Diário do Alentejo

"Temos o dever de combater a violência doméstica diariamente"

11 de janeiro 2022 - 15:20

Três perguntas a Patrícia Cardoso, assistente social do Núcleo de Atendimento a Vitimas de Violência Doméstica de Beja (NavBeja)

 

Texto José Serrano

 

A Moura Salúquia – Associação de Mulheres do Concelho de Moura, entidade gestora do NavBeja, assinalou, em dezembro, um protocolo de parceria com a Comarca de Beja do Ministério Público. Quais as capacidades deste protocolo na defesa das mulheres vítimas de maus tratos?

O protocolo, assinado com o Ministério Público (MP), formaliza a parceria que existe, há vários anos, com a comarca. Uma parceria que foi sempre muito importante para o trabalho da NavBeja e para o trabalho do MP, pois a proximidade e o trabalho em articulação faz com que exista um maior conhecimento acerca da intervenção que pide ser feita, por ambos os serviços. No nosso caso, significa que a NavBeja fica mais próxima da intervenção judicial e pode contribuir positivamente para o processo, para a compreensão da experiencia de vitimação ou para a proteção da vitima.

 

Que sinais podem indicar que alguém está a ser vítima do crime de violência doméstica?

As marcas físicas são os sinais que mais facilmente podem evidenciar o facto de uma pessoa estar a ser vítima de violência doméstica, mas existem muitos outros sinais: mudança de comportamento, que sempre caracterizam determinada pessoa; a forma de estar em grupo ou presente na via publica – por exemplo uma pessoa que sempre foi autónoma nas suas compras ou na prática do seu exercício físico e de repente deixa essas atividades ou começa a faze-las com o seu companheiro(a); o isolamento ou sinais de medo na presença do(a) companheiro(a). Associadas a estas dinâmicas temos outras fragilidades, como o maior isolamento provocado pela pandemia ou as situações de desemprego, que resultam numa dependência financeira, além da frequente dependência emocional.

 

De que forma podemos todos nós, cidadãos, contribuir para combater este flagelo social?

Temos o dever de combater este flagelo e podemo-lo fazer diariamente. Desde logo, em casa, educando os nossos filhos para a igualdade de género, para a não-violência e para o respeito por todas as pessoas. Este é um trabalho que deve também estar presente nas escolas, desenvolvendo competências que contribuam para as relações saudáveis entre as pessoas. Por outro lado, há a obrigação de denunciarmos este crime, quando temos conhecimento do mesmo. E é urgente desempenhar este papel, pois a violência doméstica continua a ser um crime que, todos os anos, tantas vidas tira, com o prejuízo natural daqueles (as) que perdem as suas vidas, mas também dos seus amigos e das suas famílias – sobretudo das crianças que, em resultado deste crime, ficam órfãs.

 

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