Diário do Alentejo

Primeiro-ministro inaugurou Ovibeja

03 de maio 2024 - 12:00
Luís Montenegro na abertura do certame que decorre até domingo, dia 5 Foto| Ricardo Zambujo

Nesta que é a sua 40.ª edição, a Ovibeja voltou, na terça-feira, a abrir as suas portas ao público, regressando a presença governamental, ao mais alto nível, a marcar a sessão solene inaugural do certame. O primeiro-ministro, Luís Montenegro, sublinhando a honra de se associar à reconciliação entre o Governo da República e a Ovibeja, declarou reconhecer a agricultura como “um setor fundamental” para o País.

 

Texto José SerranoFoto Ricardo Zambujo

 

O primeiro-ministro, acompanhado pelo ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, e pela ministra do Ambiente e da Energia, Maria da Graça Carvalho, esteve presente na sessão de abertura da 40.ª Ovibeja, que teve lugar na terça-feira, dia 30, na sala de conferências do Pavilhão dos Sabores, do Parque de Feiras e Exposições – Manuel de Castro e Brito, em Beja. Em oposição à ausência, em 2023, de figuras ministeriais do anterior executivo, depois de vários meses de protesto dos agricultores de norte a sul, Luís Montenegro manifestou “o gosto de estar presente” na inauguração do certame deste ano, associando-se, frisou, “à reconciliação do Governo da República com a Ovibeja – é uma honra poder fazê-lo, a bem das relações institucionais entre a agricultura portuguesa e o Governo, independentemente da cor partidária que lidera em cada momento”, arrancando uma vigorosa salva de palmas por parte de alguns dos convidados.

O governante disse reconhecer na agricultura “um setor fundamental”, pelo seu valor económico – “a agricultura representa 5,3 por cento do Produto Interno Bruto e emprega cerca de 11 por cento da nossa população ativa” – e estratégico, capaz de possibilitar uma maior autonomia alimentar, coesão territorial e justiça social. “Valorizar a agricultura é valorizar toda a cadeia de valores dentro desta fileira, mas, também, a indústria que se move em seu redor, o comércio e os serviços que a partir da produção agrícola são alavancados. É essa filosofia que nós queremos incrementar e desenvolver, nos próximos anos, em Portugal”.

Assim, enaltecendo a Ovibeja, Luís Montenegro aludiu à feira como uma “referência nacional e internacional”, que vem evidenciando, ao longo do tempo, “todo este potencial”, apresentando, ano após ano, “novos caminhos, novas tecnologias” para a agricultura. “Habituámo-nos a olhar para a Ovibeja como um momento que é, simultaneamente, de reencontro e motivação. São essas notas de regozijo e de reconhecimento, por tudo ao que foi feito ao longo destas 40 edições, mérito da ACOS [Associação de Agricultores do Sul], de Beja e do Alentejo, que aqui quero deixar”.

Na sessão, Rui Garrido, presidente da ACOS, entidade organizadora do evento, agradecendo as presenças ministeriais de peso, “um sinal que estamos perante um governo que quer trabalhar e dialogar com os agricultores e as suas associações, como forma de encontrar soluções para os problemas que afetam a agricultura, a sociedade rural e o ambiente”, defendeu a necessidade, na região, de mais recursos hídricos e de se rever o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum, considerando que o negociado com o anterior Governo “ainda mal tinha nascido, já se revelava inadequado à agricultura portuguesa”.

Para a região o responsável da ACOS considera a necessidade de melhores acessos, pois “se dispusermos de uma rede rodoviária e de uma linha de caminho de ferro rápidas poderão ser equacionadas outras valências para o aeroporto de Beja, com benefícios para a região e para o País”.

Rui Garrido referiu, ainda, a necessidade de se encontrar uma solução para as questões da “precaridade dos contratos de trabalho e da fiscalização”, relativas à mão de obra imigrante, existente no território. “Estamos empenhados, em colaboração com várias entidades públicas e privadas, em tentar resolver os problemas associados à integração destes imigrantes, no nosso mercado de trabalho”.

Uma questão que, também Paulo Arsénio, presidente da Câmara Municipal de Beja, fez menção no seu discurso, considerando: “Se numa fase inicial, por regra, a imigração que chegava ao território estava ocupada, em termos permanentes, essa realidade alterou-se substancialmente, nos anos mais recentes, registando-se uma taxa de desocupação laboral. Mesmo por parte das novas populações que acorrem à região, com as legítimas expectativas de aqui encontrarem melhores condições de vida. O que muitas vezes não acontece”.

Paulo Arsénio referiu ainda a necessidade de ajudas aos municípios para a reparação de vias de comunicação municipais, fruto da constante passagem, “em número muito significativo”, de veículos de elevada tonelagem, “suportadas, integralmente, pelas respetivas autarquias”.

Já depois da sessão solene, e do périplo político costumeiro pelos vários pavilhões e stands, ouvindo representantes de instituições, de empresas particulares, da prova frugal de artigos gastronómicos típicos, de beijinhos e cumprimentos de felicitação por parte dos transeuntes, de selfies com mais e menos jovens, Luís Montenegro, em declarações aos jornalistas, não deixando de referir os “muitos problemas” da região, “de acessibilidades, nas áreas da saúde, da educação e da habitação”, com necessidade de serem resolvidos “em simultâneo”, observando tentar encontrar resposta para todos eles, regressou ao tema da agricultura, no qual o seu discurso mais se concentrou. “Vamos nos próximos meses expressar, através de decisões concretas, o que pensamos ser necessário para valorizar o setor. Nesse sentido, estamos a preparar um plano estratégico para a gestão e armazenamento de água, que queremos implementar, nos próximos anos em Portugal, resolvendo, do ponto de vista estrutural, uma matéria que é absolutamente crucial”. Matéria que, embora a presença da barragem de Alqueva, não está totalmente resolvida na região, sendo necessário, atenta, “a resolução de vários perímetros de rega que não estão ainda salvaguardados”, sublinhando, paralelamente, a importância de se “fazer uma gestão que garanta, nos anos de seca, conciliar o abastecimento das populações com as atividades agrícolas e turística – e isso requer investimentos que não podem ser adiados”.

Luís Montenegro referiu, também, ser “preciso fazer uma renovação geracional dos agricultores, chamando para a agricultura mais jovens empreendedores, aproveitando o seu potencial de qualificação e viabilizando os seus projetos. É isso que nós queremos fazer nos próximos anos”.

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