Diário do Alentejo

Melhor escola do Baixo Alentejo não foi além do 67.º lugar

04 de junho 2021 - 09:30

A secundária de Castro Verde é a escola do Baixo Alentejo melhor posicionada no ‘ranking’ nacional agora divulgado, tendo ficado em 67.º lugar num universo de mais de 600 estabelecimentos de ensino. A escola “arrecadou” uma média de 14,40 nos exames nacionais de 12.º ano.

 

Texto Marta Louro

 

Do lado oposto, a ocupar a última posição da tabela, no Baixo Alentejo, está a secundária de Aljustrel, com uma média de 11,04 nos exames nacionais e a ocupar o 554.º lugar a nível nacional. No concelho de Beja, a Escola Secundária D. Manuel I está em 342.º lugar (com uma média de 12,38) e os alunos da Diogo de Gouveia conseguiram nos exames nacionais uma média de 11,92, ficando na 435.º posição (ver quadro).

 

Augusto Candeias, diretor do Agrupamento de Escolas de Castro Verde, reconhece ter acolhido com “grande agrado” a divulgação dos resultados, mas sublinha que “todas as escolas tentaram fazer o seu trabalho”, num ano letivo atípico face à pandemia da covid-19. “Todos os estabelecimentos de ensino tentaram reinventar-se através da adoção de novas formas e de novas ferramentas de aprendizagem”.

 

Augusto Candeias diz que todas as escolas estavam, à partida, em pé de igualdade, embora umas se revelassem “mais bem preparadas do que outras”. Contudo, com as alterações introduzidas pelo Ministério da Educação no que diz respeito à realização dos exames, houve uma “simplificação do trabalho” que permitiu aos alunos “concentraram-se mais nos exames que queriam realizar”.

 

O diretor do agrupamento de Castro Verde diz não ter ainda ‘feedback’ dos alunos sobre a posição alcançada pela escola no ‘ranking’ nacional e regional, “mas os professores veem reconhecido o seu trabalho, e os alunos, certamente, tendo alcançado melhores resultados, veem também reconhecido o seu esforço ao longo do ano letivo”.

 

“A meta”, diz, “é fazer ainda melhor, porque os professores e todos os intervenientes do processo educativo gostam sempre de alcançar melhores resultados. Vamos ver o que o futuro nos reserva”.

 

Por outro lado, José Ferro, subdiretor do Agrupamento de Escolas n.º 1 de Beja, da qual faz parte a Escola Secundária Diogo de Gouveia, entende que o ‘ranking’ agora divulgado “mostra aquilo que mostra e vale o que vale”. De qualquer forma, acrescenta, “olhando para os resultados que saíram, o agrupamento não ficou desiludido com a situação, porque traduz o esforço e trabalho quer do corpo docente, quer dos alunos”. Em resumo, sublinha José ferro, “ninguém se deve envaidecer pelos bons resultados ou ficar triste pelos maus resultados, porque os ‘rankings’ são dados estatísticos que deixam de fora muita coisa que fica por apurar e por mostrar”.

 

“DESVALORIZAR A ESCOLA PÚBLICA”

 

Manuel Nobre, presidente do Sindicato dos Professores da Zona Sul (SPZS), lembra que os ‘rankings’ surgiram há cerca de duas décadas, e diz terem sido criados “com o propósito de valorizar os colégios privados, ao mesmo tempo que se desvalorizava a escola pública, numa perspetiva que era, na altura, caminhar a passos largos para privatizar parte da educação”.

 

“No fundo”, prossegue, “estão a seriar as escolas secundárias e isso é uma coisa errada, que não tem em consideração nada mais a não ser o desempenho dos alunos num exame, deixando de fora tudo aquilo que são as aprendizagens, o processo educativo e o processo de recuperação”.

 

Por isso diz não ser sequer possível “encontrar uma justificação” para o facto de a média dos alunos de Aljustrel nos exames do 12.º ano ter ficado, o ano passado, três pontos abaixo da dos de Castro Verde. “Independentemente do estabelecimento de ensino ou da posição no ‘ranking’, não é fácil encontrar um motivo para que uma seja melhor ou pior [classificada] que outra”, até porque, “houve escolas que tiveram menor classificação neste ‘ranking’, mas que tiveram um esforço enorme, um empenho e desenvolvimento tendo em conta, por exemplo as dificuldades decorrentes da pandemia da covid-19. Mas essa dedicação depois não é premiada”.

 

Segundo Manuel Nobre, os resultados deste ano “mostram o embuste e a falta de seriedade” de alguns membros do Governo “que assumem e reconhecem que este critério de classificação é um ato injusto, mas que continuam a alimentar” esta competição. “É um mau caminho e a própria sociedade vai, aos poucos, reconhecendo que esta seriação não beneficia nada aquilo que é o papel e a função da escola pública. O Governo devia era estar preocupado em dar autonomia às escolas, em garantir um financiamento adequado e em reforçar o corpo docente”.

 

O presidente do SPZS acusa ainda o Ministério da Educação de ter agido “como se de um ano letivo normal se tratasse”, apesar de as escolas terem estado encerradas durante várias semanas. “É um modelo injusto, destinado a iludir as pessoas, a beneficiar e a valorizar o ensino privado e a denegrir a imagem da escola pública. Não é através destes ‘rankings’ que o sistema educativo em Portugal melhora”, conclui.

 

“OS ‘RANKINGS’ SÃO REDUTORES”

 

O ministro da Educação afirmou que as listagens de estabelecimentos de ensino baseadas nas médias dos exames nacionais são "injustas e redutoras", além de "não refletirem a qualidade do trabalho das escolas". Nas últimas duas décadas, o Ministério da Educação passou a disponibilizar anualmente, a pedido dos órgãos de comunicação social, dados sobre os resultados dos alunos nos exames e provas nacionais, assim como as notas internas dadas pelas escolas aos estudantes e alguns dados de contexto. Uma das listas de escolas é feita com base nas médias das notas nas provas nacionais dos seus alunos e para o ministro da educação, Tiago Brandão Rodrigues, essas tabelas "são redutoras, injustas e não refletem a qualidade do trabalho que é realizado pelas respetivas comunidades educativas". Sendo assim, defende Manuel Nobre, o melhor seria acabar com os ‘rankings’ das escolas. “O Ministério da Educação reconhece que os ‘rankings’ em nada abonam para aquilo que é a valorização da escola pública, no entanto, continua a alimentar e a dar destaque, ano após ano, a este embuste”, diz o presidente do Sindicato dos Professores da Zona Sul.

Comentários