Diário do Alentejo

9ª Edição do FITA já está a decorrer

06 de maio 2022 - 16:20
Festival Internacional de Teatro do Alentejo estará presente em 11 municípios alentejanos até ao dia 14 de maio

 

António Revez, diretor artístico do FITA, explica a escolha de Espanha como país convidado, faz um balanço do percurso que o festival percorreu nos últimos anos e perspetiva as próximas edições. 

 

Texto Ana Filipa Sousa de Sousa

 

É no acolhedor espaço da Galeria do Desassossego, em Beja, que os telefonemas e os emails de preparação e organização fazem a 9.ª edição do Festival Internacional de Teatro do Alentejo (FITA) ganhar forma de dia para dia. Ao som da chuva que se fez ouvir e sentir repentinamente no início da semana e da luz do sol que surgiu depois pelas portas vão-se acertando as horas de chegada e de partida, os locais de dormidas e refeições, revendo minuciosamente o percurso destinado a cada companhia, grupo ou músico convidado e, ainda, resolvendo problemas de última hora. Aqui estão seis das dez pessoas que compõem a equipa de trabalho que conduz o FITA com algum medo, mas com um forte sentido de realização e desafio durante os próximos dias.

 

Este ano, o FITA apresenta-se com uma nova “particularidade” que promete ficar para as edições futuras, a de integrar um país convidado no festival com a intencionalidade que essa presença permaneça durante todo o ano. Para o diretor artístico, António Revez, esta possibilidade de unir dois países à volta de um evento cultural é “o grande destaque que marca uma mudança na nossa estratégia de programação”, conta ao “Diário do Alentejo (“DA”). Assim, explica que o objetivo não passa apenas por trazer notoriedade aos países e às suas criações artísticas, mas “dar o máximo em quantidade, qualidade e diversidade ao público que, numa concentração de dez dias, tem a possibilidade de assistir a espetáculos oriundos do Brasil, México, República Dominicana, Argentina e Espanha”, bem como “estabelecer relações profissionais de futuro”. Estas passam por “firmar acordos de colaboração que perduram, anualmente, a nível da dramaturgia, de residências artísticas ou da circulação de espetáculos”. O FITA vem, então, trazer a oportunidade para que as companhias estabeleçam contactos com produtores, promotores e outros grupos para futuras coproduções, intercâmbios de artistas e organizações de digressões internacionais, potenciando as relações com o exterior.

 

Nesta edição, Espanha foi o país escolhido para dar início a este novo marco do FITA. “O facto de Espanha ser o país convidado assenta em várias razões. Uma é porque é um país mais acessível em termos de deslocações de artistas e outra é porque já tínhamos detrás outros acordos [com companhias e entidades espanholas], quer com o Centro e Teatro Nacional Galego, quer com a Junta de Andalucía, por exemplo, o que nos facilitou a escolha. E essencialmente porque somos vizinhos e acho que todas as medidas que consigamos ter para fortalecer as relações entre Portugal e Espanha são de salutar e bem-vindas”, esclarece o ator.

 

Esta personalidade latino-americana foi, desde a primeira edição, um registo seguido pelo FITA, estando relacionada com “a própria génese do festival”, o convite de companhias e grupos “mais ou até em exclusividade de países ibérico-americanos”. Contudo, a representatividade e a analogia entre estes e os países africanos “faz falta” e daí surgir também a necessidade de incluir “sempre um ou dois representantes desses países”, como a peça deste ano “Karingana e a Batucada de Contos”, do moçambicano Klement Tsamba.

 

Nos próximos dias, o FITA oferece, em 11 concelhos, uma “programação com mais qualidade e quantidade de espetáculos apresentados”, bem como “uma componente de atividades paralelas de concertos e músicos que vêm dos países américo-latinos”, como é o caso das atuações de Martin Sued, da Argentina, Leo Middea, do Brasil e de Afro Cromatic, da Colômbia.

 

“O PERCURSO DE UM FESTIVAL É SEMPRE TITUBEANTE E PERICLITANTE”

Em jeito de balanço das últimas edições e do que estas acrescentaram ao FITA, António Revez compara a produção de um festival a um filho, ao qual é preciso dedicar tempo e paciência, alimentar, acarinhar e deixá-lo crescer ao longo dos anos e “para o resto da vida”. Desde 2014, ano em que nasceu este projeto da companhia de teatro Lendias d’Encantar, o diretor artístico acredita que, de edição para edição, a equipa tem conseguido “sempre acrescentar algo novo”, sem que tenha “havido uma perda ou uma descontinuidade das ações”. E esta é a conceção para a evolução de um “festival num panorama nacional e internacional” que não pode estagnar nem perder valências. 

 

Para o ator, o percurso do FITA ao longo destes nove anos tem sido “titubeante, periclitante, com altos e baixos, com mais ou menos condições”, mas, ao mesmo tempo, “tranquilo, quer a nível financeiro, quer a nível de municípios parceiros, quer a nível de trabalho em equipa”. Neste ponto, reconhece o valor que a experiência tem trazido às Lendias d’Encantar, onde o surgimento de problemas grandes passou a ser resolvido com uma “maior facilidade”. Ainda assim, admite que, em termos logísticos, “é cada vez mais complicado” dado o aumento de convidados, refeições, dormidas e peças gráficas que correm os diversos concelhos e que só a vontade e o prazer de realizar um evento desta dimensão são capazes de os aliviar.

 

Este recente, mas trabalhado, caminho desenvolvido, “numa região periférica do interior e com uma oferta cultural internacional muito débil”, tem permitido minimizar algumas “lacunas de oferta artística” e permitir ao público ter contacto com a arte que se faz no “Brasil, México ou na Republica Dominicana, por exemplo”. A capacidade de potenciar a região, através do turismo, é outro dos fatores no qual o FITA tem mostrado um resultado positivo. “Eu acho que sim, que o FITA é uma mais-valia para o turismo no Alentejo. Por um lado atrai algum público da raia espanhola que se desloca não só a Beja, como a Elvas, Campo Maior, Ponte de Sor para assistir aos espetáculos das companhias do seu país e, depois, contribuímos de alguma forma significativa para aqueles turistas que já vem ao Alentejo, ou seja, que não vêm propositadamente para o festival, tenham acesso a uma oferta cultural maior e mais interessante”, garante ao “DA”.

 

“PARA O FUTURO PROJETOS NÃO NOS FALTAM”

Há muito que a imprevisibilidade do futuro deixou de os assustar. Se a pandemia condicionou a vida de todos, muito mais se sentiu num festival desta dimensão. Contudo, o FITA beneficiou de uma consequência positiva desta mudança de rotinas. “Nós, em 2021, tivemos que alterar a data do festival de março para maio e demos conta de que seria muito mais interessante fazê-lo neste mês, porque nos permite, em edições futuras, ter uma programação de rua, que antes não tínhamos por causa da instabilidade do tempo”, confessa o encenador, confirmando que a ambição é que esta valência tenha inicio já na próxima edição.

 

Desta forma, e de um modo geral, o futuro do FITA passará pelo “desejo de manter a qualidade e a quantidade dos espetáculos”, colaborar para o crescimento da circulação de grupos e de produções teatrais portuguesas no exterior e valorizar e aumentar a capacidade de afirmação internacional “não só do FITA, mas do teatro português e da dramaturgia portuguesa”. Especificamente, para António Revez, o festival “deve continuar o percurso que tem feito de forma tranquila, calma, serena e sem dar passos maiores que as pernas”.

 

A 9.ª edição do FITA tem a cidade de Beja como palco principal, estendendo-se a Aljustrel, Arraiolos, Campo Maior, Ferreira do Alentejo, Grândola, Mértola, Ponte de Sor, Santiago do Cacém, Viana do Alentejo e Vidigueira até ao próximo dia 14 de maio.

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