No distrito de Beja, 39 por cento dos idosos com mais de 80 anos já estão vacinados. Mas há ainda 20 por cento que não tomaram nenhuma dose da vacina contra a covid-19. Processo vai acelerar a partir da próxima semana
Texto Marta Louro
No distrito de Beja, o processo de vacinação arrancou em janeiro e já permitiu inocular por completo 39 por cento dos idosos com mais de 80 anos, de um universo de cerca de 11 612 pessoas. Nesse grupo, 41 por cento têm apenas a primeira dose e 20 por cento não efetuaram nenhuma toma. De um universo de 6 009 pessoas com 50 e mais anos e com comorbilidades, 11 por cento já estão vacinadas, 56,1 por cento efetuaram apenas, a primeiro toma e 1 982 (33 por cento) não estão inoculadas.
Algumas pessoas ainda não receberam nenhuma dose porque, “foram contactados pelos serviços de saúde, mas não atenderam as chamadas; recusaram ser inoculadas; estão fora da cidade ou do país; estão a fazer isolamento profilático”; ou porque as listas disponibilizadas pelo SNS não estão atualizadas e não “estão a contabilizar as pessoas que já faleceram”, explica Cláudia Castelo, diretora dos Cuidados de Saúde Primários do Baixo Alentejo e responsável pela vacinação na Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba)
No total das 66 Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (ERPIS) existentes no distrito, já estão vacinados dois mil profissionais e 2 200 utentes, faltando “apenas vacinar as novas admissões, tanto de utentes como de funcionários”. Nos grupos especiais, dos quais fazem parte bombeiros, PSP, GNR, órgãos de soberania, funcionários da ordem dos farmacêuticos e dos dentistas, já têm a vacinação completa cerca de mil profissionais”.
O processo referente aos docentes e não docentes permitiu inocular com a primeira toma mais de 900 profissionais. A vacinação vai prosseguir durante as próximas semanas.
A diretora dos Cuidados de Saúde Primários do Baixo refere que a segunda fase de vacinação, que “estava prevista ter início só em abril”, arrancou ainda em março porque “deixaram de existir utentes elegíveis para convocar para a primeira fase”. Num primeiro momento, a previsão é conseguir vacinar 2 340 pessoas com a primeira dose. Contudo, vão continuar a decorrer administrações de “segundas doses” referentes à primeira fase.
Nesta segunda fase de vacinação “vão ser convocados, primeiramente os utentes com idades compreendidas entre os 65 e os 79 anos com e sem comorbilidades”, seguindo-se depois, os utentes entre os “50 e os 65 anos com comorbilidades”.
A diretora dos Cuidados de Saúde Primários do Baixo Alentejo refere que as pessoas “elegíveis para a vacinação” têm uma hipótese de recusa. Após essa rejeição, voltam a ser contactadas. Se mudarem de ideias o processo é reagendado, mas se mantiverem a decisão de recusa não terão mais hipóteses para o fazer.
PROCESSO A BOM RITMO
Médico de saúde pública da Ulsba, Mário Jorge Santos refere que “o processo de vacinação tem decorrido dentro do esperado e a bom ritmo: mais vacinas tivéssemos, mais vacinação teria sido possível”. Para o especialista, “a evolução da pandemia também está a ser, um pouco, dentro do previsto”, isto é, “com o desconfinamento vamos começando a ter alguns casos de infeção, mas as cadeias de transmissão estão todas identificadas e estão a ser feitos rastreios de contatos em larga escala”.
“As contraindicações são raríssimas. Até ao momento, o que se tem verificado são algumas recusas de vacinação, tendo em conta o que aconteceu com a vacina da AtraZeneca. As pessoas ficam mais” apreensivas, sendo que, “algumas delas perdem a hipótese, numa altura em que as vacinas são escassas”, acrescenta.
Mário Jorge Santos defende que o desconfinamento das escolas “deveria ter começado pelo ensino secundário, porque as crianças mais pequenas, principalmente as que frequentam o jardim-de-infância ou primeiro ciclo não usam máscara, e, por isso, o risco de transmissão é maior”. No entanto, refere, “esta é apenas uma opinião técnica da área da saúde”, porque se olharmos “pelo prisma da educação ou do trabalho, verificamos que é muito mais difícil estar em teletrabalho e ao mesmo tempo estar a cuidar dessas crianças”.
VACINAÇÃO DOS PROFESSORES
Joaquim Brissos, enfermeiro chefe da Ulsa e responsável pela vacinação em meio hospital acompanhou de perto o primeiro dia de inoculação dos professores do concelho de Beja. Segundo este profissional de saúde, “notou-se alguma ansiedade”, mas que rapidamente era resolvida “através das explicações de todo o processo”. No primeiro dia de inoculação dos docentes e não docentes “não houve qualquer reação associada à vacinação”.
Também a enfermeira Sandra Heleno que tem estado na linha da frente no processo de vacinação refere que “vão surgindo algumas dúvidas, principalmente relativas à vacina da AstraZeneca, tendo em conta tudo aquilo que é divulgado na comunicação social”. No final do primeiro dia de inoculação dos professores o balanço foi “muito positivo”.
Olga Sousa é professora no Jardim de Infância de Beringel, diz que “estava ansiosa” pela tomada da vacina, que “devia ter acontecido há mais tempo”. Ricardo Soares, professor de inglês no Jardim Nossa Senhora da Conceição, em Beja, concorda: “O início da vacinação podia ter coincidido com a abertura das escolas”, porque é importante que “os pais se sintam mais seguros”.
110 MIL PESSOAS VACINAS NA REGIÃO
Na região Alentejo já foram administradas mais de 110 528 vacinas”, das quais 74 434 primeiras doses” e 36 094 segundas doses, diz ao “DA”, o presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Alentejo, José Robalo. “Já temos um número bastante elevado de pessoas vacinadas. A perspetiva é que nas próximas semanas surja um número significativo de vacinas”, que vai obrigar “a uma estratégia diferente. “Estamos a trabalhar para isso, mas aquilo que esperamos é aumentar a capacidade de vacinação. Seria incompreensível ter vacinas e não conseguir avançar com o processo”, acrescenta José Robalo.