Diário do Alentejo

Área de vinha no Alentejo cresce 23 por cento

04 de maio 2021 - 14:45

A área de vinha para produção de vinho na região agrária do Alentejo aumentou 23 por cento na última década. De acordo com os dados do último Recenseamento Agrícola, há agora 27 843 hectares de vinha na região.

 

Texto Marta Louro

 

O maior crescimento ocorreu na instalação de vinhas para a produção de vinho com denominação de origem protegida (DOP), que ocupam agora uma área de 18 718 hectares, mais 58,7 por cento do que no último recenseamento. Ainda assim, em 10 anos, houve uma diminuição de 6,8 por cento das explorações.

 

Refira-se que, para efeitos estatísticos do INE, a região inclui todos os concelhos integrados na Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA), mas também os municípios de Alcácer do Sal, Grândola, Santiago do Cacém e Sines que fazem parte dos Vinhos da Península de Setúbal.

 

O presidente da CVRA, Francisco Mateus, justifica esse aumento de 23 por cento com o “interesse dos viticultores em investirem e aumentarem o seu potencial de produção”. Nos últimos anos, “tem havido um grande interesse em plantar mais vinha no Alentejo, e os números estão à vista. Temos crescido de acordo com a vontade da região”.

 

“Estamos, neste momento, com um crescimento sustentável e, obviamente que isso contribui para a valorização do vinho, e, portanto, garantimos também, um futuro mais sustentável, no que diz respeito à atividade que a vinha e o vinho têm no Alentejo. O nosso principal sucesso é a sustentabilidade e a qualidade dos produtos que oferecemos para o mercado”, garante.

 

Francisco Mateus lembra que desde 2016 o modelo de autorizações de plantação de novas vinhas “teve uma alteração e passou a basear-se, no Alentejo, nas recomendações” feitas pela própria região. “Desde então, as áreas que recomendamos ao Governo, todos os anos, têm sido aceites. Tem havido essa plantação que vai aumentando todos os anos, mas dentro do limite daquilo que consideramos que é adequado, porque também não defendemos que a região cresça sem qualquer tipo de regra e sem qualquer tipo de ferramenta que possa conter esse crescimento, porque não podemos correr o risco de estar a aumentar muito a área da vinha e a produção da uva, porque depois origina uma diminuição do preço e isso não é bom para ninguém”, acrescenta o presidente da CVRA.

 

“No ano passado”, lembra Francisco Mateus, “verificou-se uma quebra acentuada” nas exportações para a Angola, China e Rússia, mas feitas as contas, no final de 2020, os vinhos do Alentejo acabaram por “manter o nível de exportação” que tinham atingido em 2019. “Isso é um sinal muito bom, porque significa que os produtores alentejanos conseguiram encontrar outros mercados onde puderam colocar os seus produtos. Tendo em conta as dificuldades provenientes da pandemia, isso é um excelente sinal”.

 

CRESCIMENTO SUSTENTADO

 

José Miguel Almeida, presidente do conselho de administração da Adega Cooperativa de Vidigueira, Cuba e Alvito considera que devemos olhar para este crescimento da área da vinha “do ponto de vista de garantir que é um crescimento sustentado e sustentável”. Na sua opinião, os dados do Recenseamento Agrícola demonstram que o Alentejo “tem conseguido responder” à expectativa dos mercados. “Os vinhos do Alentejo têm, de uma forma geral, conseguido fazer jus àquilo que são as suas necessidades de escoamento, têm mantido de uma forma progressiva o crescimento nas exportações e, portanto, esse é um dado importante que devemos analisar quando olhamos para este setor. A vinha tem crescido de forma sustentável”, garante.

 

Em termos genéricos, José Miguel Almeida diz que a pandemia originou uma quebra de vendas. E explica: “Grande parte dos operadores que dirigem as suas vendas para o canal Horeca – isto é, que direcionam a sua atividade económica para os hotéis, restaurantes e cafés – viram as suas vendas prejudicadas, tendo em conta o que se tem verificado neste último ano”, com o encerramento prolongado dos setores do turismo e da restauração.

 

Ainda assim, sublinha, a Adega Cooperativa de Vidigueira Cuba e Alvito, fechou o ano de 2020 “com valores muito simpáticos face ao esperado”. José Miguel Almeida entende que isso de deve ao facto de a adega estar “muito assente naquilo que é o canal da moderna distribuição. Embora 2021 tenha “arrancado num cenário de pandemia, os meses de março e abril revelam uma melhoria significativa” em matéria de vendas. “As previsões iniciais apontavam para crescimentos à volta dos cinco por cento. Se esse cenário se mantiver e se for possível reativar toda a atividade económica em torno do setor do vinho, podemos crescer em relação ao ano anterior mais do que esse valor”.

 

ALQUEVA AJUDOU

 

Para o proprietário da Herdade Monte Novo e Figueirinha, Filipe Cameirinha, uma das explicações para o aumento da área de vinha no Alentejo é o desenvolvimento do perímetro de rega do Alqueva, que “veio trazer água para as nossas culturas”, permitindo instalar novas plantações. Por outro lado, o aumento da procura dos vinhos do Alentejo e a procura nos mercados internacionais “têm também contribuído” para que os agricultores continuem a apostar no setor, “De uma maneira geral, os anos agrícolas têm sido bons”. Apesar da pandemia, Filipe Cameirinha diz que e empresa “não verificou nenhum decréscimo nas vendas”, uma vez que está “muito apoiada” no mercado internacional, em países como o Brasil ou os Estados Unidos. “Tínhamos uma grande previsão de crescimento para 2020. Acabámos por ficar um bocadinho aquém do esperado, mas ainda assim conseguimos acabar o ano com um crescimento de cinco por cento. O primeiro trimestre de 2021 já teve um crescimento de 28 por cento em relação ao ano passado. Isto deve-se também ao mercado nacional que tem vindo a crescer”, conclui.

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