A aldeia de Luzianes-Gare, no concelho de Odemira, inaugurou recentemente um mural de azulejos com “história, tradição e memória” através do Colectivo GIRA.
Texto Ana Filipa Sousa De Sousa
No final do mês de março, na aldeia de Luzianes- Gare, no concelho de Odemira, foi inaugurado o mais recente projeto de arte pública e participativa do Colectivo GIRA, um mural com azulejos doados pela população.
Miguel Romo, um dos artistas plásticos responsáveis pelo projeto, conta ao “Diário do Alentejo” que a primeira ideia da iniciativa surgiu em 2015, quando se mudou para a região alentejana com “inúmeras coisas que trouxe em caixas e malas”, entre elas “uma caixa de azulejos antigos, todos diferentes” doados pelo seu pai. Na entrada da localidade de Luzianes havia uma passagem inferior “cinzenta” e numa das suas “idas e voltas a Lisboa as duas imagens finalmente juntaram-se”, a tradição dos azulejos típicos portugueses num local público e de passagem ajudariam “a mudar a face” a esta aldeia. Ao fim de cinco anos, Cláudia Brück e Mariana Dias Coutinho, também a viver no concelho, juntaram a sua “vontade em estimular o interior através da arte, da intervenção no espaço público, da participação social” à intenção de Miguel Romo e daí deram asas ao projeto.
Entre os meses de setembro e novembro de 2021, a população foi chamada a doar como “único elemento da composição” os diversos azulejos que tinham em casa e a contar a sua história. O objetivo não era apenas embelezar o túnel da linha ferroviária do Sul, mas também “aprofundar a relação entre os habitantes, a obra artística e o sentimento de pertença, história, tradição e memória” em conjunto com “uma certa contemporaneidade”, revela.
Posteriormente, nos três meses seguintes o Colectivo GIRA debruçou-se sobre a composição artística do mural, que veio a ser instalado entre o fim de fevereiro e o início de março. “A instalação também contou com a participação de muitos dos habitantes que se voluntariaram para colocar os azulejos nas paredes e a cozinhar para o grupo de trabalho. Durante a instalação do mural, as pessoas da aldeia passavam frequentemente a felicitar a iniciativa e o trabalho executado. Foi um trabalho de todos, bastante participativo e que motivou e alegrou a aldeia”, confessa Miguel Romo.

Para a artista plástica Mariana Dias Coutinho, o projeto deve ser descrito como envolto em pluralidade, participação e harmonia, completada por Miguel Romo por união, beleza e memória. Por sua vez, a artista Claudia Brück acredita que, a iniciativa que está agora exposta ao público, faz parte de uma “arte que cria sentimentos de pertença” e que se torna “uma mais-valia para o território e as suas gentes”.
A presidente da Junta de Freguesia de Luzianes-Gare, Teresa Bernardino, garante que o mural “veio embelezar a aldeia numa zona cinzenta, que agora é um espaço agradável”, sendo que, durante a sua construção, o “grupo agitou parte da população para se envolver, o que foi muito positivo, criando uma bonita obra com um bocadinho de todos”.
Agora concluído, iniciar-se-á a edição de um livro que contará as “oralidades e estórias associadas aos azulejos [presentes no mural] e aos habitantes” de Luzianes, assim como todo o processo criativo do Colectivo GIRA acompanhado por fotografias. Este terá formato impresso e digital e servirá de arquivo visual e literário da iniciativa e do seu resultado.