Diário do Alentejo

Salários da Misericórdia de Serpa já foram pagos

17 de março 2022 - 16:00

Os funcionários do hospital de São Paulo, em Serpa, não receberam o vencimento relativo a março na data devida, no último dia do mês anterior. Tal só aconteceu na segunda-feira, dia 7. A administração diz que o atraso se ficou a dever a uma série de infelizes coincidências; os trabalhadores temem que a situação se volte a repetir.

 

Texto Aníbal Fernandes

 

António Sargento, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Serpa (SCMS), entidade gestora do Hospital de São Paulo, disse ao “Diário do Alentejo” que o atraso no pagamento dos salários se ficou a dever a uma série de falhas nos pagamentos devidos à instituição por parte da Segurança Social, Administração Regional de Saúde e Unidade Local de Saúde do Alentejo (Ulsba) e que resultaram de coincidências no calendário que atrasaram as transferências bancárias.

 

“As entidades não andam a nadar em dinheiro, mas em três anos e três meses, isto só aconteceu uma vez”, diz o provedor da SCMS. António Sargento refere que “apesar da conjuntura pela qual passámos durante a pandemia, conseguimos ultrapassá-la sem reduzir serviços nem funcionários”.

 

“O País parou, mas as contas não”, acrescentou e lembrou que “os hospitais foram abandonados pelas pessoas” e as receitas próprias sofreram com isso. O administrador do Hospital de Serpa diz que este equipamento é o único hospital de retaguarda do distrito de Beja, mas diz que as “urgências não são feitas para dar lucro” e ficaram reduzidas a metade. Para breve conta inaugurar um bloco que permita realizar cirurgias, procedimento médico mais lucrativo.

 

Celso Silva, do Sindicato dos Enfermeiros, admite que as falhas no pagamento dos salários são raras e queixa-se de os trabalhadores não terem tido “uma justificação fundamentada” para aquilo que se passou.

 

O sindicalista diz que o sentimento generalizado entre os trabalhadores é de “angústia”, pois no final de cada mês temem que não haja dinheiro para pagar os vencimentos, com todas as contrariedades que isso acarreta para quem tem compromissos a cumprir.

 

“Se existe um problema de liquidez, isso é um problema para a SCMS e para os trabalhadores”, diz Celso Silva que defende o regresso do Hospital de Serpa à órbita da Ulsba.

 

ASSEMBLEIA GERAL DA SCMS

Entretanto, a presidente da mesa da Assembleia Geral da SCMS convocou uma reunião para a passada quinta-feira, dia 10, com um único ponto na ordem de trabalhos: “Autorização para oneração, através de hipoteca voluntária”, de um imóvel da instituição para garantia de um plano prestacional para pagamento de uma dívida de cerca de 160 mil euros à Segurança Social. António Sargento diz que este procedimento não passa de uma medida de gestão cujo objetivo é não sobrecarregar a tesouraria. Quanto ao valor da dívida, afirma que é um valor relativamente baixo para a dimensão da instituição e que resulta da conjuntura negativa dos últimos dois anos.

 

REVERSÃO PARA A ESFERA PÚBLICA

No passado dia 25 de fevereiro, a CDU fez aprovar uma moção na Assembleia Municipal de Serpa em que defende “a integração plena do Hospital de S. Paulo no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Os proponentes consideram que durante a pandemia o SNS “desempenhou um papel principal na garantia da equidade, da segurança e da coesão social (…) apesar do desinvestimento crónico” mas onde os “profissionais conseguiram alcançar resultados invejáveis a nível da prestação de cuidados a doentes críticos e da cobertura vacinal da população.” No entanto, consideram que no Hospital de S. Paulo, “a disponibilidade do serviço de saúde tem falhado às populações desde do início do ano de 2022”, nomeadamente no serviço de urgências – que continua encerrado entre as 00:00 e as 08:00 horas e com falhas no período diurno. Assim, propõem o regresso daquele equipamento à esfera pública, solução que é o “garante de melhor apoio às populações”. “É urgente retomar as intervenções de promoção da saúde, a prevenção e o rastreio da doença, as cirurgias programadas e as consultas regulares”, lê-se na moção que foi aprovada por maioria, com uma abstenção da coligação PSD-CDS.

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