Diário do Alentejo

João Casaca: “É a nossa gente que está em causa”

25 de junho 2020 - 10:05

Entrevista com João Casaca, diretor executivo e fundador da GeekCase, uma das várias empresas e entidades parceiras da OPTA Alentejo – Organização Pontual no Tempo Atual, um espaço solidário criado em tempo de covid-19.

 

Texto José Serrano

 

Que indícios de dificuldades contribuíram para a criação da OPTA?

Devido ao encerramento temporário de muitas empresas e à consequente interrupção das fontes de receitas, detetamos a existência, na região, de pessoas a viver uma “pobreza envergonhada”. Pequenos empresários em nome individual ou com negócios familiares que nunca antes tinham estado numa situação de dificuldade económica como a que atualmente vivem. E muitos deles, perante as adversidades e as necessidades agora sentidas, resistem em pedir ajuda, em recorrer às entidades que costumam ministrar este tipo de apoios sociais, por uma questão de orgulho e de dignidade. Uma dificuldade acrescida por viverem em meios pequenos, em localidades onde todas as pessoas se conhecem todas umas às outras. A necessidade de fornecer auxílio direcionado a esta franja da sociedade, garantindo o sigilo que a situação implica, é uma das razões que levaram à criação deste consórcio solidário.

 

O que diria a essas pessoas que resistem a pedir ajuda?

Digo a estas pessoas – muitas delas nem sabem como reagir a tamanha adversidade – que não tenham vergonha de pedir apoio a instituições de solidariedade social. A OPTA garante também esse espaço de apoio.

 

Quem mais vos tem procurado?

Pessoas individuais, famílias e desempregados que necessitam de ajuda alimentar, de vestuário e de outros bens de primeira necessidade, bem como empresas que apresentam dúvidas relativas aos apoios existentes e de que forma poderão a eles recorrer.

 

Têm registado um crescendo de pedidos de ajuda?

Sim. À medida que o tempo passa, e a situação se agrava, os pedidos de ajuda, quer a nível pessoal, familiar ou empresarial, têm vindo a aumentar. Num mês temos cerca de 76 ações desenvolvidas, 42 famílias auxiliadas e 34 empresas apoiadas. Mas os números revelam um aumento, diário, significativo. E temo-nos deparado com algumas situações dramáticas.

Sendo empresário local como descreve o impacto da pandemia no tecido empresarial da cidade de Beja e na região?

Nós, que somos empresários nesta região, lutamos há muito, todos os dias, para que as nossas empresas, que carecem de vários apoios por estarem sediadas no interior, possam crescer. Esta pandemia veio agravar seriamente as dificuldades, provocando danos emocionais e financeiros, mas também inseguranças e incertezas para o futuro que se avizinha.

 

Esse impacto é, em Beja, global?

É um impacto generalizado, uma pandemia desta natureza não escolhe quem atinge. Existem setores fortemente afetados como a hotelaria, o turismo, a restauração, a cultura e o pequeno comércio de rua. E os empresários do centro histórico de Beja, já há vários anos com dificuldades, ficam agora mais debilitados. Muitos deles, ao serem privados dos seus meios de subsistência, ficaram com os seus negócios e as suas vidas em situação muito difícil. Por isso temos de consumir no comércio local e regional e sermos, mais do que nunca, solidários.

 

Teme que alguns destes negócios possam ter de fechar portas?

Sem dúvida. O comércio local é a alma de uma cidade, de uma região e é a sua economia que lhe dá vida. É o coração que nos bombeia todos os dias, para que nos consigamos manter e para que possamos crescer. São os negócios locais, onde tanto investimos e onde deixamos o nosso suor, que dão emprego e nos concedem a oportunidade de desenvolver as nossas atividades na cidade onde nascemos. É a nossa gente, as nossas vidas que estão em causa.

 

O que deverá ser feito para contrariar essa possibilidade de infortúnio?

É preciso agir urgentemente, porque cada segundo conta e porque as palavras não fazem a diferença. Temos de nos reinventar, de procurar soluções para que os nossos negócios não morram e se tornem sustentáveis. É preciso estimular o consumo e o comércio local de produtos e serviços, através da sinergia empresarial e de um movimento de entreajuda de todos para com todos.

 

De que forma um cidadão, uma empresa ou uma entidade podem contribuir e participar nesta causa?

Todos podem contribuir e participar, de diversas formas: colaborando connosco através de regime de voluntariado; disponibilizando meios logísticos, viaturas, bens e serviços; anunciando ofertas de emprego e necessidades de mão-de-obra; enviando uma foto ou um vídeo para divulgação dos seus produtos e serviços, bem como formas de os obter; indicando-nos a disponibilidade de trabalho a tempo parcial ou integral; doando excedentes alimentares, produtos ou bens de primeira necessidade, máscaras, viseiras, equipamentos informáticos para alunos de famílias mais carenciadas, etc.

 

FORMAS DE AJUDA

Sendo esta organização constituída por várias empresas e entidades, a quem e de que forma pode a OPTA ajudar?

A OPTA dirige o seu auxílio a todos aqueles que o solicitam, seja este de carácter social ou económico. Tanto ajudamos pessoas, como empresas. As formas de ajuda vão desde a entrega de cabazes alimentares gratuitos – processo que decorre em sigilo absoluto – até à disponibilização de informação e acompanhamento personalizado no acesso às medidas e instrumentos de apoio existentes para as empresas. Rececionamos e divulgamos ofertas de emprego e promovemos produtos e serviços, através do site www.opta-alentejo.pt. Por outro lado, divulgamos gratuitamente, através da Internet, o tecido empresarial, os negócios, os produtos e os serviços da região, uma vez que muitos empresários não têm uma página web oficial, nem se encontram nas redes sociais. O nosso foco é constituirmo-nos como uma alavanca que possa ajudar à retoma normal das diversas atividades, no Alentejo.

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