Diário do Alentejo

"Vida a Dois". Jorge Benvinda lança primeiro álbum a solo

16 de abril 2021 - 09:30

“Vida a Dois” é o primeiro projeto a solo de Jorge Benvinda. O título é-o também da sétima faixa do álbum, inspirada no “Livro”, um romance de José Luís Peixoto que retrata a emigração portuguesa para França, relatando histórias de vida, encontros e despedidas entre as quais a de Adelaide e Ilídio.

 

Texto Rita Palma Nascimento

 

Ela emigra e ele não fica, mas nunca se encontram por terras francesas. Anos mais tarde, em Portugal, de regresso à aldeia onde nasceram, voltam a cruzar-se para não mais se separarem. Onde há amor, tudo acontece, inclusive a música.

 

Nunca transpôs as muralhas, nem perdeu de vista o castelo de Beja, a não ser para cantar. Aqui e ali, de norte a sul do país, quilómetros de estrada percorridos na irreverência e ousadia de nos oferecer, com Nuno Figueiredo, a irrequieta e bem-humorada sonoridade dos Virgem Suta e a ironia divertida na portugalidade das suas letras.

 

Jorge Benvinda é músico, compositor e cantautor bejense e lança agora o seu primeiro álbum a solo, “Vida a Dois”, misturado por João Pedro Coimbra, com selo da Universal Music e composto dentro de portas, as que lhe guardam as raízes, ainda antes da realidade e das ruas nos terem, a todos, fechado a casa.

 

“Por ti”, canção que dedicou à filha Rita e “O amor está a chegar”, dedicada à sua “cara-metade”, singles lançados em 2020, vieram revelar aquilo que pudemos agora constatar, um disco mais virado para dentro, assente nas relações e vivências, na partilha e na interação entre dois, sejam eles namorados, personagens de um romance, pai e filha, amigos, ou até um polvo e o seu predador.

 

Jorge Benvinda confessa que a inspiração lhe chegou através de situações e histórias que observa, das viagens a bordo das suas próprias emoções, de experiências bucólicas mas, sobretudo, da Joana, a sua companheira, que traz sempre na voz.

 

Confessando-se, agora, mais eremita, o músico recolheu-se na sua casa, na aldeia de Cabeça Gorda, para compor este que é o seu primeiro projeto musical em nome pessoal. De um total de 30 letras elegeu 10, introduziu o piano e a guitarra portuguesa, sintetizadores e bateria e nasceram assim, para além das já enunciadas faixas, “Namorados” com a participação de Cláudia Pascal, “Prima”, “Sexta-feira”, “Polvo”, “Vida a Dois”, “Vira o Frango”, “Willy Fog” e “Dejavu”.

 

O disco, lançado na passada terça-feira, dia 6 de abril, está disponível nas habituais plataformas digitais, nas lojas FNAC, mas também através do próprio, num compromisso pessoal de criação de um fundo, com parte da receita das vendas, cuja finalidade será doar à sua equipa técnica e aos demais profissionais que, por via da impossibilidade de trabalhar devido à situação pandémica, se viram privados dos seus rendimentos.

 

Embora conhecido sobretudo como vocalista dos Virgem Suta, Jorge Benvinda integra o Projeto Paião, um tributo a Carlos Paião, juntamente com Marlon, Via, Nuno Figueiredo, João Pedro Coimbra, Bruno Vasconcelos e Jorge Costa e o projeto Canções de Roda, Lenga Lengas e Outras que Tais, com Sérgio Godinho, Ana Bacalhau, Vitorino Salomé, Quiné Teles, Luís Peixoto e Filipe Raposo, onde se revisitam canções infantis que marcaram gerações, numa incursão pelo nosso cancioneiro e património popular infantil.

 

Compôs para os Virgem Suta e fê-lo também para Ana Moura (“Amor Afoito”), António Zambujo (“Multimilionário”), Carlos Leitão (“Um Quarto para as Duas”), Beatriz (“O Fado da Manela”), entre outros.  Em 2017 participou no Festival da Canção com Nuno Figueiredo, alcançando o quarto lugar com a canção “Gente Bestial”.

 

Multifacetado, até mesmo no que às artes diz respeito, abraçou projetos gastronómicos. Abriu, em 2007, a Galeria do Desassossego, uma típica taberna alentejana, na cidade de Beja, onde decorriam tertúlias, exposições mensais de arte plástica e por onde passaram, entre sabores e iguarias tradicionais, nomes sonantes da música nacional. Em 2012 arriscou e abriu as portas do restaurante Vovó Joaquina, com que homenageou a sua avó. Teve também uma Casa de Cante, em 2014, ano da elevação do Cante alentejano a Património Imaterial da Unesco. Um projeto aberto à comunidade e feito para ela, que visava profissionalizar o cantador e incentivar à abertura de novas casas, com intuito de ser criado um roteiro turístico, dando a conhecer a cultura e tradição dos cantares da região. Para infelicidade de Jorge Benvinda, tal não aconteceu.

 

Um dia, confessa-nos, talvez regresse à restauração, mas não antes de ver regressar, aos mapas governativo e turístico, o “seu” Baixo Alentejo.

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