Diário do Alentejo

Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou
Opinião

Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou

Ana Paula Figueira, professora

14 de outubro 2019 - 11:05

Passou ano e meio desde que fui nomeada e iniciei funções no IPBeja para o desenvolvimento e implementação de tarefas, projetos e atividades específicas. Regozijo-me pela intensidade com que tenho vivido estes tempos da minha vida profissional. Regozijo-me igualmente pelas conquistas e pelas adversidades que têm marcado este caminho. Com todas elas tenho aprendido muito. Há pouco tempo fui convidada para abrir um evento cujo tema se relacionava com a leitura e com a escrita. Por altura da apresentação da minha pessoa, o moderador hesitou: “Escritora? Pró-presidente? Professora?”. Lá esclareci como pude mas aquela hesitação fez-me pensar: o que sou eu para os outros mas, em particular, o que sou eu para mim?

 

Quem melhor me conhece, sabe o desconforto que sinto quando me confundem com uma “escritora”. Sou uma amante das letras e da língua! Por vezes, fruto de uma inquietação, afoito-me na composição de pequenos textos que buscam, quase sempre, afinidades literárias. Tão-somente isso! O cargo que atualmente desempenho no IPBeja resulta da confiança da autoridade máxima da instituição, logo, é de livre provimento, de livre exoneração, e transitório. Estou de passagem! Exerço a profissão de professora, no ensino superior, há 26 anos. Faço-o com paixão.

 

Hoje os jovens – e os mais velhos – têm direito de acesso ao ensino, de frequentar as escolas e estas são – ou deveriam ser – entendidas como locais de excelência para o desenvolvimento pessoal e interpessoal. Todavia, ao longo destes anos, reconheço e lamento que as políticas de luta contra o analfabetismo e as políticas de massificação do ensino tenham colaborado (também) para que a frequência da escola seja, para demasiados alunos, entendida como uma imposição, um dever, a origem de contrariedades e de insatisfações, levando-os a adotar comportamentos reveladores de abandono e de apatia que, por sua vez, prejudicam a tarefa do professor e geram desmotivação profissional. Esta realidade alastrou-se a todos os graus de ensino. Se pensarmos que estes jovens serão os decisores de amanhã, é impossível não sentir apreensão.

 

Apesar de tudo, ser professor será sempre algo que está para além de ter um emprego. A arte de ser professor inclui utopia e extravagância. O reconhecimento deve ser ganho pela sedução do exemplo e não pelo domínio. Tenho sorte porque (até) tenho uma profissão que me permite, todos os dias e a cada dia, ajudar alguém a querer ser um maior e melhor ser humano. E é isto que eu sou para mim: professora!

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