Diário do Alentejo

CAP critica medidas “em cima do joelho” no combate á seca

09 de fevereiro 2022 - 15:00

O presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Eduardo Oliveira e Sousa, considera que o país está aflito com a seca, porque toma “sempre” medidas “em cima do joelho” e, por isso, “nunca são suficientes”.

 

“Em 10 anos, houve oito anos com seca. O ano passado escrevi, em março, um artigo a dizer: este ano está a chover, temos que falar sobre seca. E não falámos. Consequência, agora que estamos com a seca, estamos aflitos porque não fizemos o trabalho de casa”, refere.

 

O responsável frisa que, quando diz que as medidas de combate à seca “nunca são suficientes”, é “porque são sempre tomadas em cima do joelho” e, por isso, “não chegam”, já que Portugal tem que se preparar “para viver com a seca”.

 

“Temos que perceber o que é que temos que mudar para viver com a seca. Temos que criar opções e construir as soluções para criarmos uma barreira, o mais possível, ao avanço do deserto do Norte de África que nos está a invadir”, avisa.

Vincando que “queremos fazer isso mantendo as pessoas no território e as pessoas só ficam se houver atividade económica”.

 

Segundo o responsável, “uma das maneiras de associar a presença de pessoas ao combate à desertificação é através da intensificação da agricultura”, o que se faz “com o regadio”. Afirmando que até ao momento “a única parede que já fomos capazes de dirigir contra o avanço da desertificação foi o Alqueva”, sublinhado ainda que este “é um dos sucessos” do projeto, que considera “a salvação” do Alentejo.

Recorde-se que o ‘Diário do Alentejo’ (DA) já tinha noticiado que Eduardo Oliveira e Sousa defende a réplica do empreendimento do Alqueva noutras regiões do país, de modo a “minimizando os efeitos desta seca e destas alterações climáticas”.

 

O responsável explica também que as medidas de combate à seca “não são suficientes” porque “estas matérias não estão a ser estudadas” numa perspetiva conjunta. Sendo imprescindível “pôr os cientistas, os académicos, os engenheiros a falarem para, depois, os políticos decidirem”, criticando que, em Portugal, “os políticos decidem e, depois, os engenheiros vão à procura das soluções e as coisas não se fazem assim”.

 

Rui Garrido, presidente da Federação das Associações de Agricultores do Baixo Alentejo (FAABA), garante que “se não chover” na região nas próximas semanas, “vai ser uma catástrofe”. E é “nesse sentido que apelamos, nomeadamente ao próximo Governo”, para que “um dos dossiês” que “terá de ser estudado é este” da seca, para que possam, em conjunto, ser definidas medidas de apoio aos agricultores, afirma.

 

Já no início deste mês, o DA noticiou o alerta dado pela FAABA face á seca que está a afetar “gravemente” a atividade agropecuária da região e reclamação de medidas ao Governo para apoiar os setores mais afetados.

 

Rui Garrido continua a defender que são necessários “apoios diretos à pecuária” e também “às culturas de outono/inverno” e autorização para pastorear o gado nos pousios obrigatórios.

“Estes pousios são superfícies de interesse ecológico” que os agricultores são obrigados “a deixarem nas suas explorações agrícolas”, e que correspondem a “cerca de 5% da área”, mas nos quais “temos de ter autorização para pastorear os animais”, pois, “não há erva nos campos”, sugere.

A retenção ou suspensão de pagamentos à Segurança Social e o aumento da chamada eletricidade verde, que contempla “uma ajuda irrisória”, foram outras das medidas defendidas pelo presidente da FAABA, que critica ainda o “aumento brutal dos custos dos fatores de produção” que os agricultores estão a suportar.

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