Três perguntas a Rita Martins, investigadora do Cebal responsável pelo projeto “LactoMTec”
Texto José Serrano
“LactoMTeC” é o novo projeto, para o setor dos laticínios, do Centro de Biotecnologia Agrícola Agroalimentar do Alentejo (Cebal). Quais os objetivos deste projeto?
O projeto tem como principal objetivo dinamizar a fileira do queijo pelo valor das suas águas residuais. Esta dinamização será feita através da transferência do conhecimento científico e tecnológico sobre processos de separação por membranas e a sua aplicabilidade nos efluentes de queijarias. Estes processos assemelham-se a uma filtração e podem contribuir para uma gestão mais eficiente das águas residuais produzidas neste setor. Essas águas apresentam grande impacte ambiental devida à acumulação de resíduos do fabrico do queijo, sendo eles proteínas, açucares, vitaminas e minerais. E se por um lado, esses resíduos (subprodutos) são os maiores responsáveis pelo impacto ambiental do efluente, são, por outro lado, compostos de elevado valor nutricional. Desta forma, pretendemos disponibilizar soluções integradas que permitam não só o tratamento das águas residuais, mas também a sua reutilização e a valorização dos seus subprodutos.
Qual a importância que a implementação deste projeto poderá vir a ter para os produtores de queijo, em Portugal?
Os produtores de queijo têm vindo a apontar grandes dificuldades na gestão dos seus efluentes, muito devido à baixa eficiência e aos custos elevados dos tratamentos. O setor do queijo em Portugal é constituído, maioritariamente, por micro, pequenas e médias empresas com baixo desenvolvimento tecnológico e com recursos económicos limitados, identificando-se a necessidade de soluções que se ajustem às suas realidades produtivas. Este projeto vem responder a essa necessidade, introduzindo a novidade tecnológica de recuperar e concentrar os compostos de valor nutricional presentes nos efluentes. Pretende-se capacitar em conhecimento e tecnologia os produtores, ao mesmo tempo que se pretende abrir novas oportunidades de negócio e de simbioses industriais, criando dinâmicas mais inovadoras, diferenciadoras e sustentáveis, contribuindo para o aumento da competitividade do setor.
Há neste projeto uma intencionalidade de se constituir como “amigo do ambiente”?
Sim, o projeto tem na sua base uma forte preocupação ambiental, mas não negligencia os contextos socioeconómicos, elevando aqui o “novo” paradigma assente nos princípios da bio economia circular, um conceito económico que se foca na utilização de matérias-primas naturais em ciclos fechados, através de modelos de produção que envolva a partilha, a reutilização e a reciclagem de matérias e produtos, prolongando o seu ciclo de vida. Neste sentido, a abordagem tecnológica do projeto permite minimizar os impactes ambientais e usar eficientemente os recursos hídricos e alimentares, diminuindo a pressão sobre os ecossistemas e aumentando a nossa resiliência perante as alterações climáticas.