Texto Rita Palma Nascimento | Foto Jorge Carmona
Deu-se o caso de João Guilherme Ripper se ter cruzado, em 2016, no Baixo Alentejo, com a história de amor de Mariana Alcoforado. Deu-se o caso de Arthur Nestrovski, diretor artístico da Orquestra Sinfônica de São Paulo (OSESP), ter sido o responsável pela primeira edição do livro “Cartas Portuguesas” no Brasil. E deu-se ainda o caso de ter surgido a ideia de produzir uma ópera sobre o assunto no âmbito do festival SP-LX, que reúne a OSESP e a Orquestra da Fundação Calouste Gulbenkian.
Monodrama para soprano e orquestra, “Cartas Portuguesas” teve estreia em finais de agosto de 2020, em São Paulo. Na próxima sexta-feira, dia 19, às 19:00 horas, será transmitida ‘online’. O maestro Hannu Lintu dirige a orquestra Gulbenkian. A soprano Carla Caramujo dá “vida” a Mariana Alcoforado. A encenação é assinada por Jorge Takla.
Em entrevista ao “Diário do Alentejo”, João Guilherme Ripper fala sobre o desafio que representou escrever esta ópera.
Como é que surgiu a encomenda desta ópera?
Foi em 2018, quando Arthur Nestrovski me encomendou um monodrama para soprano solista e orquestra sobre um texto à minha escolha. A obra seria apresentada no âmbito do projeto SP-LX. Apresentei logo a proposta de escrever “Cartas Portuguesas”, ao que Nestrovski reagiu com surpreendente entusiasmo. Eu não sabia naquela altura que ele, músico, escritor e editor, havia sido o responsável pela primeira edição do livro no Brasil. O projeto tinha boa estrela!
A ópera estreou em plena pandemia, em São Paulo, sem público e com transmissão ‘online’. Chegou a ser apresentada em Lisboa, com público restrito. Será agora transmitida pela Gulbenkian. O que se seguirá?
Em junho de 2021 subirá ao palco da Sala Minas, com Camila Titinger como solista, acompanhada pela Filarmónica de Minas Gerais dirigida por Roberto Tibiriçá. Até o fim do ano, deverá ser encenada também no Rio de Janeiro. Enquanto isso, José António Falcão está a trabalhar no sentido de apresentar e gravar a ópera “in loco”, no Convento Nossa Senhora da Conceição, de Beja, precedida de uma nova obra orquestral alusiva ao Alentejo que escreverei especialmente para a ocasião.
E a vontade de escrever uma ópera sobre Mariana?
Eu já trazia a experiência do monodrama “Domitila”, que escrevi em 2000 sobre a correspondência amorosa do Imperador D. Pedro I do Brasil (vosso D. Pedro IV) e sua amante Domitila de Castro, a Marquesa de Santos. A obra foi apresentada em cidades do Brasil e Portugal.