Diário do Alentejo

Legislativas antecipadas “atropelam” Autárquicas

15 de março 2025 - 08:00
Nelson Brito (PS) prefere Aljustrel e João Dias (PCP) aposta tudo em Serpa. Gonçalo Valente (PSD) mantém tabu em relação a Ourique. Diva Ribeiro (Chega) diz que quem sabe é Ventura
Ilustração | Susa MonteiroIlustração | Susa Monteiro

Com as máquinas partidárias em andamento para as campanhas das Autárquicas e muitos candidatos já no terreno, a marcação antecipada das Legislativas veio baralhar as estratégias dos vários partidos e criar suspense sobre os nomes escolhidos para encabeçar as listas pelo distrito de Beja.

 

Texto Aníbal Fernandes

 

E de repente o País vai a votos outra vez. Ou, melhor, cerca de um ano após as últimas eleições legislativas, em março de 2024, os eleitores serão chamados a escolher, de novo, os seus representantes no Parlamento, tornando o calendário eleitoral mais preenchido, uma vez que também estão previstas Autárquicas para setembro ou outubro.

Apesar da rejeição de duas moções de censura postas a votos em São Bento no espaço de duas semanas – propostas pelo Chega, a primeira, e pelo PCP, a segunda –, as dúvidas entretanto levantadas acerca da alegada atividade empresarial que puseram em causa a exclusividade exigida a um primeiro-ministro obrigaram Luís Montenegro a avançar com uma moção de confiança que foi rejeitada pela maioria dos deputados na passada terça-feira, dia 11.

As eleições antecipadas tornaram-se uma inevitabilidade para o Presidente da República que já tinha avançado com as datas possíveis para a sua realização, a 11 ou 18 de maio próximo. Depois de ter ouvido os partidos, na quarta-feira, e o Conselho de Estado, ontem, seguir-se-á a dissolução da Assembleia da República pela terceira vez neste último mandato presidencial.

Em março de 2024, PS, PSD/ /CDS e Chega elegeram, cada um, o seu deputado pelo distrito, respetivamente, Nelson Brito, Gonçalo Valente e Diva Ribeiro. João Dias (PCP) e Pedro do Carmo (PS) perderam então os seus lugares no hemiciclo.

Agora, Nelson Brito anunciou a sua candidatura à presidência da Câmara Municipal de Aljustrel e João Dias à Câmara Municipal de Serpa, sendo que Gonçalo Valente era o nome mais falado para liderar a lista do PSD a Ourique, embora a sua candidatura nunca tenha sido anunciada.

 

“Honra e orgulho” Nelson Brito, depois de ter participado, no domingo à noite, dia 9, na reunião em que os presidentes das federações socialistas se mostraram de forma unânime ao lado do secretário-geral do partido em relação à reprovação da moção de confiança, disse ao “Diário do Alentejo” que, “já na quarta-feira, dia 5, tinha informado Pedro Nuno Santos” de que não estava disponível “para integrar a lista do PS às Legislativas”.

“O meu compromisso é com Aljustrel e tenho muita honra e orgulho em ser candidato à presidência da câmara municipal”. Citando o líder histórico e fundador do PPD, Francisco Sá Carneiro, o deputado do PS eleito por Beja acrescentou que “a política sem risco é uma chatice, mas sem ética é uma vergonha”.

 

Disponível para servir o PSD

 

Contactado pelo “Diário do Alentejo”, Gonçalo Valente disse ser “prematuro” dizer se vai, ou não, repetir a candidatura ao Parlamento e ou à câmara. “Não sei qual vai ser a ideia do partido, quer a nível regional, quer nacional, mas estou disponível para o servir. Os prazos são apertados e dentro de duas ou três semanas deverão saber-se quais os candidatos escolhidos”, explicou.

Recorde-se que no debate da moção de censura apresentada pelo PCP, discutida na passada semana no Parlamento, o deputado do PSD questionou os comunistas, nomeadamente, querendo saber se o PCP estava em desacordo com “o compromisso assumido por este governo, depois de oito anos de esquecimento”, para levar para a frente a A26, a ampliação e revitalização do hospital de Beja ou a construção do bloco de rega de Moura.

 

Tudo por Serpa

 

Para João Dias está fora de questão voltar a ser candidato nas Legislativas. “O meu compromisso é total com Serpa, para que o concelho avance em transformação e renovação”, disse.

No entanto, tem acompanhado a política parlamentar e, referindo-se à intervenção do deputado do PSD, lembrou que “foi por proposta do PCP, no âmbito da discussão do Orçamento do Estado, que a verba de 11,8 milhões de euros para a construção do novo hospital de Beja foi aprovada, curiosamente com os votos contra do PSD do qual Gonçalo Valente faz parte. Ou seja, não é o PCP que está em desacordo, o PSD é que está”, retorquiu, acrescentando que todas as obras referidas não se ficam a dever a este governo e que “são do tempo da chamada geringonça”.

 

À espera de Ventura

 

Diva Ribeiro, eleita pelo Chega em 2024, diz que, “perante um cenário que não era previsível, será sempre o presidente do partido a decidir quais são os candidatos e até agora ainda nada foi falado sobre o assunto”. No entanto, lembra que a sua “disponibilidade era para uma legislatura” e que ainda apenas passaram 10 meses desde que assumiu funções.

Questionada sobre o impacto que os vários casos que assolaram o Chega nos últimos meses possam ter nos resultados do partido, Diva Ribeiro disse que “os casos e casinhos de que fala são politiquices e nós estamos interessados em discutir temas como a Saúde, a Educação, a Justiça ou a Imigração, que é o que interessa aos portugueses”.

Numa referência à sondagem divulgada na segunda-feira e que dava o Chega em queda, a deputada diz que “as sondagens são o que são” e que o seu partido “nunca foi atrás de sondagens”.

 

Estarão os baixo-alentejanos “fartos de eleições”?

Nas eleições legislativas antecipadas de 2024, no círculo eleitoral de Beja, o Partido Socialista e a Coligação Democrática Unitária (CDU), liderada pelo PCP, perderam, em conjunto, quase seis mil votos: 5125 o PS, 872 a CDU. Chega (9663), PSD/CDS (2608), Bloco de Esquerda (882), Iniciativa Liberal (320), Livre (878) e PAN (543) aumentaram as suas votações em 14 894. Ora, se o PS e o PCP juntos apenas perderam cerca de seis mil votos e os restantes partidos aumentaram cerca de 15 mil, de onde vieram os nove mil que faltam? Do aumento significativo do número de eleitores votantes que passou de 67 530, em 2022, para 76 994, em 2024. Esta será a grande incógnita das próximas eleições: será que o Chega e o PSD/CDS – os maiores beneficiados – conseguirão manter as respetivas votações ganhas em grande parte à abstenção, ou, como quase todos os comentadores e políticos defendem por estes dias (a esquerda à esquerda do PS não), os portugueses – e no caso os baixo-alentejanos – estarão “fartos de eleições” e ficarão, novamente, em casa? AF

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