Diário do Alentejo

“Se nós tratarmos bem as crianças, adequadamente, teremos, seguramente, adultos mais saudáveis, sem comorbilidades graves”

28 de setembro 2024 - 08:00
Três Perguntas a Isabel Brito Lança, médica pediatra da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba)

A propósito do II Encontro de Pediatria no Alentejo, realizado nos dias 19 e 20 em Beja, sob o tema “Atualização em Patologia Nefro-Urológica”, o “Diário do Alentejo” conversou com a médica pediatra da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba), Isabel Brito Lança, sobre a relevância desta iniciativa, a importância da mesma para a partilha de conhecimento, assim como as principais carências com que a região do Baixo Alentejo mais se confronta no que diz respeito à saúde infantil.

 

Texto | José Serrano

 

 

Sob o tema “Atualização em Patologia Nefro-Urológica”, realizou-se nos passados dias 19 e 20, em Beja, o II Encontro de Pediatria no Alentejo, organizado pelo serviço de Pediatria da Ulsba. Qual a relevância deste encontro?

Este foi um encontro muito importante que abordou, na sua totalidade, a patologia nefro-urológica pediátrica. Esta patologia pode levar na vida adulta a doença renal importante, nomeadamente, doença renal crónica e hipertensão, toda uma morbilidade que o adulto pode vir a ter e que começa na infância. Por isso, se nós tratarmos bem as crianças, adequadamente, teremos, seguramente, adultos mais saudáveis, sem comorbilidades graves que podem condicionar, grandemente, a sua qualidade de vida. Este é um tema muito atual e da maior importância.

 

No encontro participaram pediatras dos serviços de Urologia e Nefrologia do Hospital Dona Estefânia. Como classifica a importância desta partilha de conhecimento?

Foi uma enorme mais-valia ter presentes, neste encontro, os colegas do Hospital Dona Estefânia. Partilhar conhecimento sobre esta patologia com colegas que se dedicam em exclusivo à nefrologia e à urologia pediátricas é da maior importância e relevância para os pediatras gerais – que é o nosso caso, médicos pediatras do hospital de Beja. Falámos, nesta reunião, sobre todos os principais temas desta patologia nefrológica e urológica, de modo a estabelecermos contactos, pontes, consensos e protocolos, para que todos façamos da mesma maneira, sempre com o fim último de tratarmos cada vez melhor as nossas crianças.

 

Quais as principais carências com que a região do Baixo Alentejo mais se confronta no que diz respeito à saúde infantil?

O problema da fixação de profissionais no Serviço Nacional de Saúde (SNS) é um problema atual. Há formação pediátrica para médicos internos, futuros pediatras, no hospital de Beja. Contudo, a maioria não pretende continuar no SNS ou aqui fixar-se. O serviço de Pediatria do hospital de Beja tem enorme qualidade, com valências que outros hospitais distritais não têm, nomeadamente, cardiologia pediátrica, patologia respiratória, consulta de neonatologia, consultas de endocrinologia e gastroenterologia pediátricas, neuropediatria, consulta de desenvolvimento… Temos, portanto, uma quantidade de valências e uma qualidade intrínseca ao serviço de Pediatria que será uma pena não terem continuidade. Isto só se consegue se as pessoas tiverem um projeto de vida que contemple não só o hospital mas, também, a cidade. E muitas vezes a cidade, não sendo apelativa, acaba por acarretar o desinteresse em aqui continuar. Este é o grande desafio que temos pela frente: pensar qual será a melhor estratégia para que consigamos ter gente jovem connosco, capaz de dar continuidade à qualidade que o serviço de Pediatria tem construído ao longo dos anos na prestação de serviços à população pediátrica do nosso distrito.

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