Diário do Alentejo

Acontecimento de 2020: efeitos da pandemia de covid-19

08 de janeiro 2021 - 16:20

Foi o tema dominante de 2020: a pandemia chegou ao Baixo Alentejo no final de março, mas o número de casos, e de mortes, começou a crescer de forma exponencial a partir de novembro. À pressão sobre os serviços de saúde soma-se uma crise sem precedentes no comércio e serviços, com o agravamento dos problemas sociais

 

Texto Luís Godinho

 

O que começou por ser uma pequena notícia, um rodapé de página nos jornais de dezembro de 2019, sobre a identificação de um novo coronavírus, foi ganhando proporções nas primeiras semanas de 2020. A 2 de março era registado o primeiro caso positivo em Portugal. A 18 de março surgiam os primeiros no Alentejo: duas pessoas que foram infetadas no estrangeiro, onde se encontravam em trabalho, mas residentes na região. Uma semana depois era confirmada a existência de um primeiro caso no Baixo Alentejo.

 

Entre o registo desse primeiro caso, em Almodôvar, o de um construtor civil, emigrante em França e que tinha regressado há poucos dias a Portugal, e a ocorrências das primeiras mortes passou cerca de um mês. A primeira vítima mortal, no Baixo Alentejo, atribuída à doença provocada pelo novo coronavírus, a covid-19, aconteceu na segunda-feira, dia 20 de abril. A vítima foi um idoso, de 87 anos, utente na Fundação Nobre Freire, em Beja, que se encontrava internado desde 14 de abril no Hospital José Joaquim Fernandes. "Infelizmente, devido à complexidade do quadro clínico" do paciente, com diversas patologias, a morte era "um desfecho previsível", explicou o diretor clínico da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, José Aníbal Soares. Na altura já existiam 173 casos confirmados em toda a área da Administração Regional de Saúde (ARS) do Alentejo. E o primeiro óbito veio que "estamos a lutar contra um inimigo que é muito perigoso, ou seja, temos de continuar a manter e a reforçar a guarda”, sublinhou Jorge Seguro Sanches, responsável pela coordenação da execução do estado de emergência no Alentejo. O pior estava para vir.

 

Durante os primeiros oito meses de evolução da pandemia em Portugal, até 1 de novembro, a ARS do Alentejo registou 2 808 casos positivos e 49 mortes. Era a região do país com menor impacto da covid-19, o que Ricardo Mexia, presidente do Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, justificava pela existência de uma baixa densidade populacional e comercial e de uma população envelhecida (portanto, com menor mobilidade).

 

Poupada na primeira vaga da pandemia, a região seria das mais atingidas pela segunda. Entre novembro e dezembro, os números agravam-se de forma substancial: mais 7 320 casos e mais 134 mortes em apenas dois meses. Uma média de 150 novos casos por dia traduz um crescimento exponencial desde finais de setembro, com o indicador de transmissibilidade (Rt) sistematicamente acima de 1 (o que significa que uma pessoa portadora da doença contagia, pelo menos, outra pessoa), quando a média nacional já está em 0,96.

 

Aquando da primeira vaga, o concelho de Moura foi o mais atingido pela doença. Na segunda, a covid-19 atacou em força nos concelhos de Beja, Cuba, Mértola, Serpa e Vidigueira, com as maiores preocupações centradas nos lares de idosos. Em Beja o número de casos positivos já supera os 730, incluindo 22 óbitos, quatro dos quais associados ao surto no Lar de Idosos do Centro Paroquial e Social do Salvador, identificado em meados de outubro. O primeiro caso foi o de uma funcionária com resultado positivo identificado no âmbito de um programa de testagem aleatória efetuado pela Segurança Social.

 

Na Vidigueira, a situação epidemiológica agravou-se a partir de meados de dezembro. No dia de Natal havia registo de 105 casos ativos, 38 dos quais na freguesia de Vila de Frades e 19 no lar da Fundação Domingos Simão Pulido. A Câmara viu-se forçada a encerrar o atendimento presencial e a reduzir a serviços mínimos diversas valências operacionais, como a recolha de lixo, tendo em conta a existência de um surto com quatro trabalhadores do estaleiro infetados pelo vírus da covid-19, o que colocou a maioria dos restantes em quarentena. O município fechou ao público os polidesportivos, o estádio, o pavilhão e o museu, bem como o Centro Interpretativo do Vinho da Talha e o sítio arqueológico de S. Cucufate.

 

CONSEQUÊNCIAS ECONÓMICAS Além das consequências a nível de saúde pública, a covid-19 provocou, ao longo de 2020, uma crise sem precedentes em muitos setores de atividade. Os mais atingidos foram o turismo (em particular a restauração) e o comércio tradicional. O assunto foi várias vezes abordado pelo "DA" ao longo do ano. “Tem sido um ano diferente, com um decréscimo acentuado da procura, muito pela imposição do número reduzido de pessoas à mesa (...) Tudo é estranho e diferente, por vezes assustador e muito incerto. Não parece Natal”, sublinhou Saudade Campião, que está à frente da cozinha de uma das mais antigas e típicas casas de restauração de Beja, na edição do dia 25 de dezembro. A mesma em que a Associação Comercial do Distrito de Beja perspetivou o encerramento de um em cada cinco estabelecimentos comerciais do Baixo Alentejo devido à quebra de faturação e ao acumular de prejuízos que nem as vendas de Natal conseguiram atenuar.

 

DESEMPREGO EM ALTA

 

O crescimento do desemprego foi outra das consequências da crise económica provocada pela covid-19. Em novembro, os centros de emprego do Alentejo contabilizavam 17 226 pessoas à procura de trabalho, mais duas mil do que no início do ano. A perspetiva dos empresários é que o problema se agrave com o fim do 'lay-off' simplificado, que permitiu a muitas empresas reduzirem de forma significativa os encargos com pessoal. Os pedidos de ajuda ao Banco Alimentar Contra a Fome de Beja não têm parado de aumentar: desde o início da pandemia há mais mil pessoas a receber ajuda.

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