Diário do Alentejo

Prioridade – palavra de significado tão concreto e de aplicação tão diversa!
Opinião

Prioridade – palavra de significado tão concreto e de aplicação tão diversa!

Manuel Maria Barroso, quadro superior da Administração Pública

02 de outubro 2019 - 16:00

“Prioridade” é uma palavra (entre muitíssimas outras) que nos convida a pensar sobre a relação entre o seu significado e o respetivo “uso”. Esta palavra, que faz parte do nosso dia a dia, tem origem no termo latino priori, significando “anterior”, isto é, faz referência à anterioridade de algo relativamente a outra coisa, seja em termos de tempo ou de ordem. Aquilo ou aquele que tem prioridade encontra-se em primeiro em comparação com outras pessoas ou coisas. Também podemos dizer que a ideia de prioridade tem uma relação direta com a ideia de “opção”. De tal forma, parece existir alguma afinidade semântica ou correlação positiva nos significados destas palavras/conceitos.

Estas (palavras/conceitos) fazendo parte do nosso “intrínseco convívio” comportamental e de pensamento (individual e/ou coletivo) são igualmente “peças” do discurso técnico e científico ou do próprio universo constituído pelas mais diversas configurações da vida cultural, social, económica ou política. Assim, aproximando-se um novo período eleitoral, a reflexão sobre tal conceito (ou conceitos, se incluirmos aqui o conceito “opção”) parece ser pertinente. Com efeito, a menos de três meses dessas importantes decisões para o futuro coletivo e individual, e conhecida a baixíssima participação dos cidadãos em anteriores eleições, não tenho a menor dúvida de que refletir sobre o binómio “prioridade” – “opção” justifica algum tipo de atenção.

Está a chegar o tempo em que iremos assistir à generalização de discursos públicos inundados por estas palavras, seguramente acompanhadas por um outro vocábulo (expresso ou encoberto): “Promessas”! Todas estas… não deixam de ser mais outras fortes razões para tais elevados níveis de abstenção! A “prioridade”, podendo ser entendida, também, como uma estratégia de quem a define, está associada à vontade, em especial pelo sentido de utilidade no uso do tempo, do espaço, pertinência e exequibilidade. Porém, como se tem constatado, algumas “prioridades” não passam de meras cartilhas de intenções não concretizáveis ou com efeitos perversos. Importa discernir, por isso, aquilo que pode ter fundamento e exequibilidade face à demagogia gratuita e de tom meramente superficial.

 

Sem esquecer que tais “prioridades” não têm espaços geográficos delimitados, pois, como se sabe, são disseminadas para todo o território nacional, prefiro, nesta ocasião, dar enfoque ao que diz respeito ao nosso Baixo Alentejo e às nossas gentes. Desde as infraestruturas mais mediatizadas nos últimos tempos – e esse é “engodo” da propaganda gratuita – até às “prioridades” afins à melhoria das condições promotoras das condições de vidas das pessoas é preciso estar atento à substância.  Infelizmente, nem sempre a mensagem tem a substância que a propaganda emite, de forma “envernizadamente apelativa”. Sem qualquer tentativa de apresentar receitas para tal flagelo, não ouso em recomendar que se analisem as “prioridades” propostas, contrastando-as com algum tipo de perceção que tenhamos sobre o tempo, as circunstâncias, o modo ou a autoria de quem as apresenta. Parafraseando o adágio bem português: “Evitar consumir gato por lebre”!

 

A liberdade e a democracia não se coadunam com a perversão. Os processos eleitorais num Estado de Direito têm que ser entendidos como uma ação de dignidade suprema da verdade e da justiça.  Importa participar na vida cívica…. onde e como cada um/a entender! E, terminando… cada um/a de nós deve considerar que a mais importante e verdadeira prioridade que se aproxima é votar! Votar na “prioridade” que cada um/a entenda como a que mais se ajusta aos seus valores. O voto – essa magnífica conquista da democracia – é a mais celular condição de sermos cidadãos/ãs! O voto pertence a cada um/a de nós! O voto nunca poderá ser confundido com a perversão das “prioridades que não o são”, por completo vazio de substância.

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