Diário do Alentejo

Património: Descoberta escultura rara de Santo André

21 de dezembro 2021 - 09:20

Texto Ana Filipa Sousa de Sousa

 

Uma escultura rara com a imagem de Santo André crucificado foi descoberta, escondida no retábulo-mor da igreja paroquial de Santo André, onde se realizaram obras de conservação. “Durante a intervenção de conservação e restauro do retábulo-mor, acedemos ao tardoz do retábulo para limpar, desinfestar e consolidar as madeiras estruturais e, nesta fase, foi necessário iluminar e montar uma estrutura mais elevada para aceder ao topo do teto do camarim onde encontrámos a imagem, provavelmente datada do século XIV ou XV, rara em Portugal”, explicou ao “Diário do Alentejo” fonte da Arterestauro – Conservação de Bens Culturais, a empresa encarregue da manutenção.

 

A escultura esculpida em pedra calcária, com 81 centímetros de altura, 45 de largura e 11 de profundidade, foi descoberta “em bom estado de conservação a nível do suporte” e “com muita sujidade superficial e aderente”.

 

A peça, que pode ser vista na igreja, está ainda a ser analisada por historiadores da Universidade Nova de Lisboa, com o objetivo de se concluir a sua datação original. A confirmar-se que pertence à época medieval, tornar-se-á “um achado único em Portugal”, afirma a Câmara de Santiago do Cacém, uma vez que não há registo de outras esculturas semelhantes.

 

Segundo o padre Manuel António do Rosário, responsável pelo património histórico e cultural na Diocese de Beja, este achado “traz luz sob a história religiosa da comunidade de Santo André e de Santiago do Cacém, e da comunidade cristã em geral”. Podendo ainda “significar que esta igreja é mais antiga do que aquilo que se pensa”, acrescenta o padre Abílio Raposo, pároco encarregue da igreja paroquial de Santo André.

 

Além da peça, foram também descobertos um pequeno rolo, em papel, que revela alguns moldes de como seriam feitos os desenhos no altar principal e duas pinturas em mural na zona da escadaria, a imitar umas ameias, e na mesa do altar. Os trabalhos permitiram igualmente concluir que a pintura anterior do teto da capela-mor data o século XX e que o retábulo, onde foi descoberta a imagem de Santo André, não foi concebido originalmente para a igreja paroquial, tendo sido adaptado a este lugar.

 

“O trabalho ainda não ficou concluído, porque existem sempre estas ‘adendas’. A nossa proposta inicial está concluída, só que depois vamos encontrando outras peças [cujo estudo] resolvemos abraçar e levar até ao fim”, revela uma das técnicas de restauro, Joana Dias.

 

A intervenção geral na igreja, iniciada em junho deste ano, contou também com a reformulação do piso em torno das instalações, a pintura exterior e do teto da capela-mor, o restauro e a manutenção do altar principal, em madeira e dourados, a limpeza dos telhados e o tratamento de conservação, em ateliê, de cinco imagens de culto que apresentavam problemas ao nível dos suportes. Trata-se de “um contributo na defesa deste património”, sublinha a empresa, que tem a decorrer outras intervenções histórico-religiosas em Alvalade do Sado e Cercal do Alentejo.

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