Diário do Alentejo

Ulsba corre risco de ficar sem médicos de saúde pública

26 de novembro 2020 - 11:35

A Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba) corre risco de ficar sem médicos de saúde pública se não for possível substituir os atuais que estão de saída, o que trará "consequências dramáticas" em tempos de pandemia.

 

Em declarações à Lusa, a presidente do conselho de administração da Ulsba, Conceição Margalha, explicou que a Unidade de Saúde Pública daquela entidade, que integra o hospital de Beja e os centros de saúde de 13 dos 14 concelhos do distrito de Beja, tem atualmente três médicos, nomeadamente dois especialistas em saúde pública e uma interna em formação na especialidade. Os dois médicos especialistas candidataram-se a um concurso de mobilidade e ficaram colocados na Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo, para onde vão ser transferidos. Se os dois especialistas não forem substituídos, a terceira médica interna não poderá continuar sem tutor e terá de sair para continuar a formação na especialidade noutra unidade de saúde.

 

Dado tratar-se de uma transferência ao abrigo de um concurso que "não pode ser impedido", a Ulsba, "perante a atual situação de pandemia, está a desenvolver esforços para a colocação dos dois médicos especialistas na ARS de Lisboa e Vale do Tejo não se efetivar de imediato e ser protelada" até haver uma solução, indicou Conceição Margalha, acrescentando que a instituição “não pode contratar diretamente médicos de saúde pública" e vai ter que esperar pelo concurso nacional que o Ministério da Saúde irá lançar no final deste ano para contratar e colocar médicos recém-especialistas em unidades do Serviço Nacional de Saúde.

 

Se os clínicos saírem sem serem substituídos, a Ulsba "ficará sem médicos de saúde pública, mas não sem conseguir dar resposta à pandemia" porque "tem outros cinco médicos de família que desempenham funções de autoridade de saúde e têm colaborado no processo" de gestão da covid-19. "Estes cinco médicos continuam a trabalhar com a Ulsba, mas trabalham nos centros de saúde e não podem estar a tempo inteiro na Unidade de Saúde Pública" e, por isso, a saída dos clínicos sem a necessária substituição poderá trazer "algumas consequências e dificuldades" à gestão da pandemia, admitiu Conceição Margalha.

 

Presidente do Conselho Sub-regional de Beja da Ordem dos Médicos (OM mostrou-se "bastante preocupado" com a situação, frisando que a perda dos médicos de saúde pública "pode ter consequências dramáticas na capacidade de resposta" do Baixo Alentejo na gestão da pandemia de covid-19. Pedro Vasconcelos disse que a situação "preocupa bastante" a OM, "particularmente numa altura em que o contributo da saúde pública é fundamental para a boa gestão" da pandemia. "Vai haver uma dificuldade muito maior na gestão de dados e contactos e na avaliação de situações da pandemia que tem de ser a saúde pública a aquilatar e, por consequência, isso não vai trazer a fluência necessária para momentos de dificuldade como o que estamos a viver e em que um dos esteios principais para a boa execução das tarefas é conseguir ter quem as ponha rapidamente em prática no terreno", alertou.

 

O responsável frisou que "é ilegal qualquer médico exercer funções de uma especialidade que não seja a sua" e disse que a OM espera que "possa haver uma solução" para a situação. Tendo em conta "a excecionalidade dos tempos que vivemos", poder-se-á "eventualmente protelar a transferência dos dois médicos, sem pôr em causa a legitimidade dos seus pedidos", e para "evitar haver um hiato sem médicos de saúde pública" na Ulsba e, "naturalmente, será necessário contratar outros médicos para os substituir", o que "não será fácil".

 

"Tudo isto remete-nos para o problema mais antigo e profundo da dificuldade em fixar médicos no interior do país", o qual "vai ter que ser visto de uma vez por todas pelos vários níveis das diversas tutelas", porque "não se podem suceder situações destas e que "ainda mais graves se tornam" quando acontecem "em momentos particularmente difíceis como o que estamos a viver", rematou Pedro Vasconcelos.

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