Diário do Alentejo

A afirmação do PCP na região em tempo de reorganização social

31 de maio 2024 - 11:00
50 anos de Abril
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Texo | Marco Monteiro Cândido 

 

Na última semana de maio de 1974 as edições do “Diário do Alentejo” (“DA”) ainda faziam eco do 20.º aniversário da morte de Catarina Eufémia, a camponesa de Baleizão assassinada a 19 de maio de 1954 pelo tenente da Guarda Nacional Republicada, João Carrajola. No sábado, 25 de maio de 1974, uma fotografia de Álvaro Cunhal, o então secretário-geral do PCP, que havia regressado do exílio semanas antes, depois do 25 de Abril, e que se deslocou a Baleizão na efeméride. “Ao usar da palavra no grandioso comício efectuado em Baleizão para evocar Catarina Eufémia no 20.º aniversário do seu assassinato pelas forças da repressão fascistas, o ministro sem pasta Álvaro Cunhal, secretário-geral do Partido Comunista Português (na foto: alvo de manifestações populares naquela aldeia), prestou significativa homenagem à memória daquela corajosa rural alentejana, numa breve mas significativa expressão: ‘Catarina morreu como deve saber morrer um membro do P. C.: à frente das massas populares’”.

 

Três dias depois, a 28, nova referência na capa do “DA” à morte de Catarina Eufémia, com uma imagem da trasladação do corpo de Quintos para Baleizão. “Vinte anos depois, os restos mortais, de Catarina Eufémia, a corajosa rural alentejana assassinada pelas balas da repressão fascista, deixaram o exílio (Quintos) imposto pelas autoridades do regime e repousam agora no cemitério da aldeia de Baleizão, onde a militante do P.C.P. vivia e assumiu a posição de vanguarda na luta por melhores salários para a classe proletária”.

 

No dia seguinte, 29 de maio, mais uma chamada de capa do “DA”, com Álvaro Cunhal, novamente, em destaque. “O ministro sem pasta Álvaro Cunhal, secretário-geral do Partido Comunista, com o à vontade do homem e do político que não teme porque não deve, convive com o povo (em Baleizão) ao lado dos representantes das Forças Armadas que tornaram possível a sua presença livre no País ao fim de tantos anos de prisões, exílio e clandestinidade”.

 

Em simultâneo, fruto dos primeiros tempos em Democracia, a reorganização social da sociedade portuguesa e das estruturas da região avançava diariamente: a 25 de maio, “Professores do Alentejo: reunião amanhã em Beja para formação de sindicato”; a 27, “Lavoura alentejana à espera de aumentos nos preços dos produtos”; a 28, “Sanear e reestruturar pedem trabalhadores do S.N.E [Serviço Nacional de Emprego] no Alentejo”; a 29, “Câmara de Beja – Eleita hoje a comissão [administrativa]; no dia seguinte, a 30, a “Comissão administrativa para o município de Beja votada em plebiscito”, ao passo que os “Trabalhadores da B.A.11 [Base Aérea N.º 11] apresentam reivindicações aos serviços germânicos”; por fim, no último número desse maio, maduro maio, a 31, o “DA” noticiava que teria lugar no dia seguinte “o primeiro comício popular em Beja” do PCP. Seria o princípio da forte implementação autárquica do PCP na região.

 

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