Texto | Manuel Baiôa
Foto | Ricardo Zambujo
O São Martinho volta a marcar o calendário vínico do Alentejo. A tradição dita que é apenas a partir de 11 de novembro que se pode provar o vinho novo e foram muitas as adegas que abriram as primeiras talhas nesse dia. Em Cuba, a Adega Canena e a Adega da Pigarça deram início às celebrações; em Vidigueira, a Adega Museu do Vinho de Talha seguiu o mesmo rito; em Vila de Frades, a Gerações da Talha e a Taberna dos Arcos receberam enófilos e curiosos. Em Vila Alva e Vila de Frades houve ainda magusto e música, reforçando o carácter popular desta data. A abertura das talhas e as celebrações alastraram-se a todo o Alentejo tradicional. A maioria dos grandes eventos, porém, concentra-se no fim de semana. Em Cuba, a Herdade do Rocim volta a realizar o seu “Amphora Wine Day”, tradição iniciada em 2018 e hoje referência internacional. A edição de 2025, agendada para amanhã, sábado, dia 15, reúne cerca de 50 produtores nacionais e estrangeiros — de Portugal, Chile, Geórgia, Espanha, França e Itália — num encontro dedicado à divulgação global do vinho de ânfora. O programa inclui provas comentadas e um debate sobre o tema “Da Argila ao Copo – Como Promover o Vinho de Amphora?”, contando com a presença de críticos e jornalistas de renome, como Paul White, Jamie Goode e Julia Harding. O evento abre às 11:00 horas com acesso exclusivo a profissionais e imprensa até às 14:00 horas; depois desse horário, e até às 19:00 horas, o público poderá degustar livremente os vinhos em exposição, num ambiente que combina conferências, gastronomia regional e música ao vivo. Para Pedro Ribeiro, administrador da Herdade do Rocim, “foi aqui, entre Vidigueira e Cuba, que o Alentejo voltou a ser reconhecido como o grande guardião do vinho de talha, colocando Portugal no mapa dos vinhos feitos em ânfora”. Catarina Vieira, administradora, sublinha que “produtores de todo o mundo viajam até ao Alentejo para celebrar esta arte ancestral e compreender como o barro, o tempo e a terra se unem para criar vinhos únicos”. Também em Vila Alva decorre entre hoje, sexta-feira, dia 14, e domingo, dia 16, o evento “Provando o Tareco”. A freguesia preserva vinhas centenárias únicas na região e um conjunto significativo de adegas tradicionais. A produção doméstica de vinho de talha continua enraizada e muitas famílias mantêm o seu próprio “tareco” — uma pequena talha usada para consumo familiar. O certame abre hoje, às 19:00 horas, com atuações musicais. Amanhã, sábado, há caminhada pelas vinhas centenárias às 10:00 horas e rota das adegas às 18:00. No domingo a programação encerra com uma açorda comunitária, às 13:00 horas, e a mesa redonda “Conversas com Vinho”, às 17:30 horas. Em Vila de Frades realiza-se, nos dias de amanhã e domingo, a “Rota das Adegas 2025”, que reúne vários produtores locais. O programa oferece visitas guiadas, provas de vinho de talha e almoços vínicos, numa celebração que percorre o centro histórico da vila. Paralelamente, decorre a “Feirinha de São Martinho”, com produtos regionais e animação musical. O fim de semana promete, assim, múltiplas oportunidades para descobrir o vinho novo e, em particular, o vinho de talha: um produto identitário, profundamente ligado ao território e à intervenção humana, marcado por práticas de mínima tecnologia e forte herança cultural. Beber um vinho de talha é beber o Alentejo – um gesto que convoca história, paisagem e uma visão de sustentabilidade baseada na simplicidade e na proximidade à terra.