Diário do Alentejo

Utentes do litoral alentejano contra falta de médicos

06 de maio 2021 - 10:25

Os utentes dos serviços de saúde do litoral alentejano dizem-se “descontentes com a delapidação do Serviço Nacional de Saúde (SNS), fruto das erradas opções políticas dos sucessivos governos”, algo que, neste momento, no caso concreto dos serviços de saúde de Alcácer do Sal, “atingiu um limiar crítico” que contribui para a “diminuição do acesso da população aos cuidados de saúde condignos e de qualidade”.

 

Texto Marta Louro

 

A Comissão de Utentes do Litoral Alentejano diz ser “inaceitável que existam utentes à espera de consultas ou cirurgias no Hospital do Litoral Alentejano (HLA) há mais de 400 dias”, que “sejam empresas de trabalho temporário a assegurar o serviço do HLA” e que o serviço de urgência pediátrica “seja assegurado por médicos não especialistas em pediatria”. E diz ser “intolerável” que as extensões de saúde de Barrancão e Montevil, no concelho de Alcácer do Sal, permaneçam encerradas, além de existirem extensões de saúde “aonde o médico não se desloca durante dois meses”.

 

“Tivemos uma reunião em março de 2020 com a ministra da Saúde, Marta Temido, depois havia a promessa para uma outra reunião, para o verão do ano passado, mas nunca se concretizou. A Ulsla não está do nosso lado, as suas ações não passam de meras promessas que não são cumpridas”, diz Dinis Silva, porta-voz da comissão de utentes.

 

O presidente da Comunidade Intermunicipal do Litoral Alentejano (Cimal), Vítor Proença, reconhece que há “problemas complicados decorrentes da pandemia”, mas sublinha a existência de “situações que se agravaram, que já vinham de trás e que continuam a afetar o litoral alentejano”.

 

O autarca critica, designadamente, a “falta de profissionais de saúde, a falta de condições remuneratórias para trabalharem com dignidade, em pressão altíssima decorrente do trabalho, e a falta de médicos especialistas” em algumas áreas. “O litoral alentejano está esquecido da agenda do Governo. Basta olhar para o centro de saúde de Alcácer do Sal que apresenta um estado vergonhoso. As extensões e os centros de saúde apresentam um estado miserável, onde não há obras”. Vítor Proença diz estar prometida, há oito anos, uma ambulância de suporte imediato de vida que ainda não chegou a Alcácer do Sal.

 

Contactada pelo “DA”, a Ulsla esclarece que em Alcácer do Sal “persistem seis por cento de utentes sem médico de família atribuído; não existem médicos com ficheiros de 1900 utentes, ao contrário do referido pela comissão de utentes, e em todos os polos que se encontram em funcionamento existe a garantia de consulta semanal”.

 

A administração da Ulsla diz ainda ter proposto ao serviço de patologia clínica a elaboração de um plano com o objetivo, entre outros, de “retomar o processo de internalização, que incluirá o Centro de Saúde de Alcácer do Sal”, assim como garante estar a desenvolver com o INEM “todas as diligências possíveis e necessárias para o acolhimento da ambulância de suporte imediato de vida”, estando o serviço de urgência pediátrica a ser assegurado, desde janeiro, por médico especialista em pediatria.

 

“No último ano, todo o processo assistencial esteve condicionado pela pandemia. Ainda assim, em abril, temos 18,3 por cento dos utentes em lista de espera para consulta, que estão acima dos tempos máximos de resposta garantidos. Na lista de espera para cirurgia, temos 17 por cento de utentes que ultrapassaram o tempo máximo de resposta garantida. Reconhecemos que o ideal seria a inexistência de lista de espera, mas é importante clarificar que foi feito um grande esforço dos profissionais em recuperar as listas, em articulação com os respetivos diretores de serviço”, acrescenta a mesma fonte.

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