Diário do Alentejo

Tunas Académicas de Beja "unidas pela música"

03 de março 2022 - 12:00
Tuna Académica de Enfermagem de BejaTuna Académica de Enfermagem de Beja

Texto Ana Filipa Sousa de Sousa

 

O espírito de união, companheirismo, tradição e orgulho são alguns dos valores que as tunas académicas em funcionamento na cidade de Beja revelam ao “Diário do Alentejo” como elementos fundamentais para cada atuação. Em tempos, Beja contou em média com sete tunas a funcionar em simultâneo nas diferentes escolas superiores. Atualmente, apenas fazem “jus” ao espírito académico a Tuna Académica de Enfermagem de Beja, a Tuna Universitária de Beja, a Estigma Tuna e a Ma’Estig’AMA Tuna.

 

Cada uma delas tem momentos e percursos diferentes e é dessa bagagem que as diferencia umas das outras. A Tuna Académica de Enfermagem de Beja, que integra de forma mista todos os alunos da Escola Superior de Saúde, iniciou os seus ensaios em 2002 e deste então que, com as suas composições e arranjos originais, organiza o Festival das Tunas de Enfermagem do Alentejo (FTEnfAl) e marca presença em diversos palcos, conquistando assim inúmeros prémios.

 

Por sua vez, a Tuna Universitária de Beja, fundada um ano depois, nasceu com o intuito de abranger todos os cursos da cidade e desde cedo mostrou o seu gosto por “voos” fora de Portugal ao ser apadrinhada pela Tun’América de Porto Rico, já contando com atuações em Espanha, França e Porto Rico no seu passaporte.

 

A Escola Superior de Tecnologia e Gestão soma duas das quatro tunas já mencionadas: a masculina Ma’Estigma’Ama e a tuna feminina Estigma Tuna. A primeira, formada em 1998, é das tunas “anciãs” ainda a atuar em Beja.

 

“Apesar de nos termos unido pela música, o significado [de pertencer a uma tuna] vai além disso, porque sabemos que realmente podemos contar com toda esta grande família para os bons e maus momentos”, revela Inês Franco, relações públicas da TAEB.

 

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Fotografia - Tuna Universitária de Beja

 

Este sentimento familiar, mútuo entre as tunas, misturado com “uma boa dose de loucura”, uma “paixão ardente pela música” e um “amor pela cerveja”, tornam-se um “diário” que relata “as experiências de qualquer aluno universitário”, desde o primeiro amor ao coração partido e até aquela cadeira “chata que tramou o ano”, confidenciam Daniel Matos, da Tuna Universitária de Beja, e Pedro Parreira, da Ma’Estig’AMA. Segundo Inês Franco, a Tuna Académica de Enfermagem de Beja tem como propósito para com os estudantes e ex-estudantes que a integram “ajudar cada um a melhorar a nível pessoal, cultural e também profissional as qualidades, através da aprendizagem em conjunto e da partilha de conhecimentos”. Sendo por isso “uma importante ferramenta para nos ajudar a respeitar as diferentes hierarquias e a crescermos com as experiências vividas”. Por sua vez, Daniel Matos refere que a Tuna Universitária de Beja tem “várias funções” desde a vertente lúdica á pedagógica, permitindo aos alunos e ex-alunos encontrar “um espaço para poderem ter contacto com a música, podendo até aprender a cantar e a tocar” e onde, ao mesmo tempo, “se transmite valores e responsabilidade civil”.

 

Em contrapartida, a Tuna Ma’Estig’Ama garante que a sua “cereja no topo do bolo” passa por “causar diferentes sentimentos”. E explica: “ [Pretendemos] entreter os espetadores com a música e criar uma familiarização com a tuna”. São então apresentadas nas suas atuações “músicas para alegrar, músicas para rir, músicas de amor e outras de nostalgia ou melancolia perfeitas para levar lágrimas”, conta Pedro Parreira.

E neste ponto, as tunas voltam a encontrar-se. “Lembro-me que estávamos na rua e de repente vieram-nos dizer que existia ali uma senhora, num café, já de alguma idade, que fazia anos. Fomos tocar-lhe uma serenata e, segundo ela, foi dos dias mais felizes da sua vida”, recorda Daniel Matos.

Além disso, o “orgulho de levar na voz a cidade de Beja e o espírito baixoalentejano” faz com que cada uma entre em palco com a missão de “enriquecer ainda mais a cultura” e as gentes da região.

 

“De facto, as tunas são um elemento agregador da nossa comunidade académica e da relação desta com a comunidade. É interessante observar que ex-alunos do Instituto Politécnico de Beja (IPBeja) continuam a pertencer a algumas das nossas tunas”, refere a recém-eleita presidente do IPBeja, Fátima Carvalho. Defendendo ser importante “valorizar  este tipo de agrupamento musical”, a responsável compromete-se a “analisar as dinâmicas e atividades de cada uma das tunas”, procurando “apoiá-las e integrá-las nas atividades” do Politécnico.

 

Multimédia1Fotografia - Tuna Ma'Estig'AMA

 

Também, Luís Carlos Martins, presidente da comissão de gestão da Associação Académica do IPBeja, garante que as tunas têm vindo a adquirir um papel de “guardiões de algumas das tradições mais antigas que ainda hoje se perpetuam na nossa comunidade académica”, assumindo ainda a função de “motor de integração dos novos estudantes e de iniciação dos mesmos no associativismo estudantil. A par de tudo isto, e muito embora o menor fulgor que vivenciam, agravado pela pandemia, continuam a “desempenhar um papel importantíssimo na dinâmica cultural da academia”. Luís Carlos Martins garante que um dos objetivos da associação passa por dotar as tunas de “condições logísticas” e de “apoios técnicos e financeiros necessários à prossecução das suas atividades”.

 

Fátima Carvalho confessa que “gostaria de ver uma Tuna Académica do IPBeja como elo agregador da comunidade, promotora da cidade e das expressões culturais”, bem como o “surgimento de outras dinâmicas culturais associadas, por exemplo, à criação de um grupo coral polifónico de Cante Alentejano ou grupos que refletissem a diversidade cultural da nossa comunidade de estudantes internacionais com origem nos Países de Língua Oficial Portuguesa ou no Brasil”.

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