Três perguntas a Luís Peres de Sousa, professor da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Beja (IPBeja)
Texto José Serrano
O IPBeja fez, recentemente, uma demonstração do Cleanlight, Hand Trolley UV-C, equipamento para proteção fitossanitária da vinha. Quais as particularidades desta tecnologia que utiliza radiação ultra violeta (UV)?
O uso da tecnologia ultra violeta permite eliminar o oídio da videira. Este fungo desenvolveu resistências aos tratamentos químicos, muito rapidamente. No entanto, esta evolução de adaptação aos ciclos naturais da luz e escuridão tornou o oídio vulnerável, pois a aplicação do UV-C, durante a noite, danifica o seu ADN, ficando os danos incapazes de serem reparados, pois durante o período noturno o fungo não recebe a luz azul, componente do espetro solar, necessária para reparar o ADN. Assim, uma pequena quantidade de luz UV, à noite, elimina o fungo sem prejudicar as videiras. Iremos também analisar o seu efeito noutros fungos, como o míldio, e nas pragas mais comuns da videira. Com esta tecnologia, que pode ser montada em tratores ou robots, eliminamos a aplicação de enxofre na vinha, com impactos positivos na sustentabilidade. Estamos a estudar as doses de aplicação, assim como a sua periodicidade – estudo que se irá prolongar por mais três anos.
Poderá esta nova tecnologia vir a contribuir para a redução significativa do uso de pesticidas na agricultura?
Consideramos de fulcral importância a redução do uso de pesticidas na agricultura. Tendo em atenção os objetivos do Ministério da Agricultura, para o período 2020/2030, de aumento da produção biológica, no País, em 25 por cento, esta tecnologia permite obter vantagens para a sustentabilidade ambiental, biodiversidade e ecossistema, com redução dos impactos negativos dos pesticidas, menor compacidade dos solos e valorização do produto final, nos mercados nacional e internacional.
De que forma classificaria a capacidade de adesão, por parte dos agricultores alentejanos, ao uso de novas técnicas de defesa fitossanitária e, consequentemente, a probabilidade de utilização deste novo equipamento?
A aplicação de tecnologias de precisão, a seleção e o melhoramento das variedades e o uso de bio estimulantes, na agricultura, poderá alavancar a tomada de decisão em reduzir o uso de pesticidas, nas culturas. Assim, estes procedimentos deverão ser estudados por consórcios nacionais e/ou internacionais de institutos politécnicos e universidades, associações de agricultores e outras organizações/entidades (Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, Instituto da Vinha e do Vinho e Porvid-Associação Portuguesa para a Diversidade da Videira). Desta forma poder-se-á transferir para os agricultores soluções mais sustentáveis e responder, rapidamente, aos desafios de uma sociedade cada vez mais preocupada com a degradação dos ecossistemas e com a necessidade de produção de alimentos que utilize, progressivamente, menos pesticidas.