Diário do Alentejo

Figura do ano de 2020: António Ceia da Silva, presidente da Ccdra

11 de janeiro 2021 - 14:20

Depois de 12 anos à frente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo/Ribatejo, Ceia da Silva foi eleito presidente da CCDR. Em declarações ao “DA” lembra que “o Alentejo não é só Évora”.

 

Texto Aníbal Fernandes

 

António José Ceia da Silva, de seu nome completo, passou a infância e a adolescência junto à Serra de São Mamede, na cidade de Portalegre. Segundo reza a história, a sua primeira paixão foi o direito e, por via disso, rumou a Coimbra, a cidade dos doutores, para se licenciar. Não seria aí, nem nessa área, que tiraria o doutoramento porque o seu destino estava traçado para outra direção.

 

Regressado a Portalegre, teve uma curta experiência como professor do ensino secundário antes de ingressar na então Região de Turismo de São Mamede (RTSM) como técnico de turismo. Foi aqui que descobriu a sua vocação, não sem antes ter tirocinado como deputado da nação eleito pelo PS. Experiência curta que não o convenceu, mas que, segundo ele, o enriqueceu enquanto pessoa. Daí para cá a sua praia é o turismo. Depois de ter presidido à RTSM, foi desde 2008 até outubro de 2020 o responsável máximo pela Entidade Regional de Turismo do Alentejo/Ribatejo.

 

É consensual que a ele muito se deve o aumento de visibilidade nacional e internacional que a atividade turística na região beneficiou nesta última década. A aposta na planificação, estratégia e inovação que levou a cabo e a luta pela certificação dos diferentes produtos – gastronomia, praia, património edificado, património cultural – guindaram o turismo alentejano para números que só a pandemia da covid-19 conseguiu travar.

 

É conhecido por ir a todas. Durante estes anos fez mais de 10 mil quilómetros de carro. Todos os meses. Tão depressa ia à inauguração de um restaurante como a um congresso ou encontro de especialistas da área do turismo.

 

Pelo meio licenciou-se em turismo no Instituto Politécnico de Portalegre (IPP), onde, após concluir o doutoramento com uma tese sobre a importância do selo da Unesco na promoção dos destinos turísticos, veio a dar aulas como professor convidado. Um ex-colega do IPP define-o como “respeitável” e “boa pessoa”. Ele considera-se “extrovertido e comunicador” e alguém que não passa sem “uma boa conversa com os amigos”.

 

Duas décadas depois de uma intensa atividade na área do turismo, Ceia da Silva achou que era tempo de virar a página. Trata-se, nas suas palavras, de “devolver ao Alentejo” tudo aquilo que o Alentejo lhe tinha concedido. A decisão do Governo do PS, com o acordo do PSD, de proceder à eleição indireta das direções das cinco Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional, foi a oportunidade para o ex-presidente da ERT Alentejo/Ribatejo se assumir como líder regional.

 

Mas, ao contrário do que aconteceu nas outras quatro regiões, no Alentejo, a eleição do presidente da CCDR não foi uma ‘fake election’, como Ana Gomes as definiu, ou “um logro”, na apreciação do PCP, com um único candidato combinado entre António Costa e Rui Rio. Assumindo-se como candidato independente (embora da área do PS), Ceia da Silva teve de disputar a presidência com o anterior detentor do cargo, Roberto Grilo, que contra o desejo do seu partido, o PSD, também se candidatou como independente. A vitória não lhe fugiu, mas a disputa foi mais renhida do que se poderia supor: a diferença a seu favor de apenas 87 votos, num universo eleitoral de 1 288 autarcas, assim o demonstra.

 

Um mês passado sobre a tomada de posse, Ceia da Silva, na primeira entrevista como presidente da CCDR Alentejo, já traçou um objetivo imediato: o território para “ganhar poder reivindicativo” tem de subir a taxa de execução do programa regional Alentejo 2020 que “anda à volta de 34 por cento”, o que considera ser “muito pouco”. Só assim o Alentejo poderá ser “reivindicativo em relação aos próximos eixos” dos fundos comunitários - a finalização do Portugal 2020, o arranque do Portugal 2030 e o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), este último com um financiamento de 13,9 mil milhões de euros.

 

No que diz respeito ao PRR, Ceia da Silva diz que a região tem de “lutar” para que “determinados investimentos que não cabem nos programas operacionais” possam apanhar boleia da bazuca. Para isso há que fazer “um esforço de intervenção política” e articular com os agentes económicos e autárquicos, ao nível do Conselho Regional, a “intervenção global” a atingir, para que a CCDR Alentejo “assuma o seu papel de coordenação política regional”, solução que, diz, é apoiada pelo “primeiro-ministro e pela ministra da Coesão”.

 

Questionado pelo “Diário do Alentejo”, sobre quais as intervenções prioritárias para o Baixo Alentejo, Ceia da Silva diz que a sua visão “é de um Alentejo único que necessita ser reforçado em todos os eixos” referindo, a título de exemplo a eletrificação da ferrovia e a autoestrada até Beja. “O plano é muito homogéneo. Não foi por acaso que a primeira visita que fiz enquanto presidente da CCDR Alentejo foi a Barrancos e Moura. O Alentejo não é só Évora, apesar de Évora ser importante”, explica.

 

Quando confrontado com as reivindicações do distrito de Beja, Ceia da Silva responde que “essas reivindicações são as minhas reivindicações. Estou ao lado das pessoas e perfeitamente disponível para intervir com esses grupos”. Os próximos cinco anos mostrarão se a opção de Ceia da Silva contribuiu ou não para ele “ter tempo de ser feliz”, um ‘slogan’ da ERT Alentejo que ele próprio lançou.

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