Diário do Alentejo

A lei da natureza voltou
Opinião

A lei da natureza voltou

Vítor Encarnação

07 de abril 2024 - 12:00

Assim sabe melhor, a vida volta a ter coerência, e a primavera, vestida de erva, já se pode espreguiçar à sombra das papoilas, e o verão, vestido de pó, já pode ferver dias seguidos. Podem, uma e outro, respeitar a tradição das suas existências porque o tempo fez o favor de voltar a ser normal. A essência de uma coisa forma-se a partir da essência precedente, cada estação é o resultado da outra, cada época é filha e depois mãe, é a partir de uma sequência comum que a natureza se tem afirmado eternamente, nada na natureza deve ser experimentalista, muito menos os homens e as mulheres no que a ela diz respeito. Assim faz mais sentido, era assim que estávamos habituados, foi com essa coesão que os mais velhos cresceram, as estações a respeitarem o rodar da terra, o devir do tempo, a lei da natureza. Assim é mais bonito, dias de água em dias de água, dias de sol em dias de sol, em fevereiro chuva, em agosto uva, março marçagão, manhãs de inverno, tardes de verão, abril, águas mil. O relógio que trazemos no corpo andava avariado, nada nele batia certo, nem o céu, nem as nuvens, nem a água, nem o frio, nem as noites, nem os dias, nem a nossa cabeça, nem o nosso coração. Assim ficamos um pouco mais descansados, a água regou-nos o ânimo, o ânimo é como a terra, seca não presta para nada, a chuva encheu-nos de felicidade, a felicidade é como uma barragem, vazia é uma coisa triste. Depois deste inverno um pouco mais parecido com os do livro da nossa vida, tudo o que vier terá um significado maior. Cada grilo, cada fruto, cada sol-posto. 

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