Diário do Alentejo

HiJiffy, da Vidigueira para a Europa

30 de julho 2022 - 11:00
A startup alentejana HiJiffy trabalha com mais de 1600 hotéis e em mais de 30 países diferentes
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Sediada na Vidigueira, a empresa tecnológica alentejana HiJiffy lançou recentemente a sua aplicação Aplysia OS que pretende personalizar, através da inteligência artificial, a relação entre os hóspedes e os hotéis, dando-lhes uma “experiência perfeita”.

 

Texto Ana Filipa Sousa de Sousa

 

Conversas, conexões, consola e cloud são as palavras-chave que servem de motor à aplicação hoteleira Aplysia OS, desenvolvida pela startup alentejana HiJiffy, que visa “criar interações refinadas entre os hotéis e os seus clientes em todas as fases da jornada do hóspede, desde a pré-reserva até à pós-estadia”. Sediada na rua das Eiras, em Vidigueira, esta “tecnologia revolucionária” aposta na inteligência artificial para uma resposta rápida e uma experiência personalizada a cada usuário.

 

Por enquanto, o “Assistente de Reservas”, destinado aos clientes, e o “Concierge Virtual”, aos proprietários hoteleiros, são as únicas soluções disponíveis pela Aplysia OS. Com o primeiro é possível que os hospedes façam reservas “onde quer que estejam, 24 horas por dia e sete dias por semana” em 100 idiomas diferentes através do site oficial, facebook, instagram, whatsapp ou Google My Business – dos hotéis. Por sua vez, a segunda funcionalidade, “muito procurada”, permite “comunicar com os hóspedes em todas as etapas da sua jornada, potenciando oportunidades de upgrades de quarto e upsell ao mesmo tempo que diminui contactos [pessoais com os funcionários] e digitaliza a experiência”.

 

“A hotelaria é mais do que um serviço, é uma experiência que depende do lado humano e por isso a Aplysia é mais do que uma tecnologia, é uma visão, [que pretende] quebrar as barreiras entre o que é a interação da inteligência artificial e a humana. A Aplysia unificará estes dois lados, dando lugar a uma única interação, sem barreiras”, começa por explicar ao “Diário do Alentejo” o cofundador e diretor de tecnologia (CTO) da HiJiffy, José Mendonça.

 

Assim, para o CTO de 44 anos, o intuito da aplicação não passa por “substituir os humanos no setor da hotelaria, mas sim o contrário, [ou seja] melhorar o papel desempenhado pelo staff, caminhando lado a lado para oferecer uma experiência perfeita aos hóspedes”, afirma.

 

O PODER DAS EMOÇÕES E DOS SENTIMENTOS

A conectividade entre hóspedes e hotéis, o acompanhamento personalizado, as interações constantes, a gestão fácil da aplicação em todos os dispositivos e até a escalabilidade e segurança oferecidas, são algumas das vantagens da Aplysia OS. Contudo, a sua capacidade de autoaprendizagem e de soluções, bem como a forte análise de sentimentos e de linguagem são a sua marca de irreverência.

 

“A Aplysia é alimentada por uma robusta inteligência artificial treinada nos últimos seis anos com milhões de questões exclusivamente relacionadas com a indústria hoteleira, sendo capaz de lidar com uma variedade de desafios de linguagem humana relacionados com a sintaxe, análise semântica e emoções. [Neste caso], ao entender as emoções, o sistema é capaz de priorizá-las e encaminhá-las automaticamente para o departamento certo”, esclarece José Mendonça. Ao longo da conversa, entre o hóspede e a aplicação, esta consegue analisar se a mesma está a ser positiva, neutra ou negativa e prosseguir com o “fluxo de atendimento normal sem qualquer interação com um agente humano”, redirecionar para a equipa do front-office ou diretamente para o diretor do hotel, por exemplo.

 

“PARA MIM SEMPRE FOI UM SONHO CRIAR ALGO TECNOLÓGICO NO ALENTEJO”

Partindo do gosto pela tecnologia e pela vontade de “atrair as pessoas e as empresas para a região alentejana”, José Mendonça, Tiago Araújo e Pedro Gonçalves fundaram, em 2016, a startup HiJiffy na Vidigueira, com o foco em conseguir “criar soluções que permitam digitalizar as interações entre hotéis e os seus hóspedes com recurso à inteligência artificial”.

 

O leque de mais de 1600 hotéis, distribuído em mais de 30 países que trabalham com a HiJiffy, levou à necessidade de abrir portas em outros pontos estratégicos, como Lisboa, Barcelona, Paris e Londres, mantendo a sua sede na pequena vila alentejana. Porém, a difícil “batalha” de atrair mão-de-obra qualificada para o interior alentejano, face ao êxodo rural que existe em busca de novas oportunidades de vida em outros países ou nas grandes cidades, limitou desde cedo a empresa que se viu obrigada a tornar-se “100 por cento remota”.

 

Para José Mendonça, esta modalidade de trabalho é também ela uma mais-valia para os seus profissionais, que “têm a possibilidade de trabalhar a partir de onde quiserem, não tendo de ir diariamente para um escritório”. Contudo, acredita que a pandemia veio também ela mudar a forma como os jovens veem o interior do país.

 

“Durante anos, este conceito [de fixação de empresas nos grandes centro urbanos] fez sentido, pois era onde se concentrava a mão-de-obra e as empresas posicionavam-se no sentido de retirar proveito dessa dinâmica. Mas, com a pandemia, esta noção alterou-se, uma vez que a tecnologia veio permitir que as pessoas mantivessem a sua produtividade sem terem de estar fisicamente num escritório. Ora, se juntarmos a este novo paradigma outros fatores económicos, tais como o elevado custo da habitação ou a dificuldade que é para os jovens casais encontrarem creches a preços acessíveis, tal acaba por fazer com que viver num município como a Vidigueira, em que é possível ter acesso a um conjunto de infraestruturas de qualidade, comece a ser atrativo para muitas jovens famílias”, afirma.

 

Assim, o CTO garante que é altura de aproveitar este metamorfismo e apostar num “esforço concentrado por parte dos vários decisores políticos e empresariais” nesta nova forma de trabalho à distância, na “fixação de talentos” nas regiões envelhecidas e despovoadas, como o Baixo Alentejo, e em zonas onde as preocupações e a consciência face às alterações climáticas e a sustentabilidade estão em maior destaque. Logo, José Mendonça acredita que o Alentejo deve valer-se destes pontos a favor e permitir que os jovens produzam “riqueza através de projetos inovadores que agora têm a capacidade de desenvolver a partir das suas aldeias e vilas”.

 

“Com as oportunidades certas, estou certo de que muitos jovens preferirão a qualidade de vida que a Vidigueira e outras regiões alentejanas podem proporcionar face à azáfama de Lisboa, por exemplo”, completa.

 

Quando questionado quanto à afirmação do município para o desenvolvimento empresarial, José Mendonça não tem dúvidas que a “aposta importante” passa pela criação da incubadora de startups no concelho, a Wine Business Center. Esta tem como principal finalidade contribuir para a criação e crescimento de novos negócios, dando-lhe o apoio necessários na fase inicial da atividade.

 

“Na verdade, a própria HiJiffy tem interesse em integrar a incubadora. Ao sermos incubados pela Wine Business Center, aproveitando o apoio do município e de outros poderes centrais alentejanos, podemos promover mais as empresas de tecnologia para que as pessoas acreditem que é possível, a partir de uma ideia, desenvolver coisas no Alentejo, cativando mais jovens e profissionais que queiram trabalhar nesta área”, afirma o vidigueirense. A oportunidade de pertencer à incubadora permitirá que a empresa tenha “uma casa para receber e manter uma porta aberta, seja para esclarecer questões, alcançar potenciais clientes ou até mesmo para conhecer profissionais interessados em trabalhar”, visto que neste momento a sede da HiJiffy é praticamente online.

 

DE OLHOS POSTOS NOS MERCADOS FRANCÊS E INGLÊS

O futuro prevê-se trabalhoso e exigente para a HiJiffy. O foco primordial dos próximos meses está na constante atualização da inteligência artificial da Aplysia OS, ao nível do processamento de uma linguagem natural, da análise comportamental dos hóspedes e de uma capacidade de predição e previsão de machine learning. Também o campo do marketing terá uma especial atenção daqui em diante, com a implementação de um plano de gestão do relacionamento com o cliente (Customer Relationship Management), com recurso ao Big Data, onde será possível compreender e direcionar, de forma cada vez mais personalizada, cada hóspede.

 

Por fim, “a nível da penetração no mercado o nosso grande foco passará pela solidificação da posição da HiJiffy como solução líder para a comunicação com hóspedes a nível ibérico e por uma forte aposta na conquista de quota de mercado em dois mercados estratégicos na Europa, o Reino Unido e a França”, revela, ao “DA”, José Mendonça.  Assim, o desejo para o futuro está em “superar as expectativas” propostas, continuando a oferecer “uma ferramenta flexível e personalizada” que vá ao encontro das necessidades e objetivos, mantendo o impacto positivo nas estadias de cada cliente.

 

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