Diário do Alentejo

Alentejo: Jovens agricultores são cada vez mais

12 de junho 2021 - 10:20

Em apenas três anos, a percentagem de jovens agricultores no Alentejo duplicou, passando de dois para quatro por cento. E as mulheres estão cada vez mais presentes numa área que era quase exclusivamente ocupada por homens.

 

Texto Aníbal Fernandes

 

Segundo dados do Recenseamento Agrícola de 2019, agora divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), dos 26 657 produtores agrícolas existentes no Alentejo, 1094 têm menos de 34 anos, quatro por cento do total. Mas, em 2016, essa percentagem era de apenas dois por cento e em 2019 de 2,8 por cento. Há dez anos existiam 29 292 agricultores recenseados na região agrária do Alentejo e desses apenas 818 com menos de 34 anos.

 

É nos escalões etários mais altos que se regista um maior abandono da atividade: de 26 142 agricultores com mais de 45 anos em 2009, passou-se para 23 200 em 2019, o que representa uma quebra de 12 por cento.

 

No entanto, o abandono é apenas masculino já que há mais mulheres a dedicarem-se à agricultura. Eram 6544 (em 2009) são 7346 (2019), de acordo com o Recenseamento Agrícola, o que significa um aumento de 11,2 por cento, sendo que 268 têm menos de 34 anos, um aumento significativo em relação ao último estudo do INE que apontava para 152.

 

Amanda Ferreira, filha do proprietário da exploração agrícola do Vale da Rosa, António Silvestre Ferreira, é uma das mulheres que marca presença no setor. “Apesar de a minha formação ser em ‘marketing’ cresci no meio e o meu pai incutiu-me a paixão pela agricultura e o dever de contribuir para o enriquecimento da região”, disse a jovem agricultora ao “Diário do Alentejo”.

 

Com a ajuda da família e do companheiro, que é agrónomo, Amanda Ferreira explora desde 2020 um negócio agropecuário numa herdade perto de Canhestros. “Começamos devagar, com vacas cruzadas, mas apercebemo-nos que o gado puro é sempre melhor”. Apostou na raça limousine e, assim, parte das 120 cabeças de gado já são desta. A aposta é que no futuro sejam “uma referência de qualidade”.

 

O seu irmão Henrique Silvestre Ferreira é agrónomo e dedica-se ao olival. “Tem havido um interesse crescente por parte dos jovens na agricultura” diz o “jovem agricultor do ano” em 2013. Isso é constado pelas muitas pessoas que lhe telefonam a pedir conselhos e para quem tem sempre uma palavra porque “o primeiro passo é o mais difícil”.

 

“A agricultura deixou de ser o parente pobre da economia. Hoje é altamente mecanizada e utiliza muita tecnologia”, diz Henrique Ferreira justificando o interesse crescente dos jovens nesta área. Já quanto às mulheres acha que a mudança de paradigma – “a agricultura já não é só esforço físico” – tem ajudado a um aumento da sua presença no meio.

 

Firmino Cordeiro, secretário-geral da Associação de Jovens Agricultores de Portugal (AJAP) diz que o aumento de jovens no setor é consequência de num período de 10 anos – a partir de 2010 – a sua instalação ter beneficiado de dois programas europeus, o Prodep e o PDR que se lhe seguiu.

 

“Em 2010 o mundo viveu uma crise económica fortíssima que afetou os vários setores. Nessa altura, a agricultura, que continuou a funcionar, teve um efeito tampão e os jovens viram aí uma oportunidade e uma alternativa. Tiraram cursos, fizeram formações e aproveitaram as medidas à sua disposição que sendo constantes e lineares criaram confiança” muito por força do rejuvenescimento dos produtores. O resultado foi a “onda de tecnologia que invadiu o setor”.

 

Quanto ao aumento do número de mulheres na atividade agrícola, Firmino Cordeiro considera que o facto de hoje a agricultura ser mais tecnológica e mecanizada é uma das razões para se sentirem “mais à vontade” para se se dedicarem às explorações.

 

“Somos jovens num país de alguns menos jovens, por este motivo temos de projetar o futuro agrícola do país, temos de aumentar a taxa de rejuvenescimento, temos de defender melhores medidas de apoio à sua instalação para todos e em particular para aqueles que o pretendam fazer em territórios mais carenciados, de montanha, de baixa densidade e com poucas infraestruturas”, comenta Pedro Rei, diretor interino da AJAP

 

AGRICULTURA ENVELHECIDA

 

Em Portugal, apesar do aumento do número de jovens, a agricultura está cada vez mais envelhecida. Segundo o Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral (GPP), um organismo do Ministério da Agricultura, mais de metade dos produtores agrícolas tem mais de 64 anos e a média etária tem aumentado gradualmente. Em 1999 era de 59 anos, tendo passado para 63 anos em 2009 e para 65 anos em 2016. Neste último ano, o número de produtores com menos de 35 anos era de apenas 4 182, 1,7 por cento do total, o que representa a proporção mais baixa de todos os países da União Europeia, com exceção do Chipre.

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