Diário do Alentejo

Covid-19: Hospital de Beja adiou mais de mil cirurgias

05 de março 2021 - 11:45

Mais de mil intervenções cirúrgicas foram adiadas pelo Hospital de Beja devido à pandemia provocada pelo novo coronavírus. Unidade de saúde já começou a reduzir o número de camas destinadas a doentes covid-19. Ordem dos Médicos recorda que cabe à tutela “encontrar soluções para a sua progressiva recuperação” das operações que ficaram por realizar.

 

Texto Marta Louro

 

Em declarações ao “DA”, a presidente do conselho de administração da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba), Conceição Margalha, revela que em 2020 foram realizadas, no Hospital de Beja, menos 1105 intervenções cirúrgicas do que no ano anterior, “menos 834 operações em ambulatório e menos 271 intervenções de cirurgia convencional”. O motivo do decréscimo é claro: a pandemia.

 

Nos meses de setembro e novembro do ano passado, o bloco operatório do Hospital de Beja chegou a estar encerrado, pelo menos por um período de duas semanas, aquando de um surto de covid-19, que atingiu, na altura, mais de 30 profissionais de saúde. As cirurgias não urgentes estiveram suspensas.

 

A presidente do conselho de administração garante que, quando houve abertura do bloco operatório e das consultas, “os serviços começaram a ser realizados” em escala dita normal e em “produção adicional, de forma a recuperar a lista de espera”. Foi o que sucedeu, por exemplo, em especialidades como oftalmologia e ortopedia, cuja “produção adicional” no final de 2020.

 

“Já estamos a reabrir a urgência de maneira a conseguir recuperar a lista de espera. O primeiro serviço a ser aberto é a cirurgia de ambulatório, porque é a que tem maior volume e, no fundo, como não precisa de internamento, é aquela que é mais fácil de realizar, sem pôr em causa o tratamento dos doentes covid-19. Neste momento, estamos a libertar o espaço da cirurgia em ambulatório que estava ocupado” por doentes infetados com o novo coronavírus.

 

Esta “libertação de espaço” surge tendo em conta o decréscimo de pressão sobre a estrutura hospitalar, onde o número de internamentos por covid-19 tem vindo a baixar nas últimas semanas. E será tanto maior quanto a “evolução favorável” da pandemia.

 

Conceição Margalha refere que, atualmente, existem vagas tanto na enfermaria como na Unidade de Cuidados Intensivos (UCI), embora aqui em menor proporção, pois a “pressão ainda é grande”. No Hospital de Beja, conforme noticiado pelo “DA”, o número de camas em enfermaria destinadas a doentes com covid-19 passou de 64 para 42, contabilizando agora uma taxa de ocupação inferior a 80 por cento, tendo sido mantidas as 12 camas em UCI, cuja taxa de ocupação tem vindo, igualmente, a ser reduzida.

 

Pedro Vasconcelos, presidente do conselho sub-regional de Beja da Ordem dos Médicos, diz que o adiamento de cirurgias no Hospital de Beja acompanha a “realidade verificada por todo o país”, explicada pela “necessidade de se terem priorizado meios para o tratamento dos doentes com covid-19, mas também às regras de segurança que implicaram evitarem-se atendimentos presenciais desnecessários nos diversos serviços de saúde, em determinados períodos”.

 

Segundo Pedro Vasconcelos, tanto no caso das cirurgias como de outros atos médicos igualmente adiados, como exames, tratamentos ou consultas, cabe agora à tutela “encontrar soluções para a sua progressiva recuperação, mas que naturalmente hão de passar por um esforço suplementar na alocação de meios humanos”.

 

“COLOCAR OS BLOCOS A FUNCIONAR EM PLENO” Dirigente do Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS), Tânia Russo diz ser necessário “colocar os blocos operatórios a funcionar em pleno”, mas lembra que a situação pandémica “ainda não está” totalmente controlada.

 

“Toda a atividade que deixou de ser feita e ficou em atraso terá de ser recuperada, recorrendo o Ministério da Saúde ao trabalho extraordinário. Isto é valido para as cirurgias e para a atividade não cirúrgica, como as consultas”, acrescenta a dirigente sindical, segundo a qual as estruturas sindicais apresentaram propostas concretas ao Governo, em junho do ano passado, ainda não tendo obtido resposta.

“Entendemos que queiram recuperar a atividade, mas não se pode recuperar a atividade sobrepondo trabalho sem qualquer remuneração suplementar, tendo em conta que são profissionais de saúde que já estão em sobrecarga de trabalho desde há 11 meses, em contexto de pandemia”.

 

Para Rui Eugénio, da Comissão de Utentes de Beja, o adiamento de mais de mil cirurgias no hospital de Beja “vem pôr novamente a nu todas as fragilidades” do Serviço Nacional de Saúde (SNS). “Infelizmente isto não é nada que nos espante. Todos nós receávamos esta situação face á escassez de recursos humanos e à necessidade de enfrentar a pandemia. Naturalmente que outras áreas iriam ficar para trás”.

 

Rui Eugénio acredita que o “período mais dramático” já ficou para trás. Terá sido atingido em dezembro e janeiro, quando o crescimento exponencial de novos casos e de internamentos conduziu à “necessidade de centrar todos os meios técnicos e físicos” no combate à pandemia. “Tudo o resto foi ficando para trás. É o resultado de anos e anos de desinvestimento no SNS e que, numa situação destas, tornam muito mais evidentes as carências que existem”.

 

HOSPITAL DO LITORAL ALENTEJANO RETOMA CIRURGIAS

 

O Hospital do Litoral Alentejano (HLA), em Santiago do Cacém, vai começar a reduzir o número de camas na enfermaria destinada a doentes com covid-19. “Com a libertação das camas para a medicina interna e de alguns recursos humanos, acreditamos, em breve, retomar a atividade assistencial, nomeadamente a cirurgia de ambulatório e a cirurgia programada que tinha sido muito afetada devido à mobilização de recursos humanos [para o combate à pandemia]”, diz a presidente do conselho de administração da Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano, Catarina Filipe.

Comentários