Diário do Alentejo

Baixo Alentejo na mira de “matadores” espanhóis

09 de janeiro 2021 - 18:30
Foto | Torre de Palma (D.R.)Foto | Torre de Palma (D.R.)

A Herdade da Contenda, zona de caça nacional administrada pela Câmara de Moura, foi recentemente associada à prática de montarias organizadas pela empresa espanhola Monteros de las Cabras, a mesma que no final do ano passado foi acusada de “extermínio” generalizado de veados, gamos e javalis na Herdade da Torre Bela, na Azambuja. Os alegados factos remontam aos anos de 2012/13, mas os à altura administradores da propriedade negam perentoriamente que tal tivesse acontecido.

 

Texto Aníbal Fernandes

 

Na sequência da caçada que decorreu, no final do ano, durante dois dias, na Herdade da Torre Bela, na Azambuja, onde foram dizimados centenas de animais de grande porte, uma reportagem da TVI, mais tarde citada pelo jornal “Público”, afirmava que a empresa espanhola Monteros de la Cabra, há cinco anos, “já tinha efetuado uma razia do mesmo género” na Herdade da Contenda, em Moura.

 

Na peça televisiva em causa, o vice-presidente da Câmara de Moura e presidente da empresa municipal que gere a propriedade, Manuel Bio, disse que a firma espanhola fez na Contenda “aquilo que faz em todo o lado onde passa, que é tentar abater o maior número de animais dizimando tudo”, acrescentando que, a certa altura, a empresa teria sido proibida de caçar na zona pela antiga administração.

 

Posteriormente, em declarações ao “Diário do Alentejo”, Manuel Bio remeteu para os anteriores responsáveis as explicações sobre o assunto.

 

Também Artur Torres Pereira, ex-presidente da Câmara Municipal de Sousel, no distrito de Portalegre, ex-deputado do PSD e, atualmente, presidente do Clube Português de Monteiros e da Associação Nacional de Caça Maior fez declarações no mesmo sentido, acusando os espanhóis de, com “conivências locais”, terem levado “a Herdade da Contenda quase ao extermínio”.

 

ANTERIOR ADMINISTRAÇÃO NEGA Santiago Macias, que foi presidente da Câmara de Moura entre 2014 e 2018, no seu ‘blog’ confirma “no essencial” a notícia da TVI, mas faz algumas ressalvas e “correções”. Desde logo corrigindo Manuel Bio que estendeu as caçadas em causa até 2015, assegurando que estas terminaram no início de 2014, justificando a decisão de proibir a caça aos elementos da Monteros de la Cabra com “um conjunto de situações” que lhe desagradaram.

 

O ex-presidente da Câmara de Moura corrige também Artur Torres Pereira que considera estar a exagerar quando diz que a empresa de Mariano Morales “quase dizimou a caça na Contenda”.

 

Entretanto, os membros da anterior administração, José Maria Pós-de-Mina, Antónia Vilar Baião e Rafael Rodrigues, em comunicado, garantem que a empresa espanhola “não organizou nenhuma montaria na Contenda, nem teve qualquer contrato com a empresa municipal”. Segundo os antigos responsáveis, “as montarias foram sempre organizadas pela Herdade da Contenda” sendo que as portas foram distribuídas “através de procedimento de inscrição pública” e recordam que “o poder de decisão sobre as montarias” sempre esteve do lado da empresa municipal que “submetia, obrigatoriamente, os respetivos planos de caça à aprovação e acompanhamento da Autoridade Florestal Nacional [antecessor do Instituto de Conservação da Natureza e Floresta – ICNF], entidade com responsabilidade no cumprimento dos regulamentos aplicáveis a Zonas de Caça Nacional”, o que é o caso.

 

Os ex-administradores garantem ainda que “em nenhuma montaria” foram abatidos mais animais do que o previsto em edital e caracterizam como “falsa a afirmação de que se verificou alguma situação de dizimação do efetivo” animal. Em declarações ao “Diário do Alentejo”, Rafael Rodrigues reafirma o que vem escrito no comunicado e acrescenta que, de facto, a Montera de las Cabras, apresentou várias propostas para a exploração da caça na Herdade da Contenda, “mas foram sempre recusadas”.

 

HERDADE DA COUTADA DE FRADES Alegadamente, o mesmo não se passou na propriedade contígua à Herdade da Contenda, a Herdade da Coutada de Frades. Segundo uma investigação do jornal “Expresso”, que cita um ‘site’ espanhol especializado em caça grossa, no dia 5 de outubro, o início da “temporada” teve lugar na Herdade da Coutada de Frades, em Moura.

 

Participaram 38 caçadores que tinham como objetivo abater 110 veados e javalis, 50 dos quais machos. Um dia depois, o mesmo grupo deslocou-se à zona das Caldas da Rainha, à Herdade da Maúcha, com o mesmo objetivo e, no terceiro dia, 12 destes caçadores regressaram ao Alentejo, à Herdade da Cotovia, em Reguengos de Monsaraz, uma zona onde não se caçava há seis anos. O trabalho do “Expresso” também refere uma caçada, em 2015, em Santo Aleixo da Restauração, no concelho de Moura, mas não divulga mais pormenores.

 

No ‘site’ espanhol que o “Diário do Alentejo” também consultou, é referido que a empresa Monteros de las Cabras anunciou para este ano 17 montarias em Portugal “para todos os gostos e bolsas”, em 20 mil hectares e “com poucos caçadores”.

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