Três perguntas a Felismina Mendes, diretora da Escola Superior de Enfermagem da Universidade de Évora
Estudantes das licenciaturas em Enfermagem e em Psicologia da Universidade de Évora (UÉ) estão a acompanhar diariamente, através de chamada telefónica, as pessoas, na região, infetadas por covid-19 e/ou em isolamento profilático. Qual a importância deste reforço na vigilância da doença?
Face ao aumento do número de pessoas com infeção por covid-19, nas últimas semanas em Portugal, foi criado o Centro de Rastreio de Contatos de Pessoas com covid-19 da UÉ em restrita colaboração com a Administração Regional de Saúde do Alentejo. Estes contatos, com todas as pessoas infetadas por covid-19, desta região, é feito em menos de 24 horas, o que os tornam um extraordinário recurso para a diminuição dos contágios locais, ao mesmo tempo que humaniza o acompanhamento das pessoas e lhes mostra que têm quem se preocupe com a sua situação. Nestes contatos são fornecidas indicações sobre os cuidados a ter, sobre os sinais de agravamento da doença e é feito, ainda, o encaminhamento para o seu médico assistente. Tudo ocorre no mais curto espaço de tempo possível, com os estudantes a efetuarem, numa semana, cerca de mil contatos telefónicos.
De que forma encaram os estudantes a sua participação nesta ação de voluntariado?
O sentimento que nos têm transmitido é o de grande valorização dos conhecimentos apreendidos no seu percurso na UÉ, em prol do apoio à situação de saúde das pessoas com covid-19. Até ao dia 31 de janeiro, os estudantes tinham realizado 932 contatos telefónicos, abrangendo, com esta medida de apoio, 1 850 pessoas, nos agregados familiares. É um facto que os estudantes se mostraram apreensivos numa primeira abordagem, mas sempre demonstrando disponibilidade total. Esta colaboração tem representado, para eles, uma experiência desafiante, na qual se empenharam totalmente. Passada uma semana, o resultado do seu trabalho começou a ser visível, com o número de doentes à espera de contacto a diminuir consideravelmente. Isto motivou-os, ainda mais, para continuarem esta colaboração voluntária. Sentiram que o seu trabalho estava a ser eficaz e os feedbacks obtidos nos telefonemas reforçaram a convicção da importância dos contactos com as pessoas, para atenuar dúvidas, medos e angústias.
Considera que esta iniciativa, altruísta, deverá ser replicada por outras instituições de ensino superior, no âmbito do combate à pandemia?
Com este projeto operacionaliza-se, por parte da UÉ, a clara noção de intervenção na sociedade, com recurso ao conhecimento científico desenvolvido pelos seus docentes, investigadores e estudantes, possibilitando a cedência formal desse conhecimento às populações. As universidades têm também por missão a conversão da ciência em competências concretas e o habilitar ao exercício de funções e atividades técnicas os seus estudantes, tornando-os agentes de educação, de divulgação e de implementação de medidas na comunidade social.