visita. Como exemplo imperdível temos a Ermida de São Sebastião, do início do séc. XVI, obra arquitetónica do estilo manuelino gótico-mudéjar de nave única e capela-mor, comum no Alentejo e que é, desde 1961, considerada como um imóvel de interesse público.

 

A cobrir a totalidade das abóbadas no seu interior estão pintadas a fresco arcanjos esvoaçantes, músicos com instrumentos de corda e sopro, para nos receber celestialmente. Anjos e Santos, o São Sebastião, o Santo António surgem juntos ao altar.

 

Esta obra do séc. XVII da autoria de José de Escobar, morador em Évora é um trabalho de pintura mural notável que consta da Rota da Pintura a Fresco do Alentejo de que faz parte, também, entre outras, igrejas, ermidas e capelas, a Igreja Matriz e a Igreja Santa Águeda de Vila Nova da Baronia, local de romaria e tradição, pela Páscoa.

 

Na sede do Grupo Coral Papa Borregos de Alvito apresenta-se um museu vivo, com preceitos de vida, ensinamentos a definir todo um património material e imaterial que aqui se adivinha. Com adereços do trabalho rural, o do campo, onde ainda hoje funciona como tasca, espaço de encontro, de associação e convívio as gargantas secas, à mesa ou ao balcão, são molhadas com um copo de vinho, onde se come um petisco, o toucinho fresco e onde as vozes dos jovens e dos mais vividos se juntam a contarem histórias de vida, melodias do Cante.

 

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BARRANCOS

Multimédia7O Castelo de Noudar, a 13 quilómetros de Barrancos, é monumento nacional desde 1910

 

Visitar Barrancos é imperioso para quem pretenda conhecer uma terra portuguesa com uma identidade própria, onde pode encontrar-se o típico casario alentejano de arquitetura popular: casas caiadas de branco, de piso térreo e as senhoriais, com os balcões e janelas de influência andaluza.

 

Rica em tradições, com usos e costumes que, no seu todo, convidam à hospitalidade que a carateriza. Em Barrancos fala-se barranquenho, língua reconhecida pela Lei nº 97/2021, de 30/12.

 

Nas tradicionais Festas de Agosto, o copo e o petisco são sempre acompanhados pelo Cante Alentejano e as sevilhanas e dança-se com ritmos musicais diversos, com os pasos dobles a surgirem naturalmente, em sintonia com a sua forte paixão pela tauromaquia, componente cultural que tornou a vila célebre a nível nacional.

 

Na gastronomia, o porco preto evidencia-se numa variedade de pratos e produtos. Uma riqueza gastronómica, com enchidos de cura natural, únicos a nível nacional, com destaque para o presunto e a paleta, com denominação de origem protegida (DOP), que faz desta região, com o seu microclima peculiar, a sua capital.

 

A típica sopa de batata com bacalhau e ovos; o mondongo, prato confecionado com o “reboltilho” (molhinhos feitos com a dobrada do borrego) e “morcilha de lustre”, são alguns dos seus pratos imperdíveis.

 

O Museu Municipal de Arqueologia e Etnografia de Barrancos, inaugurado a 24 de agosto de 2007, está instalado numa antiga casa senhorial do século XIX, adaptada e requalificada para o efeito. O seu pátio central alberga um pequeno anfiteatro para eventos ao ar livre e nos seus dois fornos à lenha, recria-se, em ações programadas, o fabrico do pão tradicional.

 

Podemos salientar três divisões temáticas: a sala de arqueologia com utensílios e artefactos desde o Paleolítico ao séc. XVIII/ XIX; a sala com a representação do antigo Gabinete Médico Municipal (finais do século XIX/meados do séc. XX), onde se expõem instrumentos e mobiliário das variadas áreas da medicina utilizados pelos médicos municipais que exerceram em Barrancos; e a sala destinada às exposições temáticas e de caráter temporário, onde é exposto o valioso espólio etnográfico fruto de doações e que é testemunho das tradições e do património sociocultural do Município de Barrancos e das suas gentes.

 

Ao longe, onde a vista mal alcança, a cerca de 13 quilómetros da Vila de Barrancos, o Castelo de Noudar! Monumento Nacional desde 16 de junho de 1910, é propriedade do Município de Barrancos desde 1997. Rodeado pelo Parque de Natureza de Noudar, Herdade da Coitadinha, ergue-se sobranceiro, numa elevação, abraçado por duas linhas de água, o rio Ardila e a ribeira de Múrtega.

 

A sua posição privilegiada oferece em toda a sua envolvente uma vista deslumbrante, que transporta o visitante em harmonia com a natureza, às remotas origens da sua história. Em 1297, é definida a linha de fronteira pelo tratado de Alcanizes.

 

Em 1307, D. Dinis faz entrega ao Mestre Frei D. Lourenço Afonso, da Ordem Militar de S. Bento de Aviz com condição de proteger a região e povoar a vila. Ao longo dos tempos a zona de fronteira de Noudar/ Barrancos foi palco de conflitos e acontecimentos que marcaram a história da região.

 

Em 1936, aquando da Guerra Civil Espanhola, cruzaram a fronteira pelo rio Ardila, centenas de pessoas que fugiam da violência das forças nacionalistas do General Franco.

 

Por questões de segurança, foram conduzidos pelos militares portugueses para um campo de refugiados improvisado na Herdade da Coitadinha. Centenas foram salvas graças à proteção dos militares e à coragem e solidariedade do povo de Barrancos e do agente da Guarda Fiscal, Tenente António Augusto de Seixas, que desobedeceu a ordens superiores dando um exemplo de humanidade.

 

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BEJA

Multimédia9No Museu do Sembrano, em Beja, as ruínas podem ser observadas debaixo dos pés

 

Uma visita pelos museus de Beja deve começar no Núcleo Museológico da Rua do Sembrano. Permite-nos acompanhar, de uma forma sistemática, a história da cidade desde o seu início, entre o séc. V e IV a.C., até ao presente.

 

O Núcleo preserva um conjunto de estruturas arqueológicas revelador de momentos da história da cidade e sua evolução. É literalmente um passeio sobre o passado, graças à moderna construção do museu que permite a observação direta das ruínas por baixo do seu chão transparente.

 

Além deste aspeto, podemos disfrutar de duas exposições que incluem materiais arqueológicos encontrados em Beja e no seu território, que proporcionam uma viagem desde o Paleolítico até à nossa Era, e que incluem algumas das peças mais representativas da arqueologia portuguesa do século XXI, como é o caso do já muito conhecido “Touro de 5 Réis”.

 

O Museu Regional Rainha Dona Leonor é outro local de visita obrigatória. Com sede no charmoso edifício do Convento da Conceição, um dos bilhetes-postais favoritos da cidade, possui um notável acervo que abarca coleções que vão da arte antiga à arqueologia.

 

Este Museu compreende ainda um Núcleo Visigótico instalado na Igreja de Santo Amaro, originalmente um templo do período paleocristão, portanto, de finais do período romano, que foi sofrendo alterações até à configuração que apresenta atualmente, do início do séc. XVI.

 

O Museu Jorge Vieira, temporariamente instalado na antiga Casa do Governador no Castelo de Beja, é dedicado à obra deste escultor do séc. XX. Lisboeta, com uma profunda ligação a Beja, cidade à qual legou parte considerável do seu espólio artístico, Jorge Vieira teve um percurso de excecional importância na arte contemporânea.

 

Beja é o seu espaço urbano, com os seus monumentos e o casario do centro histórico, mas é também o campo e as aldeias do Alentejo rural. Aquilo que foi o Alentejo da grande produção agrícola, quando no século XIX a extinção das ordens religiosas e outras dinâmicas políticas, económicas e sociais possibilitaram o surgimento de uma nova elite no controlo da propriedade do campo, fomentando o seu desenvolvimento massivo, apoiado, já no séc. XX, pela mecanização.

 

A fertilidade da terra em redor de Beja conferiu à Campanha do Trigo um papel preponderante, e o modelo de exploração agrícola alimentou e fez crescer as lutas sociais e políticas dos camponeses pela melhoria das suas condições de vida e contra o regime ditatorial salazarista.

 

Após a libertação de 25 de Abril de 1974, o capítulo da Reforma Agrária começou precisamente no concelho de Beja, com a ocupação espontânea pelos trabalhadores da primeira herdade, na freguesia de Santa Vitória. Hoje o mundo rural encontra-se em rápida mudança, esta visão de organização agrícola já desapareceu e as aldeias estão em processo de desertificação, novas fainas, dinâmicas e lutas estão em curso.

 

Como sinal dos tempos passados, encontra-se às portas de Beja, quase servindo de atalaia à cidade, o Núcleo Museológico do Moinho Grande, um moinho de vento devidamente conservado e restaurado, onde ainda é possível sentir os aromas e ouvir os sons do agora quase mítico mundo rural do Alentejo.

 

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CASTRO VERDE

Multimédia11A cultura do Baixo Alentejo é o mote do Museu da Ruralidade em Castro Verde (Entradas)

 

O Museu da Ruralidade, do Município de Castro Verde, é constituído por quatro núcleos distribuídos pelo mesmo número de localidades do concelho: Lombador, Almeirim, Aivados e Entradas.

 

Para além de recolher, tratar, conservar e divulgar a sociedade, a economia e a cultura do mundo rural do Baixo Alentejo dos primeiros 70 anos do século XX, o Museu é ainda um espaço de investigação, estudo e debate sobre esta realidade.

 

Estes núcleos são espaços museológicos onde podemos testemunhar, a viva voz, a memória do campo da lavoura, das atividades tradicionais, hábitos e costumes próprios que elucidam sobre a sua gente.

 

No Núcleo do Lombador, situado a cerca de 10 quilómetros da vila de Castro Verde, encontramos o mundo dedicado à tecelagem e nele o visitante pode observar o ciclo da lã, que vai da tosquia até à produção de mantas em tear tradicional, passando, entre outras tarefas, pela lavagem, cardação e fiação.

 

Numa localidade a cerca de 11 quilómetros da sede de concelho, temos a “casa mãe” do Museu, o Museu de Entradas, inaugurado no ano de 2011, com uma área aproximada de 500 m2. Para além de uma exposição permanente dedicada à cultura cerealífera e às profissões ligadas ao mundo rural, o espaço museoógico incorpora, ainda, uma sala de exposições temporárias, um centro de documentação, contendo, entre outros materiais, as recolhas áudio e vídeo das memórias das gentes do “Campo Branco”, o Arquivo do Grémio da Lavoura do concelho de Castro Verde, bem como o da fábrica/moagem “Prazeres e Irmãos”, um pequeno auditório e um espaço de convívio / acolhimento com a configuração de taberna.

 

Por aqui, para além de outras curiosidades, podermos visitar a oficina do ferreiro, o espólio do último abegão de Castro Verde, algumas miniaturas de alfaias agrícolas e na área particularmente vocacionada à oralidade, que tem como pano de fundo a Feira de Castro e a viola campaniça, encontramos a manifestação singular do património imaterial desta região.

 

No Núcleo da Aldeia dos Aivados, a uma distância de 9 quilómetros de Castro Verde, temos a aldeia comunitária. Nela surge a história da aldeia comunitária dos Aivados, que cresceu e se desenvolveu em torno de uma propriedade rural com cerca de 500 hectares, administrada coletivamente pelo povo.

 

Aqui mostram-se acontecimentos, momentos marcantes que testemunham a vida quotidiana deste lugar que com perto de quatro séculos continua a construir a sua história.

 

O Museu da Lucerna, projeto em parceria entre a Cortiçol (Cooperativa de Informação e Cultura) e o Município, abriu portas em 2004, com uma coleção única de Lucernas da época romana (Século I-III d.C.), descobertas em 1994, na localidade de Santa Bárbara dos Padrões: um conjunto de utensílios de iluminação, decorados com motivos que evocam cenas da vida quotidiana do universo mitológico da Antiguidade, passando por representações de animais a simples objetos.

 

O Tesouro da Basílica Real de Nossa Senhora da Conceição de Castro Verde é um templo grandioso com um altar-mor revestido a talha dourada e interior com painéis de azulejo do século XVIII que retratam a Batalha de Ourique.

 

No Tesouro desta Basílica, núcleo museológico de arte sacra, é apresentado um conjunto de alfaias religiosas do concelho, com destaque para a Cabeça-Relicário de S. Fabião (Casével) e a Custódia da própria Basílica.

 

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CUBA

Multimédia13O Museu Literário Fialho de Almeida é, por si só, um motivo de visita a Cuba

 

Cuba foi um lugar tornado vila em 1782, é concelho do Baixo-Alentejo com poucas letras, mas grande a cantar, a contar e afirmar as histórias antigas da sua gente. Podemos dizer que, desde os primórdios da humanidade, nesta zona viveram gentes que a ocuparam até à atualidade e a distinguiram de forma determinante com os costumes e vivências que marcam o ADN de todo este território.

 

Próximo de Vila Alva e Albergaria dos Fusos há vestígios de monumentos megalíticos, as antas. Dos Romanos encontramos uma ponte, sobre a ribeira de Odivelas, na via romana Beja - Évora e uma Represa Romana, junto à Ermida de N. Sr.ª da Represa em Vila Ruiva.

 

Cada freguesia tem as suas peculiaridades: Vila Alva tem um Museu de Arte Sacra e Arqueologia; Faro do Alentejo tem a Igreja Matriz, um pequeno Museu de Pintura Mural; Vila Ruiva um Núcleo Museológico, na Igreja N. Sr. Jesus da Ladeira.

 

Para se conhecer a vivência de Cuba é obrigatório passar pelas tabernas e adegas. A tríade cante, taberna e vinho avizinha melodias, paladares e histórias queridas.

 

Inaugurado em 2019, o Museu Literário Fialho de Almeida assume um lugar de destaque em Cuba e em toda a região. Revela a importância do escritor Fialho de Almeida (1857-1911) no panorama literário e artístico do seu tempo, em especial no período de transição entre o séc. XIX e XX, de finais da Monarquia ao início da República.

 

Este espaço museológico oferece aos seus visitantes um trajeto com suportes interativos, e permite antever o Homem escritor, a sua obra, o crítico inconformado e a vertente mais inesperada do seu gosto pela gastronomia. Um espaço de residência artística articulado com o museu é, por si, o convite à estadia de novos autores para a elaboração de projetos em torno da pessoa e obra aqui personificadas.

 

Do seu gosto pela gastronomia, escreveu como que um “tratado de cozinha alentejana”, e criou mesmo os seus petiscos, como a famosa receita “arroz de perdizes – à Fialho”, que podemos degustar em alguns restaurantes típicos de Cuba.

 

A Casa do escritor, com o seu espaço reservado à atividade agrícola, permite-nos, de algum modo, entrar num mundo etnográfico, a raiz rural da vila. Uma dorna atesta a existência de uma adega e produção de vinho de talha.

 

Outros espaços a visitar em Cuba são o Museu Caluta, de António Bicho, uma oficina de abegão, de família. Aí o Mestre produziu trabalhos em madeira, como o mobiliário rústico e peças que recriam em miniatura todo um imaginário vivencial marcadamente rural: réplicas de alfaias agrícolas, das tasquinhas, da Igreja de São Vicente, entre outras.

 

Esta vila é rica em antigas casas de lavradores, com ar imponente, a maior parte do séc . XVIII e XIX, das quais se destacam o Eco-Palacete Borralho Relógio e a Quinta da Esperança.

 

Vila Ruiva dispõe de um museu peculiar, único no país, com insetos vivos sem asas. Casulos de formigas e abelhas sem asas são por aqui visitáveis, no Insetozoo.

 

Em Vila Alva encontramos “Cenas da Vida Rural Tradicional”, na casa da viúva de Francisco Taborda, que ele próprio construiu, em miniaturas de objetos e utensílios de todo um património agrícola tradicional.

 

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FERREIRA DO ALENTEJO

Multimédia15A Casa do Vinho e do Cante, Taberna Zé Lélito é um tesouro etnográfico em Ferreira do Alentejo

 

Em pleno centro da vila, na Casa Agrícola Jorge Ribeiro de Sousa, edifício do século XIX, encontra-se o seu Núcleo Sede. É aí que podemos iniciar um longo percurso de visita a este território, que começa com a evocação do momento zero de qualquer contagem – a criação do universo – e continua revelando a evolução do território, desde o quarto milénio antes de Cristo até ao presente.

 

A mensagem é essa: nós não somos senão os locatários atuais do território, outros já aqui estiveram, viveram, trabalharam e amaram a mesma terra.

 

O Museu preserva, para o dia seguinte, a história contada pelos vestígios deixados por essas passagens. O núcleo sede oferece ainda aos visitantes uma sala de exposições temáticas e temporárias, um auditório e uma loja de onde pode levar consigo um produto de origem local ou da chancela do Museu.

 

Para os visitantes menos casuais, existe um espaço para investigadores que integra laboratório e valências educativas.

 

A alguns metros de distância, o Núcleo Museológico de Arte Sacra, sedeado na Igreja da Misericórdia, transporta-nos numa nova viagem histórica que se inicia no século XIV, dando a conhecer a antiga Confraria do Santíssimo Sacramento que ali se manteve até ao século XX.

 

É possível observar aspetos do seu papel na assistência hospitalar, posteriormente assumido pela Misericórdia, através da sua atividade religiosa em paralelo com a atividade clínica medieval.

 

O passado e o contemporâneo ligados por um cicerone virtual interativo, que oferece a sua ajuda aos visitantes. O Arquivo Municipal é um núcleo museológico recente que alberga o património arquivístico concelhio.

 

Dotado de uma moderna infraestrutura especializada, preserva em condições exemplares, toda a informação histórica ou funcional contida nos inúmeros documentos ligados à edilidade, manuscritos e impressos desde o século XVI até ao presente.

 

Com um interesse particular na esfera da arqueologia, no Sítio da Villa do Monte da Chaminé, encontram-se vestígios importantes que testemunham a sua ocupação desde o século I até ao século VII – uma casa de habitação e elementos relacionados com a existência de um lagar com 2000 anos.

 

A descoberta de ossadas de um peregrino jacobino nas imediações deste núcleo, afirma a probabilidade do lugar ter pertencido a um troço medieval do caminho de Santiago. Voltando ao centro da vila, que tal ir beber um copo na Casa do Vinho e do Cante, Taberna Zé Lélito.

 

Um tesouro etnográfico que recupera a memória das antigas tabernas tradicionais do Alentejo. É uma cápsula do tempo viva, frequentemente palco de atividades culturais que aludem a diferentes manifestações do Património Cultural Imaterial, nomeada mente as relacionadas com o “saber fazer” do vinho em talha, com a poesia popular, com o Cante e com o receituário tradicional.

 

Aspetos que sempre caraterizaram e continuam a caraterizar a vida cultural do concelho, e um exemplo da filosofia de Museu vivo e aberto para a comunidade, seguido em Ferreira do Alentejo.

 

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